18.1 - Dia de Sol

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Rio de Janeiro, outubro de 2022.

Morar de frente para o mar tem suas vantagens e eu acordo com a certeza de que vou aproveitar meu sábado.

Coloco uma roupa de treino, sigo para a academia. Não me animo. – O dia está bonito demais pra eu ficar trancada aqui. – Resmungo. Decido caminhar na orla. Automaticamente vou sentido BBB. São 8:00 a.m., muitas pessoas tiveram a mesma ideia que eu. O calçadão está cheio, crianças, idosos, famílias inteiras, muitos com seus doguinhos. Esses são sempre uma felicidade a parte.

O percurso que eu faço de carro todos os dias, está especialmente longo hoje, já que não estou motorizada, não estou nem no meio do caminho. Sinto minha barriga me lembrar que estou em jejum, cogito pedir um carro por aplicativo, realmente não me adapto a essa vida saudável. Quando sinto uma aproximação abrupta e me assusto dando um quase pulo. Ouço meu nome com uma voz familiar.

- Amanda! Amanda! – Antônio me chama em um grito contido. Quando o olho tenho uma visão linda diante de mim. Ele chega de bicicleta, suado, óculos escuros, cabelos totalmente molhados. Sorrio e aprecio, mas disfarço.

- Quase me matou do coração, Antônio! Que susto! – Reclamo no automático. Ele simplesmente sorri e emenda uma pergunta. – O que você tá fazendo aqui? Todo final de semana venho pedalas, primeira vez que te encontro. – Quase respondo obviedade, mas já tô tão arrependida da minha decisão que solto a verdade de forma direta – Até vim me exercitar, mas não sou adepta, agora estou aqui, ainda longe da padaria, suada, mal-humorada e com fome. – Ele ensaia falar alguma coisa, desiste. Mexe no cabelo, coça a nuca e resolve continuar: - Tô indo pra lá, quer carona? Senta aqui, te levo. – Eu fico constrangida com o convite, mas pensei que seria a melhor opção pra agora, aceito e vou com ele.

Estamos tão perto que sinto seu cheiro, sua respiração está no meu pescoço e nesse momento meus pensamentos estão longe e perto, como se assim fosse possível. Perto pela real proximidade, longe pelas poucas possibilidades. Resolvo tentar pensar em outra coisa. Fecho meus olhos até que sinto a brisa do mar me atingir, me sinto bem! Quase uma adolescente.

Não demora muito, viramos na rua da casa dele, viemos até aqui em silencio. Um silencio delicioso, de apreciação. Nessa hora sinto sua barba roçar em meu ombro, automaticamente enrijeço o meu corpo, travo no lugar, olho disfarçadamente para trás e percebo um sorriso. Ele parece satisfeito. Nessa hora eu tenho certeza da minha adolescência. Que vergonha.

Quando chegamos, praticamente pulo da bicicleta e logo ouço Antônio falando – Não foi um percurso tão longe, ao ponto de a bunda ter ficado quadrada. – Ele ri. Minha reação foi dar uma leve batida em seu ombro e quando pensei em responder, percebo que somos a atração da padaria, já que todos estão olhando para nós. Que sensação estranha.

Antônio foi guardar a bike e eu sigo para a padaria. Percebo uma movimentação estranha. Vejo Bianca andando pra todos os lados proferindo ordens, aproveito para matar a saudade – Amiga, bom dia! Tô vendo que você grávida é ainda mais mandona. - Ela ri! E retorna – Amanda, hoje é o evento das meninas... “Uma noite em Veneza.” – Ela fala usando as mãos. – Eu sempre faço as decorações para ajudá-las. Dessa vez um pouco mais lenta, eu sei. Mas é culpa dessa barrigona, também conhecida como Rosinha.

Ouço um barulho e percebo meu caroneiro entrando, ele também comenta sobre o evento. Nesta hora percebo o tamanho da minha gafe... só eu havia esquecido de comprar a vaga. Na verdade, andava tão enrolada, que tina esquecido até da data. Bato com a mão na minha testa e sinto a dor de quem exagerou na força. – Esqueci! – Sou tomada por uma onda de vergonha.

Fred que estava organizando as caixas de flores para os arranjos de centro de mesa quando resolve opinar – Amandex, compra logo. Ouvi o Ricardo falar que o evento estava cheio. Vê se você ainda consegue uma vaguinha. – Sorri e assenti com o rosto. Antes mesmo que eu pergunte Vic e Ana falam ao mesmo tempo – Tem vaga com o vizinho! – E dão uma gargalhada alta. E é isso! Perdi, vou sentar com o Antônio hoje à noite.

Por fim, viro para a Ana e peço meu café. Média e pão na chapa! Todos me olham e ouço Bianca falar – Dois! – Fred diz: Três e Antônio fecha a tampa: - Quatro!

Sentamos juntos e comemos com alguma calma gostosa!

EVERY DAY, ONE DAYOnde histórias criam vida. Descubra agora