35.2 - A história de Amanda

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Eu tive uma infância deliciosa, rodeada de amigos. Sempre morei no mesmo bairro, estudei na mesma escola até terminar o ensino médio. Isso fez com que eu criasse um laço muito forte com as pessoas que me rodeavam. Sou filha única, meus pais são casados há muitos anos e tem uma relação de muito amor e respeito. Meu pai é da área comercial, assim como eu e minha mãe professora. Quando se aposentaram, venderam o nosso antigo apartamento, juntaram as economias e compraram o apartamento que eu moro hoje. Tempos depois resolveram sair do Rio para morar em um lugar mais calmo, mas que pudessem ter alguma atividade, optaram por viver em Arraial do Cabo e abriram uma pequena pousada.

Meus amigos estão na minha vida há muito tempo. Desde pequena sempre fomos um grupo muito unido, na escola éramos: Eu, Bianca, Ricardo, Cauã e a praga do Cristian. Com o tempo, uns foram trazendo outros e vieram Fred, Larissa e Sarah. Vivemos nossa adolescência toda juntos. Praia, festas e descobertas. Nossas histórias fazem parte de quem eu sou hoje. Uma vez, eu bati no Cristian porque ele brigou com o Ricardo, lembro como se fosse hoje... Bianca correndo, atravessando o pátio, me chamando falando que ele estava implicando com o Alface na fila da cantina. (Sim! Quando éramos criança esse era o apelido do Ricardo.) Eu era uma versão da Mônica, só que carioca e sem o coelho de pelúcia. Teve outra vez, mas já estávamos maiores, que ele cresceu pra cima de mim e na hora que eu respondi ele disse – Ninguém tem medo de você, tão pequeninha, parece a Wendy – foi aí que ele teve a pior ideia da vida dele, apontou o dedo pra mim e gritou – Mandy Wendy!!! – Nunca ouvi tanta gargalhada junta, eu realmente ia voar nele, foi quando senti o Cauã me segurar e me tirar da sala de aula. – Não vale seu suor, Amandinha. Você não tem que provar nada a ninguém, além do que o Cristian é um babaca. – Ele falou baixinho enquanto fazia carinho no meu rosto. Neste dia eu fui aos extremos, já que ali aconteceu meu primeiro beijo.

O Cauã é uma história a parte, ele sempre foi lindo! Era o estilo popular da escola, um sorriso imenso, cabelo cacheado estilo anjo. Por muito tempo ele foi só mais um menino da minha sala, até que a Bianca começou a me chamar atenção para algumas situações onde ele fazia muita questão de estar ao meu lado. Quando comecei a reparar, não tinha uma vez que ele fosse encher a garrafa dele que não levasse a minha, mas só a minha. Todos os gols da educação física eram dedicados a mim. Se ele me visse sentada no chão, no canto da quadra, ele vinha de onde estivesse para estender a mão e ajudar. Mas um cara tão bonito e eu? Primeiro ainda pensei que ele pudesse querer cola, já que eu era uma ótima aluna, mas no final eu também sabia que ele era. Depois que rolou nosso/meu primeiro beijo, já voltamos para sala a sala de aula de mãos dadas. Cauã queria que todos vissem que estávamos juntos, devo admitir que me senti ainda mais empoderada, ele chegou perto do implicante que tinha me irritado e me protegeu, ela sabe que não precisava, mas ainda assim fez questão. Gostei! Em pouco tempo estávamos namorando. Eu me apaixonei por ele. Nessa época chegou a Larissa, ela era amiga de curso de inglês da Bianca e grudou na gente depois de uma festa. Lembro de ter visto algumas investidas dela no Cauã, mesmo sabendo do nosso namoro. Ela sempre tinha piadas de mal gosto seguidas de algumas insinuações. Com o tempo ela parou, mas minha simpatia não aumentou. A pior lembrança da minha vida até agora foi a minha sensação de desespero vendo o Cauã entrar no avião rumo ao intercâmbio de um ano, que depois descobri que seria para sempre. Ele foi meu primeiro amor, primeiro beijo, primeira transa e principalmente, primeira fossa. Me vi sem chão. Descobri que foi sua mãe que não o deixou voltar, eu não era o que ela sonhava para o filho dela. Minha opção foi me afastar totalmente, não o sigo nas redes sociais e ninguém tem autorização de passar o meu contato.

Anos depois, durante a faculdade, conheci um médico, eu ainda estava um tanto fragilizada. A relação começou boa, ele ganhou minha confiança, mas logo mostrou a que veio, minha mãe nunca gostou dele, assim como meus amigos. Foi quase um ano que valeram por dez. Quando tive forças para me separar, precisei procurar pelos meus amigos, já que eu havia me afastado. Foi muito bom saber que eu ainda tinha lugar na vida deles. Foram essenciais na retomada da minha autoconfiança. E eu me fiz fênix!

Muitas das minhas histórias se passaram ao redor do que hoje conhecemos como Baguette Bakery. A padaria sempre foi da família do Alface, seus pais administravam brilhantemente e tinham a melhor bomba de chocolate do bairro, não havia um dia que eu saísse da escola e não passasse por lá para comprar uma. Esse é o meu sabor de infância. Vários trabalhos de escola e encontros pré e pós praia foram lá. Antigamente a BBB se chamava "Padaria da Esquina", em função da sua localização. Quando a Sarah e o Ricardo resolveram se especializar e continuar com a tradição familiar do meu amigo eu fiquei muito feliz em saber que não perderia uma referência de vida e de delícias.

Hoje minha vida mudou, namoro um cara que eu achei lindo desde a primeira vez que o vi sentado na minha mesa da BBB. Seu rosto não me era estranho, mas nunca soube exatamente de onde eu o conhecia. Ele é alto, ama esportes e é muito competitivo, chegou a ser campão mundial de Jiu-Jitsu. Na primeira vez que ele segurou a minha mão para entrarmos na padaria, minha reação foi de me manter parada, resquício do meu ex que tinha mania de andar dois passos a minha frente, mas assim que ele me olhou nos olhos e fez questão de que todos nos vissem, me senti amada e meu coração disparou como nunca havia acontecido. Ali eu tive certeza de que o Antônio é o homem da minha vida.

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