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Eu entro na caminhonete, o Pran vem até a janela com a Claire e os dois me olham preocupados.
- Acho melhor eu ir com você, Pat.
- Eu vou ficar bem, você sabe que ir para outra cidade é arriscado demais. Fica com a Claire e faz um jantar gostoso pra mim.
Ele suspira, concorda e me beija.
- Volta logo!
- O mais rápido que eu puder!
Eles se afastam e eu ligo o carro, a preocupação do Pran aumenta, eu tento afastar os seus sentimentos, mas não bloqueio, preciso saber como ele está o tempo todo.

Chego na cidade e coloco um óculos, vou até o local que marquei o encontro com o Book, me aproximo do chafariz que fica no meio da praça e olho no relógio, quando dá 11:35 eu pego uma moeda e jogo na água, é assim que ele vai saber quem eu sou, me afasto e vou até o banco que fica na frente do chafariz.
- Pran, eu já cheguei, estou esperando o advogado.
Ele fica aliviado, devia ter conversado mais com ele, nem pensei nisso, nós nunca ficamos longe um do outro, então nunca precisamos usar essa comunicação.
- Estou com saudades, quando eu chegar em casa nós vamos tomar banho juntos.
Fecho os olhos e sinto enquanto o seu tesão aumenta, esse é o meu vampiro que está sempre no cio.
- Com licença, o senhor está bem?
Eu afasto os sentimentos do Pran e abro os olhos.
- Ah, Senhor Book, que bom revê-lo!
Ele fica surpreso, dá um passo para trás e olha em volta.
- Nós nos conhecemos?
Merda, não, não nos conhecemos, não nessa vida, que bola fora.
- Ah, não, me desculpe, eu fui pego de surpresa. É um prazer conhecê-lo.
Ele olha para a minha mão desconfiado, mas aperta mesmo assim.
- Posso saber como você soube sobre o meu trabalho?
- Você fez os mesmos documentos que eu preciso para um velho amigo, o seu nome era Myung.
- Myung?
- Há quase cem anos, ele tinha dez anos, os pais eram um casal, lobo e vampira.
- Eu lembro deles, não é sempre que encontramos um casal tão peculiar. Você os conheceu?
Eu penso em como responder, falar que os conheço ajudaria a ganhar confiança, a não ser que ele saiba que os dois morreram.
- O Myung me contou que eles faleceram alguns anos depois de adorarem ele.
- Eu sinto muito!
Ele não parece surpreso, vou ter que tomar cuidado com ele, pelo jeito é uma cobra traiçoeira.
- E a criança?
- Faleceu há 15 anos, morte natural.
Dessa vez ele parece realmente surpreso.
- Mas você disse que ele que falou sobre mim.
- Foi quando ele me contou sobre a sua história.
- Entendo. Você disse que precisa dos mesmos documentos?
- Sim, nós acolhemos uma criança que estava nas ruas, ela não lembra dos pais, investigamos e não existem crianças desaparecidas com as características dela, o que nos fez acreditar que ela foi abandonada.
- E porque vocês não entram com um pedido oficial para adoção?
- Como você disse? Ah, sim,  nós somos um casal peculiar.
- Lobo e vampira também?
- Lobo e vampiro, o meu marido é um vampiro.
Ele não parece surpreso com isso, nesse ramo ele já deve ter visto de tudo um pouco, então mesmo o que é incomum não tem tanto impacto.
Eu pego a foto da Claire e entrego para ele.
- Nome?
- Aqui, na verdade eu preciso desses documentos com esses nomes.
- Claire, certidão de nascimento e documentos de adoção, Niran e Malee identidades? Você e o seu marido vão mudar de nome?
- Apenas o sobre nome, como você deve imaginar o nosso relacionamento não foi bem aceito, então vamos cortar todos os laços com as nossas famílias.
- Criados?
- Sim, os dois.
- Quando nasceram?
- Eu fui criado há vinte anos, o Malee há setenta.
- Ok, quer adicionar informações como data de nascimento e nome dos pais?
- Não, qualquer coisa aleatória serve.
Ele anota um número em um papel e me dá.
- Me encontre nesse mesmo local com esse valor em espécie em três dias.
- Sem problema.
Na verdade tem problema, um problema de milhões, mas é melhor não comentar. Ele guarda o papel com os nomes no bolso.
- Eu sinto muito pelo falecimento do seu amigo.
- Obrigado!
Ele coloca um chapéu e vai embora, pelo menos não está tão assustador como era antes, acho que é o cabelo, antes devia ter uns 40cm ou mais, como ele é preto deixava ele muito pálido e ele gostava de batom, agora está com cabelo curto e não usa maquiagem.
Eu dou risada da lembrança e levanto.
- Já acabei aqui, Pran, estou voltando.
Ele fica aliviado e feliz, acho melhor deixar para dar as más notícias quando chegar.
Passo no mercado e compro algumas coisas para a Claire e vou para a casa.

Quando estou entrando na cidade o Pran fica ansioso, eu me concentro, ele parece surpreso, mas não nervoso.
- Pran, está tudo bem?
Eu espero e ele fica alegre, eu lembro que alegre é para sim, mas não quero arriscar, então acelero.
Chego na fazenda e tem um carro parado no portão, como eu não consigo entrar saio da caminhonete e corro para dentro, quando entro o Pran levanta e me olha aliviado.
- Papai!
A Claire corre e eu pego ela no colo, ela se aproxima e fala muito baixo.
- Não gosto desse homem.
- Nem eu.
Eu ando até eles e beijo o Pran, só então eu viro e olho para o conde.
- Que coincidência recebermos visitas no dia que eu não estou em casa.
O conde que não parece muito feliz com a minha chegada estende a mão.
- É sempre um prazer...
Ele mais uma vez finge que esqueceu o meu nome, mas eu não estou com saco pra isso hoje.
- Queria poder dizer o mesmo.
A Claire dá risada e o Pran fica um pouco irritado, eu solto a mão do conde, mas não viro para o Pran, melhor ele achar que não sei que ele não gostou disso.
- Posso saber o motivo da visita indesejada?
O conde me olha surpreso, então disfarça.
- Eu quero encomendar uma nova pintura, é um presente.
O Pran já está perdendo a paciência, então eu acho melhor parar por aqui, sem dizer mais nada para o conde eu coloco a Claire no chão, viro e beijo o Pran.
- Eu vou levar ela para tomar banho.
- Tudo bem, eu já subo.
Pelo menos a impaciência dele não é direcionada para mim, eu seguro a mão da Claire e faço um sinal.
- Se despede da visita, Claire.
- Eu preciso mesmo?
Eu seguro para não rir, o Pran se abaixa e fala alguma coisa no ouvido dela, ela solta a minha mão e junta as duas mãos na frente da barriga e se curva.
- Obrigada pela visita, espero que volte para a casa em segurança.
Dessa vez eu não aguento, dou risada, mas disfarço com uma tosse, provavelmente o Pran veio com a história de ser uma princesa para o lado dela novamente.
- Muito obrigado, querida.
A Claire faz uma cara azeda, então olha para o Pran.
- Eu ainda não terminei a lição sobre o Princípio de  Heisenberg.
- Depois do banho você faz.
Ela concorda e segura a minha mão, eu aceno para o conde e subimos.
- Física quântica?
- Ela é inteligente.
- Eu percebi. Não sabia que vocês tinham uma filha.
- Nós a adotamos recentemente. Você disse que quer fazer uma encomenda.
Eles continuam conversando sobre o quadro e nós entramos no quarto.
- Vai tomar banho, quer que eu separe a sua roupa?
- Só se não for roupa de princesa.
Eu sorrio e concordo.
- Vou pegar um pijama pra você.

Quando eu estou terminando de vestir a Claire eu ouço o Pran se despedindo do Conde.
- Fica aqui, tudo bem?
Ela concorda e eu desço, o Pran olha para mim e eu abraço a sua cintura.
- A Claire está te chamando, vai lá que eu levo o conde, tenho que recolher a caminhonete.
- Tudo bem. Conde, obrigado pela visita, assim que estiver pronto eu levo o quadro para você.
- Obrigado, Malee, é sempre um prazer.
Dessa vez ele parece estar falando a verdade. O Pran se curva levemente para se despedir e me beija, quando sobe a escada eu aponto para a porta.
Nós saímos e andamos até o portão que fica distante da casa, quando estamos chegando o conde olha para mim.
- Você não gosta de mim.
- Não, não gosto.
- Gosto da sua sinceridade.
Eu não digo nada e continuamos em silêncio.
- Porque adotar uma criança?
- Eu queria ter um filho, coisa de lobo, você não entenderia.
- Mas uma humana?
- Somos um lobo e um vampiro, porque não um humano?
- Vocês são diferentes.
- Já me disseram algo assim hoje.
- É verdade, o normal seria um vampiro se relacionando com outro vampiro.
- Azar o seu.
- Porque você diz isso?
- Porque o Malee não pensa assim, ele me ama e nunca vai olhar para você duas vezes, porque ele só tem olhos para mim.
- Tem certeza?
- Eu tenho e você também, então vamos evitar esses encontros desconfortáveis a partir de agora.
- Eu sou um cliente.
- Acho que está na hora do Malee se aposentar.
Ele para na frente do seu carro e olha para mim.
- Você faria ele parar de trabalhar por ciúmes?
Eu dou risada e nego.
- O Malee não faz nada que não queira, se ele decidir parar vai ser por escolha própria e porque algo está deixando ele insatisfeito com o trabalho.
- Você parece um lobo marcando território.
- Se eu estivesse marcando território você já teria perdido a cabeça, afinal ele é meu parceiro e se você não percebeu eu sou o amor dele, então não perca o seu tempo porque vampiros...
- Só amam uma vez.
Eu sorrio e concordo.
- Foi uma ótima conversa, agora se puder tirar o seu carro.
Ele me olha levemente irritado e entra no carro, quando sai eu suspiro.
- Babaca arrogante!
Ouço o Pran rindo, de repente ele me abraça.
- Gosto de você com ciúmes.
- Está aí há muito tempo?
- Não muito, mas você realmente parecia estar marcando território.
- Eu sou um lobo, é o que fazemos.
Ele ri e beija o meu pescoço.
- Vamos entrar, você tem que me contar como foi com o advogado.
- Podemos entrar e fazer outra coisa.
- Não até a Claire dormir, Pat.
- Então vamos nadar no lago depois que ela dormir? É noite de lua cheia.
- Adoro como o seu lobo assume o controle na lua cheia!
A minha coluna treme e ele sorri, ele sentiu isso, sabe que o meu lobo gostou do que ele disse.
- Vamos fazer isso, Pat, eu quero ouvir você uivando para a lua!

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