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Sinto o Pran muito tenso antes mesmo de acordar, vejo ele sentado olhando para a porta e sento ficando alerta, levo alguns segundos pra conseguir entender o que o Isaac está dizendo, porque está falando muito rápido e parece cansado.

— A loba! Eles querem a loba! Vocês tem que partir! Não temos tempo!

Eu levanto já pegando a minha roupa no chão e vestindo, enquanto pergunto.

— Calma, garoto, o que aconteceu?

— Eu estava na casa do tio Paul, eles o prenderam lá, ele não pode sair pra nada, então eu fui ver como ele está, foi quando chegaram e ele pediu pra eu me esconder. Pegaram ele e o tio All, aquele conselheiro marrento disse que precisam do tio All vivo e fora do caminho, e que a loba quebrou as regras então vão pegar ela. Vocês precisam ir embora agora, não sei quanto tempo temos até chegarem aqui.

Ele para de falar sem fôlego e eu olho para o Pran que já está se vestindo.

— Pega a Claire, Pat!

Eu concordo e corro para o quarto da nossa filha, mas ela não está, o Isaac desce comigo e ajuda a procurar pela casa, mas a Claire não está em lugar nenhum, quando o Pran aparece na escada fica ansioso apenas olhando pra mim, pois sabe que tem coisa errada. Ele desce correndo, esconde uma bolsa em um canto e abre a porta.

— Onde está a princesa?

O guarda mais próximo primeiro se curva, então responde.

— A loba... Hmm... A princesa está no templo.

O Pran dá o primeiro passo para fora, mas o Isaac segura o seu braço surpreendendo a todos nós, então fala baixo.

— Não dá tempo, vocês precisam ir, eu vou atrás da loba.

Sinto a irritação do Pran e vou até eles antes que o garoto perca a mão.

— Nos encontre na saída do túnel.

Ele concorda e antes de chegar no guarda já virou um lobo, o garoto tem talento. O Pran me olha irritado, mas eu apenas seguro a sua mão e fecho a porta.

— Ele está certo, se formos chamaremos atenção e teremos vários guardas nos seguindo. — Olho para a bolsa e suspiro. — Sei que você quer levar as nossas coisas, mas isso também só vai nos entregar, vamos levar as jóias e algum dinheiro.

Ele sabe que estou certo, mas isso não o ajuda a se acalmar, eu vou até a bolsa e começo a mexer, mas eu não entendo muito disso, não demora muito o Pran se abaixa ao meu lado e pega vários anéis, o que faz muito sentido, já que se eu me tiver que me transformar ele terá que carregar tudo sozinho. Nós vamos até a porta, eu seguro o Pran e o abraço.

— Se precisar foge, não me espera, apenas corre o máximo que puder, eu te encontro.

— Pat, não...

— Por favor, eu preciso de você bem, preciso de você seguro.

— Eu não vou te deixar para trás!

Sinto uma determinação que conheço muito bem, eu não vou conseguir fazer ele mudar de ideia, então é melhor que isso não vire uma luta. Eu o beijo, quando me afasto seguro a sua mão e abro a porta.

Nós saímos devagar como se estivéssemos apenas caminhando e os guardas vão se curvando pelo caminho, desde o início eu estranhei a quantidade de guardas que ficam perto da nossa casa, agora começo a pensar que talvez eles não estejam aqui para proteger o Pran.

O Pran para de repente e fala pra eles.

— Se alguém nos procurar informem que fomos a montanha, não nos sigam, quero ter um pouco de privacidade com o meu marido.

Pelo olhar constrangido de muitos acho que eles entenderam o que o Pran quis dizer.

Falar que vamos para a montanha foi uma boa ideia, assim ninguém vai desconfiar por estarmos indo naquela direção, a minha vontade é pegar o Pran e correr, mas continuamos andando com calma.

Estou olhando para o Pran atento a qualquer mudança de humor, quando vem me atinge com força, medo e raiva. Tento me concentrar, o bloqueio e olho para frente, vejo muitos guardas bloqueando o túnel, já estavam esperando por nós.

Sinto um tremor subindo pela minha coluna e sei que o meu lobo quer assumir o controle, mas ainda é cedo demais, precisamos chegar mais perto para o Pran ter chance de entrar no túnel enquanto eu distraio os outros. Seguro a mão dele  e continuamos, estamos cada vez mais perto, sete metros, cinco, três, quando estamos a mais ou menos dois metros paramos, solto a mão do Pran e dou um passo na sua direção ficando perto o suficiente para impedir que se aproximem, ele está muito tenso, mesmo bloqueando eu consigo sentir.

— Majestade!

Para a minha surpresa todos os guardas se ajoelham com a mão no peito, o primeiro a se levantar está mais próximo de nós, levo alguns segundos para reconhecer o antigo chefe da guarda.

— Eu sinto muito, majestade, mas precisamos tirar vocês do santuário, o conselho está se preparando para prender vocês.

Eu sei que devia ficar feliz ou pelo menos aliviado, mas para mim isso parece muito suspeito. Olho em volta e tento contar, deve ter pelo menos trinta soldados aqui, seria bom demais se eles estivessem aqui para ajudar, mas...

— Porque eu confiaria em vocês?

O Pran coloca a minha dúvida em palavras e o antigo chefe da guarda dá um passo na nossa direção, entro na frente do Pran e o guarda para, mostra um papel que eu pego e entrego para o Pran.

— Quando prenderam o Paul em casa o príncipe All sabia que o conselho tentaria alguma coisa, então ele me deu essa carta, pediu para eu recrutar guardas de confiança e ficar atento com movimentos suspeitos do conselho, assim que prenderam o príncipe essa manhã eu sabia que era hora de agir.

— Porque eles estão fazendo isso?

O chefe da guarda fica em silêncio por um momento, espero ele falar sobre a Claire, mas a sua resposta me surpreende pela sinceridade.

— Não querem o senhor como rei, eles não conseguem te controlar e...

Ele para de falar e os outros guardas levantam as armas.

— Precisamos ir agora, majestade, não temos mais tempo!

Olho para trás e vejo muitos guardas correndo na nossa direção, seguro a mão do Pran e tento correr, mas ele não permite.

— Precisamos achar a Claire.

Merda! Penso no que fazer quando os guardas na frente do túnel fazem um círculo de proteção a nossa volta.

— Não vamos conseguir chegar no templo, Pran, o Issac vai ajudar ela a sair daqui.

Sei que não estou sendo convincente, mas nesse momento a vida do Pran está em risco, preciso tirar ele daqui, a Claire é astuta, não vão pegar ela com facilidade, eu tenho que acreditar nisso, porque senão as duas pessoas mais importantes da minha vida estarão em perigo e eu não conseguirei proteger nenhuma delas.

Ouvimos um tiro que assusta a todos, o chefe da guarda começa a gritar ordens e os guardas caminham para o túnel nos obrigando a ir junto, quando entramos nele vários tiros são disparados, sem outra alternativa nós começamos a correr.

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