12 - 1978 e a mesa

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Quarta feira, 25 de janeiro, de 1978.

- Mas eu estou falando sério! O Camilo me chamou para conhecer Bonvien, e eu estou empolgada em ir, Marta.

Ângela devolveu a xícara de café quente para a amiga, que já estava acostumada a trabalhar naquele local. A cafeteria sempre foi o ponto de encontro das duas amigas, já que uma trabalhava no local e praticamente administrava e a outra que buscava realizar o sonho na medicina sempre procurava o lugar, então quando sobrava tempo, ia até a amiga para desabafar e para saber das novidades dos vizinhos. As conversas casuais das duas sempre entrariam nos ouvidos dos que no balcão estavam buscando o conforto do café quente é uma nova história para contar.

- Angel, você conhece o Camilo a o que? Dois meses? Vai largar tudo e ir para uma ilha que você não conhece ou ouviu falar antes, por um amor de verão?

- É ele amiga. Eu sinto que meu futuro é nessa ilha! Algo me diz que serei feliz e irei cuidar de pessoas lá, que precisam de mim. Vai Martinha, me ajuda?! Me empresta aquela mala cinza com as rodinhas boas. Por favor?!

Marta entortou a boca para a direita, desaprovando a decisão da amiga, mas conhecia a tempo suficiente Ângela, para saber que ela não mudaria de ideia.

- Tudo bem. Mas não esquece de me escrever ok? Agora que você é formada, deveria de estar ocupadíssima procurando emprego, mas não, quer viajar e me deixar sozinha aqui!

- Para, sabe que te amo! – Ângela estendeu a mão para a amiga, que agarrou a sua de volta – E eu vou, se não der certo eu volto. Recomeçar é um dom da minha vida querida!

- Ok, eu sei. Agora me pague o seu café? Ou quer outro pra subir a conta?

As duas continuaram conversando, enquanto Camilo estava a poucas mesas a frente do balcão, olhando pela grande janela de vidro, a vida lá fora. Carros e pessoas passavam, conversas e risadas eram ouvidos no ambiente e fora, e todos se mantinham ocupados com suas vidas. Já Camilo, sonhava com o futuro que teria com Ângela. Filhos, amigos, casamento, tudo faria sentido em seu peito, com ela. A mulher de cabelos longos e pretos, o sorriso doce e apaixonada por café com apenas dois cubos de açúcar e um pingo de mel. Doce? Talvez. Mas esse poderia ser o combustível para a delicadeza da moça. Sim, Bonvien teria no futuro uma médica, uma cuidadora e uma pessoa boa para eles. Ela era tudo isto e ainda mais.

Camilo deslizou a palma da mão sobre a mesa de madeira, sentindo as bordas falhas, e abaixou o rosto vendo os riscos na madeira. A qualidade não era das melhoras, precisava fazer algo. Ergueu novamente a cabeça e voltou sua atenção a Ângela, e no sorriso que ela depositava para a amiga. Camilo, como conhecia bem o local e alguns bons marceneiros, levantou da cadeira carregando sua xícara em mãos e foi ao balcão já planejando a surpresa. Chegou por trás de Ângela lhe depositando um beijo abaixo da linha dos cabelos em sua nuca, como de costume, notando a pele da amada arrepiar pelo toque quente e macio dos seus lábios, e se virou para Marta.

- Posso lhe dar um presente?

- Runpf. Pode, já que vai levar o meu anjo mais precioso com você!

Ângela e Camilo riram juntos, pareciam sincronizados quando seus olhares se encontraram.

- Algumas mesas estão com as laterais quebradas, arranhadas. Posso pedir para um amigo um conjunto novo de mesas e cadeiras, se você permitir. Garanto que serão de qualidade e eu me encarrego do valor por elas. Posso?

Marta semicerrou os olhos desconfiando da bondade dele, porém, sabia que ele tinha um grande coração e tratou logo de abrir um riso alto para o homem.

- Ok! Você tem minha aprovação. Divirta-se para me dar o melhor do mundo em mesas e cadeiras.

Em pouco mais de dois meses, antes de sua viagem, Ângela e Camilo se casaram em uma comemoração íntima e bonita. As amigas dela, lá estiveram e os amigos também conhecidos do casal. Marta foi a madrinha, sonhando com o dia em que o amor lhe sorriria assim.

Anos depois, infelizmente o casal decidiu que era o momento de se divorciar. Ângela não podia realizar os sonhos de Camilo, ao menos não o de ser pai. O homem relutou, mas Ângela sempre foi teimosa. Porém, os dois jamais se separaram. Ângela e Camilo, continuam em Bonvien, sendo amigos, amantes, cuidadores e uma parte do futuro de outro casal.

Na cafeteria, as mesas e cadeiras continuam ali. A obra feita toda a mão, com cuidado e carinho a pedido de um grande amigo, lá estavam, ainda em frente aquela janela, era o lugar favorito de Amanda no mundo. As vezes ela se perguntava, como as laterais da madeira eram tão macias, ao mesmo tempo que desenhadas a mão e sempre mantinha a dúvida, de quem era o autor desta obra magnífica. Cada detalhe do ambiente, planejado e o amor que se sentia no local, proporcionavam a Amanda, paz. E Paz querido leitor, é quase um segredo oculto de como encontrar.





Rodapé:

Uma história de amor!
Uma história cheia de delicadeza!

Thalia_Aus você me encanta!
Obrigada por se doar a essa deliciosa história! 💚

EVERY DAY, ONE DAYOnde histórias criam vida. Descubra agora