35.1 - A história de Antônio

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Eu nasci em uma família muito tradicional da sociedade carioca. Meu pai é dono de uma famosa empresa de engenharia. Sempre trabalhou muito, em seus horários livres ou estava conosco ou no haras que temos no interior da Bahia. Os cavalos estão na lista das suas grandes paixões, inclusive acho que esse foi um dos motivos da separação dos meus pais. Minha mãe vem de família rica, filha de renomado advogado, se formou em arquitetura e parou de exercer quando se casou. Tenho somente um irmão, mais velho. Mário é um cara especial, formou uma família linda com a Roberta, sua esposa. Ele tem um casal de filhos que são a loucura da minha vida. Sempre quis ter a sorte deles, um encontro como esse é um privilégio para poucos. Até pouco tempo atrás achava que não haveria essa possibilidade na minha vida.

Fui criado em uma casa grande em um condomínio de alto padrão onde minha mãe mora até hoje. Cercado de possibilidades, mas dentro de uma bolha que não me agradava. Sempre fui um menino agitado, muito competitivo, fiz vários esportes e me encontrei no Jiu-Jitsu. Descobri que levava jeito e fui tomando gosto. Depois de tanto treino e dedicação me tornei Campeão Mundial. Decidi largar as competições quando precisei me dedicar a minha faculdade. Já tinha passado por algumas lesões importantes que vinham junto com algumas cirurgias.

Estudei nas melhores escolas, frequentava sempre a alta sociedade, viajei muito. Comecei a namorar muito cedo a filha de uma das melhores amigas da minha mãe, éramos vizinhos de condomínio, estudávamos no mesmo lugar. Bruna sempre foi uma mulher linda, com olhos azuis turquesa extremamente expressivos. Entre idas e vindas passaram-se mais de dez anos, nunca achei que ficaríamos tanto tempo juntos, já que eu queria explodir a bolha e ela queria cada vez mais subir os muros que nos separam da realidade. A verdade é que sempre tivemos visões de mundo totalmente diferentes, mas a nossa relação se tornava "fácil" já que era aprovada por todos.

Na época da faculdade fiz a opção de estudar no exterior, sempre quis seguir pela área de tecnologia da informação. Depois de alguma pesquisa, decidi pelo MIT, no Massachusetts - EUA. Nessa fase eu fiz muitos amigos nos Estados Unidos, muitos deles brasileiros, uns na universidade, outros no esporte. Enquanto eu ainda só estudava me mantinha treinando, mas não competia mais. Essa fase tentei manter uma relação a distância com a Bruna, mas eu mais colocava dificuldade do que me esforçava. Quando voltei coloquei um fim definitivo em nossa relação. Não foi uma conversa fácil, envolvia família, relacionamento longo e expectativas, mas eu estava certo de que a minha felicidade não era ao lado dela, mantê-la em uma relação sem futuro não era justo com nenhum de nós dois. Foi difícil vê-la tão triste, entretanto seria pior se chegássemos ao casamento fadado ao fracasso. Aproveitei a fase de renovação e criei a ACJ-TI. Viramos referência em soluções para o varejo.

Cada vez mais o estilo da vida minha família me incomodava e esses foi um dos motivos que me fez procurar um lugar para morar. Pensei em um lugar pequeno e aconchegante, com área externa onde eu pudesse ler, me exercitar, talvez voltar a tocar violão. A prioridade era que fosse perto da ACJ-TI e não precisasse de carro. Fiz várias visitas ao bairro, vi algumas casas, apartamentos, pensei em morar na orla, mas fugiria a tudo o que eu estava me propondo. Sempre passava na porta da BBB e ficava namorando a janela de vidro. Várias vezes vi uma mulher loira, linda. Ela sempre trabalhando ou no telefone, uma vez ela estava olhando a rua, estacionei para olhá-la pelo vidro fumê do meu carro. Decidi entrar para tomar café e me apaixonei na mesma hora por tudo. O lugar, o café, o cheiro da padaria, as pessoas pareciam estar felizes. Sabia que queria estar ali. E ainda tinha a mulher, que tinha um encanto diferente. Puxei assunto com uma menina que trabalhava lá, vi que a chamaram de Vic. Ela foi muito simpática e me atendeu prontamente, perguntei se sabia se tinha algum apartamento para alugar, nessa hora um rapaz que passava por trás de mim com uma criança no colo disse – Desculpa me meter, irmão! Eu ouvi sua pergunta. O apartamento que fica exatamente em cima da padaria está à venda a pouquíssimo tempo. O contato da imobiliária está no caixa. Se der certo, seremos vizinhos. – Apertou minha mão e saiu. Quando fui pagar peguei o cartão no balcão. A loira continuou lá. Infelizmente não perguntei o nome do rapaz que me deu a boa notícia da venda do imóvel.

No mesmo dia liguei para o corretor, no dia seguinte voltei para ver o apartamento. Dois quartos, sacada para a rua, quintal, com lugar para guardar bicicleta, a uma quadra da empresa e super perto da praia. Quando subi reparei que a mesa do vitral estava vazia, quando desci seguia assim, penso em parar, mas estou com o horário apertado. Fecho o negócio sem pensar duas vezes. Fiz a mudança em pouco tempo, me desfiz do meu carro e comecei a frequentar a padaria diariamente até que a vi novamente, em pouco tempo descobri que o nome da dona dos olhos mais lindos que eu já vi é Amanda. Dei um jeito de me fazer presente, minha ideia foi chegar antes e pegar a mesa dela. Deu certo!

Amanda hoje é minha namorada e sem medo posso dizer que é a mulher da minha vida!

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