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Paro em um posto de gasolina e enquanto abastecem o meu carro eu entro em uma lanchonete, peço vários refrigerantes e sanduíches, não é bom para comer frio, mas é melhor do que batatas e salgadinhos. Sento em uma mesa esperando ficar pronto enquanto como uma torta de maçã, é muito boa, mas a do Pran é muito melhor. Eu confiro novamente pra ver como ele está, desde que saí ele tem me evitado, acho que não quer me deixar preocupado, ou melhor, mais preocupado estando longe, então só sinto o seu amor, por enquanto isso basta para eu saber que ele está bem, se alguma coisa acontecer eu vou sentir.

— Estou comendo uma torta de maçã, Pran, mas a sua é muito melhor.

— O senhor falou comigo?

Eu olho para a garçonete, sorrio e nego, ela se afasta e com uma cara estranha.

— Ótimo, agora a garçonete acha que eu sou louco.

Sinto a alegria dele e aproveito, esse é um sentimento raro.

A garçonete volta com um saco de papel cheio de sanduíches e a sua cara é praticamente um convite aberto para eu ir embora.

É o segundo dia de viagem, estou cada vez mais perto do reino, converso com o Pran o tempo todo para manter ele tranquilo, quero manter a nossa conexão o máximo tempo que puder.

— Estou no meio do nada e entediado, Pran, acho que vou encostar aqui e nós podemos brincar um pouco.

Ele fica excitado e eu sorrio.

— Porque você não faz enquanto eu dirijo? Vou gostar disso.

Imediatamente sou tomado por preocupação, mas passa rápido. Por um momento eu sinto apenas o seu amor, não sei o que pensar disso. Depois de uns cinco minutos eu sinto ele ficando excitado novamente, provavelmente ele estava pintando ou no laboratório.

Penso em continuar dirigindo, mas quanto mais tesão o Pran sente, mais dificuldade eu tenho para me concentrar na estrada, antes que capote o carro eu decido parar, olho em volta pra ver se tem alguém por perto, então abro a calça, seguro o meu pau e fecho os olhos.

— Espera por mim, Pran!

~•~

Entro nas fronteiras do reino e fico atento, a qualquer momento os guardas reais podem me ver, se precisar eu fujo, mas espero não ter que fazer, isso pode me atrasar muito.

Depois de quilômetros à dentro decido parar, acho uma casa abandonada, na verdade é uma das muitas casas abandonadas, o reino todo parece vazio e negligenciado, é como um cenário pós apocalíptico, muros e casas em ruínas, pichações de ódio e revolta por onde eu posso ver, lixo pelas ruas e ninguém a vista, vampiro, lobisomem ou humano.

— O que aconteceu?

Fico feliz que o Pran não esteja aqui para ver isso, ele ama o reino.

— Pran, você tem que ver a cidade, é linda... Cheia de vida, tem crianças pelas ruas, uma praça com um grande chafariz e muitas cores, parece um dos seus quadros.

Ele responde com alegria e preocupação, pois se eu estivesse mesmo na cidade não saberíamos o que esperar.

Entro em uma das casas e guardo o carro e saio de por trás, aproveito que as casas estão vazias e vou pulando de quintal em quintal, esse vai ser o jeito mais rápido e discreto de chegar no castelo.

Começa a escurecer quando estou a algumas quadras do castelo, como o Pran está ficando mais ansioso e impaciente com o meu silêncio eu paro em uma das residências para poder conversar com ele.

A casa está revirada, não sei quem morava aqui, mas se mudou deixando tudo para trás, provavelmente alguém entrou depois para roubar ou estavam procurando por algo. Paro na frente de uma parede de fotos e reconheço a mulher, era uma das vampiras que estudava artes com o Pran, uma das poucas aulas que fazíamos separados, como seu familiar eu tinha que estar onde ele estivesse. O que será que aconteceu com ela e com a sua família? Eu soube que a situação estava difícil para os lobisomens, será que os vampiros também estão sendo afetados?

Desisto de especular sobre algo que não terá resposta tão cedo e vou para o andar de cima, abro uma porta e encontro um quarto, mas está muito bagunçado, abro outra porta e é outro quarto, mas esse é de uma criança, está bem organizado, provavelmente não acharam que teria algo interessante aqui, por isso não mexeram nele. Fecho a porta e deito na cama.

— Pran? — O alívio dele é imediato. — Encontrei uma casa abandonada, vou ficar aqui essa noite.

Ela fica muito mais calmo, imagino quanto devia estar preocupado, sem a nossa conexão para saber que ele está bem não sei se eu teria forças suficiente para me afastar.

Espero o Pran dormir, mas apesar de estar calmo quase duas horas se passam e nada, como os últimos sanduíches e bebo o meu refrigerante, deito novamente e espero. Fico falando sobre coisas aleatórias para tentar distrair o Pran, talvez o tédio o ajude a dormir. Mais uma vez horas se passam e ele continua acordado, quando o relógio bate  duas da manhã sei que não posso esperar mais, então ignoro o nervosismo e tento falar com calma.

— Pran, acho que eu vou dormir...

Sinto o seu amor me atingindo com força, apesar da tontura deixo ele vir e o acolho, sei que tudo pode dar errado, mas o Pran é o motivo para eu continuar, porque um dia há décadas atrás eu jurei proteger o seu amor, proteger ele, depois dessa noite ele estará seguro e poderá voltar para a casa, para onde pertence.

— Eu te amo, Pran! Logo estaremos juntos.

Mesmo não querendo eu o bloqueio e levanto, pego a chave do carro ao lado da cama, desço a escada e olho em volta mais ia vez, queria saber o que aconteceu com a família...

De repente eu sinto uma pancada forte na cabeça e apago sem conseguir ver quem me atingiu.

Acordo e a primeira coisa que eu sinto é a preocupação do Pran. Vejo pessoas na minha frente, mas os meus olhos estão fora de foco pela tontura então não consigo saber quem são, chacoalho a cabeça algumas vezes e olho para a frente mais uma vez.

— Quando contaram eu não acreditei, mas é você mesmo, o cachorrinho de estimação do meu irmão!

Tento me mover, mas estou com as mãos presas com algemas e uma corda amarrada no meu pescoço, talvez se eu me transformar rápido eu...

— Ele está aqui? O meu querido irmão está aqui? Eu quero dar um abraço nele...

Ele levanta uma faca e sorri olhando para ela deixando claro a sua verdadeira intenção, eu juro que vou matar esse idiota antes que ele consiga sair dessa casa!

— Me conta, cachorrinho, onde aquele bastardo se escondeu? Eu vou arrancar a sua cabeça e pendurar na porta do castelo para que todos saibam quem é o verdadeiro rei.

Continuo em silêncio e ele se aproxima apontando a faca pra mim, quando enfia ela no meu ombro eu tento me controlar para não gritar, espero ele chegar perto o bastante  e dou uma cabeçada quebrando o seu nariz, ele se afasta surpreso e sangrando, mesmo sufocando pela corda presa no meu pescoço eu sorrio.

— Vai se foder, Wai!

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