Levou apenas alguns minutos para eu me arrepender por quebrar o nariz do Wai, depois do choque inicial ele chamou o médico real que colocou o nariz dele no lugar e trouxeram uma garota, na verdade era uma criança, não devia ter mais do que quinze anos, ele bebeu o seu sangue até ela morrer nos seus braços, depois jogou o corpo em um canto como se não fosse nada. Não posso deixar de me sentir culpado, afinal ele se alimentou para se curar mais rápido.
Ele vem limpando o sangue que cobre metade do seu rosto, é absolutamente nojento, vivi anos com o Pran, ele se alimentou de mim em diversas situações, mesmo morrendo de fome ou na loucura do sexo ele nunca fez nada parecido.
Tento me mover mais uma vez, mas além da corda que agora aperta o meu pescoço, a faca que o Wai deixou no meu ombro começa a incomodar, o meu corpo está tentando se curar, mas a faca não deixa.
— Como vocês conseguiram se esconder por tanto tempo? Eu procurei debaixo de cada pedra desse reino. Por um tempo eu achei que ele estava morto, mas quando o meu pai se recusou me dar a coroa mesmo no seu leito de morte eu soube que tinha coisa errada, ele sabia de algo, sabia onde vocês estavam, não sabia?
Ele não espera uma resposta, puxa a faca do meu ombro e continua falando coisas aleatórias, o que quer fazer se encontrar o Pran, sobre o pai, sobre o seu reino perfeito onde a soberania será como nunca se viu igual, muitas coisas não passam de delírios de alguém insano e raiva reprimida, ele não sabe, mas são séculos de raiva reprimida.
— Agora você, aonde está o meu irmão?
— Você gosta de ouvir a sua própria voz, Wai? Sério, porque eu acho que ninguém gosta.
— O MEU IRMÃO, CACHORRO!
Ele realmente não está batendo bem da cabeça, isso é evidente, prefiro morrer mil vezes antes de deixar ele chegar perto do Pran.
— Acho que o problema é você todo, não só a sua voz, você é um vampiro, mas é muito feio, tem uma cara meio infantil e um corpo desproporcional, aposto que tem o pau pequeno, é isso não é? O trono é um tipo de compensação pelo palito de dentes que você tem no meio das pernas.
Ok, talvez eu tenha exagerado, mas sério que ele se ofende com tão pouco? O cara é ridículo! Fico ouvindo ele falar mais palavrões do que já devo ter escutado na vida, esbravejando enquanto sacode aquela faca, queria muito ver ele cortando um dedo por acidente.
— Você tem a língua grande, o meu irmão não te adestrou? E se eu arrancar a sua língua ou as suas presas e dar de presente pra ele? Não, não, não vai adiantar, eu não vou conseguir entregar para o Pran... Mas eu poderia arrancar mesmo assim... Talvez você não consiga falar, mas acho que não vai falar de qualquer jeito. Que tal isso? Posso arrancar o seu rabo ou cortar a sua cabeça e colocar na parede.
— Porque você não me dá um tiro? Morrer é muito melhor do que continuar te ouvindo.
Ele para de andar, me olha muito irritado, mas eu me mantenho firme, se ele vai me matar agora eu não vou demonstrar medo, talvez eu até consiga levar ele comigo. Me preparo para usar as minhas pernas se ele atacar, mas de repente eu sou puxado para trás, a corda no meu pescoço aperta mais e alguém chuta a minha perna me fazendo cair de joelhos. O Wai vai até um canto e mexe em alguma coisa enquanto fala.
— Quer saber como o Natan morreu?
Tento não reagir, mas lembro do All contando que o Wai obrigou o seu familiar a se transformar, caçou e matou ele.
— Nós estávamos brincando, mas ele não foi rápido o bastante e a brincadeira acabou muito rápido. Você é veloz, não é? O meu pai falava que você era o lobo mais habilidoso da sua geração.
Quem está segurando a corda puxa ela um pouco mais e eu começo a sufocar. O Wai vira com um arco na mão, pega uma flecha e olha para a ponta dela.
— Se transforma, cachorro, nós vamos brincar.
Esse cara não pode estar falando sério!
A corda no meu pescoço continua apertando e os meus pulmões reclamam pela falta de ar, sinto uma pressão forte na cabeça que parece que ela vai explodir. Tento não perder o foco apesar disso, pois nesse momento uma flecha está apontada diretamente para mim.
— Não vai ser tão divertido se você não se transformar.
Mesmo dizendo isso ele solta a flecha me dando poucos segundos para reagir, jogo o meu corpo para o lado sendo detido pela corda, mas consegui desviar, ouço um grito e o aperto da corda alivia me deixando respirar, a flecha deve ter acertado quem estava atrás de mim. O Wai pega outra flecha e aponta pra mim, agora sem a pessoa puxando a corda fica mais fácil me mover, então assim que a próxima flecha é atirada eu consigo desviar facilmente, o problema é que isso parece deixar o Wai animado, ele faz um sinal e um vampiro se aproxima com uma aljava, com um sorriso sádico no rosto o Wai atira uma sequência de flechas não deixando tempo para eu me preparar, quando pega a última flecha e mira em mim sei que alguma coisa mudou, ele não está mais sorrindo.
— Você tem que ficar parado agora.
A corda pressiona o meu pescoço mais uma vez e dois vampiros surgem, um de cada lado, segurando os meus braços, tento me mover, mas eles não permitem. Olho para o Wai e sei que dessa vez ele não está brincando, ele vai me matar. Espero que a minha morte acabe com a nossa sina e o Pran possa viver uma longa vida com a nossa filha.
Eu respiro fundo e fecho os olhos, se esse é o fim não é o rosto o Wai que eu quero ver. Imagino o rosto lindo do Pran, me concentro nele e abro a nossa conexão, ele está preocupado, muito preocupado, não deve ser fácil pra ele ficar distante, assim como não é fácil para mim, queria poder dizer isso pessoalmente, mas fico feliz por poder dizer mesmo assim.
— Eu te amo, Pran!
O seu amor me preenche e isso é tudo o que importa, agora eu posso morrer.
Espero pela morte, mas ela não vem, ouço um grito e quando me soltam eu abro os olhos, o Wai parece surpreso e os homens que estavam me segurando estão caídos no chão, para a minha surpresa o Pran surge na minha frente segurando o meu rosto.
— Pat, olha pra mim! Você está bem? O que você está fazendo aqui?
Como assim o que eu estou fazendo aqui? O que ele está fazendo aqui?
O Wai se recupera da surpresa e aponta a flecha para nós, eu tento empurrar o Pran usando o meu corpo, mas ele me segura e vira de costas pra mim.
— Pare!
A sua voz soa firme e essa simples palavra parece penetrar em cada célula do meu corpo, a mão do Wai treme e posso ver a incredulidade no seu olhar. Vários homens entram vindo na nossa direção, mas quando vêem o Pran param. O Pran vira para eles com aquele ar soberano e dá um passo se afastando de mim, tento ir até ele, mas a corda me detém.
— Ajoelhem-se diante do seu rei!
Os homens parecem perdidos, um que está a frente olha para o Wai e para o Pran, ele parece o líder do grupo, será que a guarda real se resume a isso agora? Homens sem postura ou preparo, precisando de orientação para coisas simples. Finalmente o homem na frente ajoelha e os outros o seguem, percebo que muitos estão observando o Wai que continua na mesma posição apontando a flecha para mim. O Pran vem até mim e com cuidado desata o nó da corda no meu pescoço deixando eu respirar novamente, toca a marca que a algema fez na minha mão e parece furioso de repente.
— Eu estou bem, Pran, estou bem!
Ele me ignora e vira, anda até o Wai arrancando o arco da sua mão, quando fala com o irmão eu sinto cada pêlo do meu corpo se arrepiar e uma força esmagadora parece me impulsionar para baixo.
— Submeta-se!

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Puro Sangue
FanfictionEm meio a uma fuga para salvar suas vidas, Pat, um lobisomem e Pran, um vampiro puro sangue, são forçados a confrontar suas próprias naturezas e limites quando uma conexão proibida é estabelecida entre eles. Envolvidos em uma relação intensa e peri...