15.2 - Bruna

46 5 1
                                    

Rio de Janeiro, setembro de 2022.

Desde que mudei para este apartamento, minha rotina tem sido iniciar meu dia na BBB. Hoje não foi diferente. Desci na hora de sempre e encontrei uma placa na minha mesa, fiquei bem aborrecido, já que a padaria ainda estava vazia. Aguardei em outra mesa, esperando para ver quem sentaria ali. Minha surpresa em ver a Amanda sentando e tenho a audácia de me convidar sem nem abrir a boca, piscou, sorriu, me chamou com a sobrancelha e o pior, eu fui!

Vai entender a cabeça dela, reservou pra nós. Pediu o melhor combo de duas pessoas e eu me senti feliz. Lembro de dizer que preciso aprender a lidar com ela, e vou. Ela que me aguarde!

Fico feliz quando percebo que ela precisa sair um pouco antes de mim, até me proponho a pagar a conta para a surpresa que ela montou. Mas precisava conseguir falar com a Sarah em particular, já que a Bruna viria hoje à tardinha.

Quando chego ao caixa, falo:

- Sarah, no final do meu dia marquei com uma amiga aqui. Preciso de uma mesa com o máximo de discrição. Acredito que não trataremos dos melhores assuntos. – Falo e ela prontamente responde. – Tem aquela mesa de canto, dois lugares simples, somente para café comporta bem, ela é mais afastada da porta e não está próxima à janela. Pode ser? – Agradeço e faço um último pedido, que não façam nenhuma menção de que eu moro ali. Não queria ter trabalho de procurar um lugar, mas também não queria que ela soubesse da minha vida mais do que o necessário.

Passei o dia me sentindo mal, como se estivesse fazendo alguma coisa errada, mas não estava. Sensação quase de traição, não consegui até agora entender. A única certeza era que eu não queria encontrar a Bruna, mas era melhor zerar isso, pela última vez.

Quinze minutos para a hora marcada chego, faço a opção de não ir em casa, pois se eu trocasse de roupa ela, talvez ela entendesse que eu moro perto. Esse risco não quero correr. Vou até a mesa destacada pela Sarah, sento e olho o celular pensando na possibilidade de ela desmarcar. Não acontece! Quando levanto os olhos a vejo entrar na padaria. Ela estava linda, um tanto arrumada demais para a ocasião, seus olhos azuis reluziam de uma forma triste.

Ela vem até a mim, nos cumprimentamos e sentamos. Pergunto se ela quer alguma coisa. Ela parecia estar nervosa, tive certeza com a sua resposta.

- Aqui fazem irlandês? – Eu confirmei com a cabeça e ela completou – Pede com whisky duplo, por favor. – Posso sentir sua ansiedade. Chamo uma das meninas, mas para minha felicidade, quem nos atendeu foi a dona, tenho certeza que seremos tratados com a descrição que eu havia pedido.

- Boa tarde! Posso ajuda-los? – Perguntou como se não me conhecesse, agradeço mentalmente por isso.

- Boa tarde! Traga, por favor, um irlandês com whisky duplo e um chá de camomila, por infusão. Para comer, alguns petit four da casa. Obrigada! – Pelo pedido dela, sabia que alguém teria que ficar calmo.

Assim que a Sarah sai, ela já está com os olhos marejados. Respiro fundo, tomo coragem e pergunto, mesmo sem querer saber.

- O que houve, Bruna? Estranhei sua ligação de madrugada e agora esse encontro... você tá precisando de alguma coisa? Me explica, estamos separados há três anos e já tinha um ano que não me ligava. – Falo com falsa calma. Bruna respira profundamente, passa as mãos no cabelo e no rosto. E solta de uma vez.

- Antônio, não sei mais o que fazer, tem três anos que eu tento lidar com a sua decisão. Tem um ano que eu tento não te ligar e implorar por você. Sei que você espera mais, mas eu quero ser mais! – Neste momento Sarah chega com os cafés e eu agradeço profundamente, por que ela certamente iria chorar.

Bruna pega seu café altamente alcoólico e começa e beber enquanto eu espero a infusão do meu chá. Como um biscoito, delicioso inclusive, e aguardo mais um tempo. Quando eu ia falar, ela levantou a mão e pediu para continuar.

- Nesse último ano eu conheci uma pessoa, ela é muito boa pra mim. No dia que eu te liguei, foi o dia em que ele me pediu em casamento. Eu aceitei, mas como meu coração ainda é seu, preciso saber se alguma coisa pode mudar? Se a sua decisão pode mudar... – Falou sem nem respirar e agora bebe outro gole bem grande do café. Meu coração ficou pequeno por ver o sofrimento de alguém que foi importante pra mim, mas que hoje já não é mais. Meu chá ficou pronto, retiro o infusor, bebo e novamente ela não me deixa falar, dá mais um gole em sua bebida e segue...

- Estou disposta a criar uma família com ele, ele me ama verdadeiramente. Não vou olhar para trás. Vou guardar você em algum lugar distante, dentro de mim. Só preciso saber se realmente nada mudou... – Neste momento ela chora. Me compadeço e tento medir as palavras para que a magoe o menos possível.

- Bruna, fico verdadeiramente feliz que você tenha encontrado alguém que te ame como você merece. Permita que ele se aproxime, baixe seus muros, deixe que ele veja a mulher linda que você é. Seja feliz! A minha decisão não mudou. Eu não sou capaz de te fazer feliz, consequentemente não seríamos felizes. – Ela suspira algumas vezes, termina seu café. Pega a minha mão e a beija. Levanta, levanto junto na intenção de abraça-la, mas ela não permite. Me olha com amor e fala – Estou indo, Antônio! Estou indo e não voltarei mais! – E foi! Sem titubear.

Sento novamente, termino o meu chá e como todos os biscoitos. Me sinto um tanto aliviado. Pago e subo para minha casa em paz.

EVERY DAY, ONE DAYOnde histórias criam vida. Descubra agora