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Entramos em casa e eu tranco as portas, vou até às janelas, fecho as cortinas e olho para o Pran que continua esquisito, pelo menos os seus olhos voltaram ao normal, mas o choque pelo que acabou de acontecer ainda não passou.

— Como você está?

Eu abro a nossa conexão para poder sentir melhor, ele parece confuso e está preocupado, eu também estou, já não tenho certeza que aqui é um lugar seguro, não com os guardas com medo dele, principalmente se acabarem decidindo que ele é uma ameaça.

Vou até o Pran e o abraço, não vou deixar ele mas ansioso com as minhas preocupações, então tento relaxar para tentar o acalmar.

— Você se saiu bem, meu amor, fez o que tinha que fazer.

— Eu não devia ter feito aquilo com aquele vampiro, Pat, além de ser impossível é muito errado.

— É mesmo?

— Pat!

Eu suspiro e me afasto.

— Nós nunca fomos normais, Pran, toda essa história de profecias, reencarnação, fim da guerra... Acho que o que somos faz parte da nossa sina, como todas as coisas que ninguém consegue explicar, a nossa conexão que é muito mais forte que a dos outros, dos dois lados e provavelmente tem muito mais coisas que ainda não sabemos porque simplesmente escolhemos viver uma vida comum.

Ele fica me encarando e sei que está considerando isso.

— Não teve um cara que falou algo sobre grandes poderes trazem grandes responsabilidades? É isso, o importante não é o que você pode fazer, mas o que você faz com o seu poder, é isso que te define.

Sinto o seu humor oscilando, então ele sorri, fico aliviado quando ele começa a se acalmar eu o abraço mais uma vez.

— O que você acha de nós darmos uma volta? Essa noite tem lua cheia.

Antes mesmo de responder o Pran fica excitado, eu o beijo, corro para o quarto, pego algumas coisas que preciso e volto pra sala.

— Você quer ir agora?

— Sim, vamos aproveitar ao máximo, eles já fizeram a ronda, então a floresta é segura.

Ele passeia em uma montanha russa de emoções, fica excitado, animado, preocupado, nervoso e volta a ficar animado, depois de quase dois minutos concorda e eu seguro a sua mão.

Abrimos a porta e vários olhos apontam na nossa direção, depois de alguns segundos os guardas se curvam e o chefe da guarda se aproxima, nada parece natural, parecem movimentos ensaiados, sei lá.

— Precisa de alguma coisa, majestade?

— Não, está tudo bem, nós só vamos dar uma volta.

— Eu não recomendo, senhor, não é seguro.

— Nós não vamos longe, a qualquer sinal de perigo retornamos.

— Mas...

— É noite de lua cheia Igor.

Eu pisco e o chefe da guarda fica constrangido, ele é um lobisomem, sabe o que isso significa, então nos deixa partir sem questionar.

Nós saimos com calma e caminhamos na direção da floresta, depois que quase dois quilometros quanto tenho certeza que ninguém está nos seguindo eu viro para outra direção e caminho o mais rápido que consigo.

— Pat, o que você está fazendo?

— Te tirando daqui até ter certeza que é seguro.

— O que?

Ele para me obrigando a parar também.

— Nem fodendo que eu vou deixar você perto daqueles caras, Pran!

— O que aconteceu com as história de grandes poderes?

— Isso vale para você, mas eu não confio naqueles caras. É só até sabermos que é seguro, então você pode voltar.

— Você está exagerando, Pat.

— Eu espero que sim, mas é assim que vai ser por enquanto.

Antes que ele tente discutir eu volto a andar, chegamos em uma estrada e seguimos por ela, depois de quase uma hora o primeiro carro passa, eu faço sinal e para a nossa sorte ele para, quando o cara está abaixando a janela eu falo baixo.

— Fala para ele nos levar para onde estiver indo.

O Pran suspira e abaixa.

— Você acabou de encontrar um casal de idosos com sacos de chás voltando da colheita e quer dar uma carona para eles que parecem cansados.

— Vocês querem uma carona?

— Eu ficaria grato.

O Pran abre a porta e faz um sinal para eu entrar, mas eu faço ele entrar primeiro, assim o motorista não vai ficar olhando para ele e se alguém passar por nós será mais difícil de ver dentro do carro.

O motorista é um senhor simpático, deve estar na casa dos quarenta, como é humano a sua aparência acompanha a idade, está começando a ficar careca, tem algumas rugas e a sua fala apesar de animada parece cansada, o mundo não é um lugar facil para os humanos.

Chegamos na cidade muito mais rápido do que eu imaginei, o Pran pede para o homem não esquecer dos velhinhos simpáticos que ele deu carona e nos despedimos.

— E agora, Pat?

Eu pego os anéis no bolso e mostro pra ele.

— Vamos achar um lugar para vender isso, depois vamos para casa.

Apesar de surpreso o Pran não questiona, o fato dele estar deixando eu decidir o que fazer só me faz ter mais certeza de que essa é a coisa certa, ele mesmo não tem confiança de que caminho seguir nesse momento, o que aconteceu mais cedo foi algo inesperado, não dá pra saber o que os guardas farão, nem o que ele precisa fazer.

O Pran entra em uma loja de penhores e eu fico do lado de fora para conferir a área, apesar de parecer seguro não quero me arriscar, quando ele sai vamos até uma loja de carros usados que o dono da loja de penhores indicou, compramos o carro mais barato que vai aguentar a viagem e muitos lanches para eu comer no caminho, o Pran compra bonés, óculos e roupas para nós, e assim que temos tudo o que precisamos partimos.

Sei que essa decisão vai atrasar bastante os planos do Pran, mas pelo menos ele estará seguro por enquanto.

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