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Tudo está acontecendo muito rápido e isso me deixa preocupado, depois que o Wai se ajoelhou diante do Pran e perguntou como ele estava fazendo isso eu fiquei com medo que acontecesse o mesmo que antes quando viram o Pran usar a compulsão em um vampiro, mas antes que alguém percebesse alguma coisa o Pran falou para o Wai acompanhar os guardas para a prisão e não falar com ninguém, tenho certeza que os outros tiveram a mesma sensação esmagadora que eu quando o Pran mandou o Wai se submeter, queria saber o que pensam sobre isso.

Depois da prisão fomos para o palácio, estava curioso pra saber como o Pran me encontrou, mas a quantidade de guardas no caminho se destacava demais, era óbvio que estava acontecendo alguma coisa, odeio saber que ele se arriscou assim...

Estamos sentados no trono nesse momento, o que é muito estranho, eu queria ficar em pé, mas o Pran não deixou, disse que o meu lugar é ao seu lado. A nossa volta vários membros da corte esperam para ouvir o que ele tem a dizer. Queria poder ter alguns minutos para falar com ele ou pelo menos o abraçar e saber que ele está realmente bem, até agora não entendo como ele veio parar aqui, poderia até pensar que ele me seguiu se não fosse a sua surpresa quando me encontrou, então qual era o plano dele? Será que por isso ele me deixou partir sem contestar?

Uma porta lateral abre e a rainha aparece olhando para nós com cara de nojo, ela para na nossa frente e sem opção se curva em cumprimento, eu vou ter que ficar de olho nela, o seu favoritismo no Wai sempre foi evidente. Ela senta ao lado do Pran e a sua familiar fica em pé ao seu lado, ela sorri pra mim, mas parece nervosa, na verdade os poucos lobisomens a nossa volta são familiares e um ou outro empregado do castelo, todos tem o mesmo olhar ansioso.

O Pran finalmente se levanta e todos ficam em silêncio, ele caminha descendo alguns degraus, o meu corpo parece estar sendo puxado na sua direção enquanto o meu lobo luta para sair, mas sei que não é isso que ele quer, ele precisa fazer isso sozinho, então contra todos os meus instintos eu continuo sentado e fico atento as seus sentimentos.

- Quando soube sobre o falecimento do meu rei... Do meu pai... - Ele fica em silêncio e a sua dor me causa tontura, mesmo assim eu continuo conectado. - A morte dele foi a maior perda que tivemos em séculos! Como filho sempre sonhei que ele viveria para sempre, ou pelo menos o máximo de tempo que a vida de um vampiro pode durar... A sua morte prematura será investigada, assim como a do meu irmão antes dele.

Várias pessoas começam a comentar baixo sobre o que ele disse, nunca conversamos sobre isso, mas como cientista eu devia imaginar que o Pran não aceitaria que o pai simplesmente morreu.

- Nós vamos iniciar a cerimônia de coroação amanhã ao amanhecer, assim que assumir o trono eu quero uma assembleia com todos, lobisomens, vampiros e humanos. Nós vamos curar o que foi partido, vamos devolver a paz ao nosso lar.

Mais uma vez as pessoas comentam, mas ninguém tem coragem de se dirigir diretamente a ele, percebo que muitos estão comentando sobre o Pran ter citado os lobisomens antes dos vampiros, algo que eu nem tinha notado, mas para eles parece ofensivo.

- Com licença, majestade... - O Pran virá na direção do homem que o chamou. - O príncipe regente...

- O príncipe está preso e será julgado pelos seus crimes.

O desconforto de alguns vampiros é evidente, são na maioria vampiros elitistas que acreditam na superioridade na espécie, provavelmente preferem o sádico do Wai no trono. A mãe do Pran levanta sem dizer nada e vai embora, ele fica triste, mas não se vira para ver ela partir.

- Preparem tudo para a coroação.

O Pran finalmente vem até mim, o que me deixa aliviado, senta no trono e passamos a próxima hora cumprimentando os suditos que se aproximam um de cada vez para o saudar. Alguns não parecem satisfeitos com a sua volta, sempre que um desses se aproxima ele fica tenso, mas se mantém neutro e trata todos cordialmente. Quando finalmente o salão está vazio o Pran faz um sinal para o atual chefe da guarda, aquele vampiro que foi o primeiro a se ajoelhar mais cedo, eu só quero que tudo isso acabe para poder levar ele para um lugar seguro, se é que existe lugar seguro no palácio.

- O que aconteceu com a guarda real?

Tento me lembrar desse vampiro, mas nunca o vi antes, como ele conseguiu virar chefe da guarda?

- Ordenei que parte deles ficassem aqui, dois estão na prisão, os demais...

- Eu estou perguntando sobre a guarda que servia ao meu pai, onde eles estão?

O vampiro nesse momento está visivelmente contrariado, seja pelo Pran ter interrompido ou por ser questionado sobre a guarda do rei, que eram quase todos lobos.

- O príncipe regente decretou que apenas vampiros protegeram o palácio e que...

- Convoque todos, quero eles presentes durante a coroação.

- Mas senhor...

O vampiro encolhe quase dez centímetros sob o olhar colérico do Pran, então se curva e se afasta. Assim que ele sai eu levanto e seguro a mão do Pran, ajudo a de levantar e o abraço.

- O que você...

- Aqui não, Pat.

Ele beija o meu pescoço e dá um passo para trás, espero ele ir na direção do seu quarto, mas ao invés disso ele vai para a área de serviço, lugar que, até onde me lembro, ele nunca esteve antes. Quando entramos vários empregados se levantam assustados, então se curvam saudando, fico o mais próximo dele que consigo, não vou arriscar a sua segurança em meio a tantos vampiros e lobisomens.

- Desocupem toda a torre leste e preparem dois quartos.

Quase não consigo acreditar nisso, nós vamos dormir em quartos separados? Quer dizer, sei que o rei e a rainha tem cada um o seu quarto, mas nós... Nunca pensei em como seria o nosso relacionamento quando voltássemos ao palácio, sempre achei que nada mudaria.

A senhora Mei, uma loba que serve o palácio desde muito antes de nascermos se aproxima sorrindo e se curva.

- Alguma preferência para os seus aposentos, majestade?

- Apenas levem os pertences do meu antigo quarto.

- Sim, majestade! - Ela se curva mais uma vez e olha para mim. - E para os seus aposentos, senhor?

- Eu...

Eu não sei o que dizer, a única coisa que eu quero no meu quarto é o Pran.

- Ele ficará no mesmo quarto que eu.

Percebo que todos parecem confusos, mas o Pran não dá mais explicações, apenas vira e vai embora, eu corro até a senhora Mei e a abraço pegando ela de surpresa.

- Senti a sua falta, tia Mei, mais tarde eu venho para comer a sua torta.

Ela relaxa, me abraça e dá pequenos tapas nas minhas costas.

- Estou feliz que você esteja bem, meu pequeno.

Eu beijo o seu rosto, aceno para os outros e vou atrás do Pran, não vou deixar ele andando por aí sozinho, na verdade nunca mais saio de perto dele, a única vez que tentei ele veio parar aqui, está na hora de descobrir como isso aconteceu.

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