EVERY DAY, ONE DAY

41 - Dia ruim

Rio de Janeiro, dezembro de 2022.

- Mas que droga!

Xingo e bato com o punho na mesa de frustração. Não era possível que aquele maldito balanço final não ia fechar nunca... já tive vários momentos difíceis desde que me tornei CEO da ACJ Ltda., mas nada se comparava aquele mês infernal, onde tudo que tivesse a menor possibilidade de dar errado. Deu errado. Tudo o que eu desejo é um café fresco e ela, a minha menina. Tiro o celular do bolso do terno e olho a foto de proteção de tela suspirando...estou com tanta saudade de Amanda, devido aquele fechamento de mês atípico, estava há 4 dias sem encontrar minha noiva. Noiva... nunca vou cansar de repetir essa palavra!

Resolvi mandar uma mensagem rápida:

- Oi Amandinha, estou com saudades.

Aguardo uns minutos e nada de resposta. Volto a trabalhar mais irritado que antes.

Quando volto a olhar o celular já passavam das 20h. O fechamento continuava dando erro e resolvo ir para casa, não consigo mais raciocinar e estou faminto e cansado.

Faço planos de pegar um lanche e um café na BBB, mas não estava no meu escritório e sim no do contador, e o maldito trânsito do RJ me fez perder isso também, quando chego ao prédio as portas já estavam fechadas. Senti vontade de chorar, o que mais poderia dar errado hoje?

Há dias Amanda vinha me dizendo que eu estava mais tenso e nervoso. Tentou várias vezes abordar o assunto, mas eu me esquivava, só dizia que eram problemas no trabalho e logo estaria tudo bem.

Mas ela sabia que não era assim. Nós tínhamos liberdade para falar sobre tudo e ela sentia que seja o que for que estivesse acontecendo estava me sugando as energias... não sei porque não consegui me abrir com ela. Talvez o fato de sempre ter sido tão bem-sucedido no trabalho tenha mexido comigo. Não queria admitir inseguranças? Talvez...

Hoje ela estava sumida o dia todo. E agora eu sentia muito por não ter dividido minha frustração com ela. Iria tentar ligar depois que estivesse alimentado e menos agitado.

Subo as escadas pensando no que iria pedir no aplicativo, pois estava fora de cogitação cozinhar naquele momento. Sou invadido por um cheiro maravilhoso de comida e fico um pouco confuso, quem estaria cozinhando naquele horário? Já que Fred e Bianca estavam fora aquela semana. Vi a luz na fresta da porta e sorri... Amanda.

Abro a porta e sou tomado imediatamente pela sensação de conforto, de segurança e de paz. Amanda veio me encontrar com um sorriso, aquele sorriso que me desmontava por dentro cada vez que via. Nunca iria me acostumar. A beijo com muita saudade.

- E aí garotinho? Gostou da surpresa?

-Oi meu amor! Era tudo que eu estava precisando! Você e isso: fiz um gesto demonstrado o quanto aquele aroma era bom!

- Então vai tomar um banho e vem jantar. Não sou habilidosa como você na cozinha, mas nesse prato eu me garanto. – Obedeci, claro! Tomo um banho rápido e coloco uma roupa confortável. O jantar estava perfeito, strogonoff de mignon. Realmente minha menina tinha talento na cozinha.

Depois do jantar, Amanda me puxa para o sofá, com um pote de sorvete de creme com nozes na mão, nosso sabor preferido e duas colheres. Aquilo ali só melhorava...

Escolhe uma série qualquer na Netflix e se aconchega no sofá me chamando para mais perto dela. Curtimos juntos o sorvete e quando nos sentimos satisfeitos, ela devolve o pote ao freezer. Me deito em seu colo e sinto as mãos dela nos meus cabelos, em um carinho reconfortante e delicado. Ela me dá vários beijinhos no rosto e quando chega nos meus lábios eu sinto a necessidade de aprofundar o beijo. Amanda corresponde, mas logo encerra o beijo e volta a prestar atenção à tv.

Aquilo não me chateia. Na verdade, pelo contrário, é exatamente o que eu preciso. O momento é tão perfeito que me deixa com os olhos marejados. Eu escondo o rosto no colo dela, sentindo o seu cheiro de banho, um cheiro limpo e familiar. E me permito derramar algumas lágrimas. Eu não costumava chorar, ainda mais sobre assuntos relacionados ao trabalho, mas Amanda me fez entender que com ela, eu não preciso de barreira nenhuma pra me proteger. Ela é meu porto seguro. Ela não faz perguntas, não precisa. No tempo certo ela sabe que vou desabafar.

Me deixo levar pelo carinho com que ela me acaricia. E de repente eu sei.

Sei que não importa que o que estivesse acontecendo. No trabalho, na vida pessoal ou em qualquer outra situação. Era ali, nos braços de minha noiva que eu encontraria paz.

Finalmente eu havia encontrado o que tanto buscava.

Amanda Alice era a minha casa. Meu lar e minha moradia...