Eu colho alguns tomates na horta e olho em volta, acho que dá pra eu plantar milhos no lado direito, já está na época para plantio, pego mais um tomate e dou risada.
- O que é tão engraçado?
- Está na época de plantar milhos.
Ele me olha confuso e concorda.
- Está sim, também está na época de plantar morango, você gosta deles devia plantar.
Eu concordo e pego um pimentão, vou até ele e o beijo.
- Você terminou?
- Terminei, quer ver?
Ele segura a minha mão e leva para casa, eu deixo a cesta ao lado da porta e vamos para o seu atelier, ele aponta e eu ando até o quadro, claro que está impressionante como sempre.
Nós estamos na casa, ou melhor, na fazenda há 15 anos, nos primeiros cinco anos conseguimos nos virar com o dinheiro que o Pran conseguiu com as suas jóias e com as coisas que eu planto, uma das vantagens de lembrar das outras vidas é o conhecimento, plantar era uma das coisas que eu fazia aqui na nossa última vida, então foi fácil me adaptar. Como apenas eu me preciso comer, não é necessário muita coisa para sobreviver, o Pran mesmo sendo um príncipe não é exigente, a única coisa qualidade que ele faz questão de comprar é o material de pintura.
Quando as jóias estavam acabando tivemos que pensar em outra fonte de renda, um dia eu fomos a cidade e tinha uma feira, olhando vários artesãos vendendo os seus produtos o Pran teve a ideia de vender os seus quadros, ele já tinha vários prontos, pois era o seu passatempo. Nós perguntamos como funcionava, os feirantes foram bem receptivos e nos incentivaram a trazer os quadros, porque era algo que ninguém mais vendia. Na primeira vez que fomos vendemos dois quadros, aos poucos os números foram aumentando e hoje em dia o Pran é bem conhecido e só faz quadros por encomenda.
- Está lindo!
Ele parece aliviado com a minha avaliação, não sei porque, eu sempre acho todos lindos.
- Quer que eu entregue pra você?
- Não, quer dizer, sim, mas eu vou junto, esse é o maior trabalho que recebi nos últimos 15 anos e o conde é um cliente em potencial, é melhor eu acompanhar a entrega caso ele queria que eu faça alguma alteração no retrato dele.
Eu não gosto muito que o Pran saia, apesar de terem se passado tantos anos eu ainda tenho medo que nos encontrem, principalmente o Wai, cada dia que passa eu sinto como se estivéssemos caminhando para o fim, nós prometemos que lutariamos contra a nossa sina, mas com o tempo deixamos isso pra lá, não fazer nada pareceu uma boa opção e foi essa escolha que nos permitiu viver tantos anos.
Estamos com 39 anos, mas paramos de envelhecer aos 25, na verdade continuamos envelhecendo, mas acontece tão lentamente que quase não é visível, principalmente o Pran que é um vampiro.
- No que você está pensando?
Ele se aproxima, segura o meu rosto e faz eu olhar nos seus olhos.
- Sobre como envelhecemos devagar, você tem a mesma cara que tinha quando era uma criança.
- Isso foi muito aleatório.
Eu dou risada e concordo.
- Vamos fazer algo nada aleatório?
Ele sorri e levanta uma sobrancelha.
- O que seria, Pat?
- Eu te alimento e depois você me alimenta.
- Isso soou estranho.
Eu repito na minha cabeça o que eu disse, então dou de ombros.
- O que importa é que você me entendeu.
- Então que tal eu te alimentar primeiro? Você sabe que não gosto de me alimentar sem você comer.
- Então faz algo rápido que eu quero transar antes de ir para a cidade.Nós chegamos na frente da casa do conde e eu já fico nervoso, ele é novo na cidade, é um estranho e eu não gosto de pessoas estranhas, principalmente as que se interessam pelo Pran.
Eu vou até ele solto o seu cabelo que cai emoldurando o seu rosto, pego a sua boina no carro e coloco nele.
- Pra que isso?
- Assim você fica com aquele ar de artista boêmio, super atraente, eu gosto.
- Quer que eu deixe a barba crescer também?
Eu dou risada e nego.
- Você já tentou isso, só saem alguns tufos aqui e ali, não fica bom.
- Você ri porque a sua barba é linda.
Ele passa a mão no meu rosto e sorri. Na verdade eu não faço muita questão de ter barba, no início foi mais pelo disfarce, mas o Pran gostou então sempre deixo ela crescer, mas não muito, apenas alguns dias sem cortar para agradar ele, quando me incomoda e tiro, fico mais alguns dias e assim estou mantendo nos últimos anos, o cabelo do Pran também é para disfarçar, acho que ninguém pensaria que um artista de rua é na verdade o Príncipe herdeiro.
Eu olho para o Pran e fico nervoso mais uma vez, porque ainda tem isso, o irmão mais velho do Pran morreu há cinco anos atrás em um ataque ao palácio, então até o rei nomear o Wai oficialmente o Pran é o príncipe herdeiro por direito. Se o Wai tentava matar o Pran antes apenas por estar na sua frente na fila, agora que o seu direito é incontestável ele deve estar louco para colocar as mãos nele. Claro que existem boatos de que o rei perdeu dois filhos, mas a demora para nomear um novo herdeiro deixou a todos confusos imaginando que o príncipe desaparecido está vivo em algum lugar.Nós entramos e eu coloco o quadro encostado na parede, a empregada pede para esperarmos e sai, pouco tempo depois o conde entra pela sala sorrindo.
- Malee, é sempre um prazer.
Quando chegamos aqui escolhemos usar os nomes das nossas primeiras vidas, então todos aqui nos conhecem por Malee e Niran, isso vai facilitar quando o nosso filho nascer e nos procurar.
- Conde Chian.
O Pran se curva de forma respeitosa, mas não a ponto de se rebaixar, ele pode não usar o seu título, mas ainda é o Príncipe Pran. O conde sorri e olha pra mim.
- O seu familiar sempre te acompanha?
- Eu não tenho um familiar, o Niran é meu marido.
O conde finge surpresa, mas não engana ninguém, em uma cidade como essa não existem segredos ou mal entendidos.
- É um prazer, Niran. Vocês estão juntos a muito tempo?
- Há séculos.
Ele me olha curioso, mesmo não envelhecendo se tivéssemos séculos de vida estaríamos aparentando ter pelo menos 30 anos.
- Não literalmente, apenas parece assim.
- Ah... Entendi. Sentem-se, por favor.
- Me desculpe, mas eu tenho outra entrega para fazer, infelizmente eu tenho que partir.
Ele olha para o Pran decepcionado e eu tenho vontade de arrancar um pedaço da sua garganta, vampiro incoveniente.
- Bom, então vamos ver como ficou.
Ele vai até o quadro e rasga o papel que o protege, dá varios passos para trás, coloca o polegar e o indicador segurando o queixo enquanto acena.
- Uma verdadeira obra prima, Malee.
O Pran se curva levemente mais uma vez e aponta para a porta.
- Espero que não se ofenda, mas nós temos que partir.
- É uma pena, mas espero te encontrar novamente, você também...
Ele olha para mim e tá na cara que ele sabe o meu nome e está me sacaneando. Eu apenas aceno e seguro a cintura do Pran, ato que foi observado pelo conde sem nenhum pudor.
- Tenha uma boa semana, conde.
- Você também, Malee.
Antes que eu arranque um pedaço do pescoço do idiota eu puxo o Pran para fora da casa.
Não existe outro quadro para entregar, mas o Pran sempre usa essa desculpa para não precisar ficar mais que o necessário, então sem nada mais para fazer nós entramos na caminhonete e vamos direto para casa.
- Você devia comprar uma caminhonete nova, essa aqui está fazendo hora extra.
- Eu gosto dela, é uma guerreira, está lutando um dia após o outro para sobreviver, então enquanto ela lutar eu vou ficar com ela, sem contar que foi um presente seu.
Ele sorri e segura a minha mão.
- Tenho que te dar novos presentes então.
- Eu não preciso disso, você é o meu presente, estarmos juntos é o meu presente, um dia o nosso filho vai voltar e será o meu presente. Isso é tudo o que eu preciso. E ela também reforça a nossa imagem de jovens sem dinheiro e descuidados.
- É verdade.
Ele sorri e me beija, quando se afasta eu olho para a frente e freio quase nos lançando para fora.
- O que foi isso, Pat?
Eu olho para a frente e me assusto.
- Tinha uma criança, eu juro!
Eu abro a porta e corro para fora, ouço a porta do Pran batendo e olho em volta, pode ser uma armadilha.
- Pat?
O Pran corre até a beira da estrada e se abaixa, quando me aproximo uma criança muito pequena e suja olha para nós.
- Vocês estão vivos!
Ela sorri e desmaia, o Pran me olha surpreso e sei que ele está pensando o mesmo que eu, pode ser o nosso filho.
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Puro Sangue
FanfictionEm meio a uma fuga para salvar suas vidas, Pat, um lobisomem e Pran, um vampiro puro sangue, são forçados a confrontar suas próprias naturezas e limites quando uma conexão proibida é estabelecida entre eles. Envolvidos em uma relação intensa e peri...