11 - Baixa de guarda - Ele

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Rio de Janeiro, setembro de 2022.

Acordo com o meu celular tocando, me assusto com o barulho. Olho a hora, 5:45hr. Vou até a sala pra ver quem tava me ligando, o susto só aumenta quando vejo o número da Bruna. Coço os olhos, penso em não atender. Não atendo! Ela insiste... penso novamente em não atender, mas preocupado com a insistência pego o telefone.

- Oi, Bruna! Aconteceu alguma coisa? – Pergunto nem tão preocupado. Minha resposta veio com uma voz embolada, meio alta, sem ritmo. Logo entendi, ela estava bêbada.

Mal consegui decifrar as três frases proferidas, meu filtro desatento recebeu: “triste, volta, quero você! ” Não sei bem onde ela está, nem com quem. A única coisa que eu sei é que tem três anos que nos separamos e há mais de um ano que isso não acontecia. Pensei em ligar para os pais dela, mas resolvi olhar o app, vi que ainda constava logado e ela ainda compartilhava a localização comigo, coisa que eu odiava, mas ela fazia questão. O celular dela constava em casa.

- Ótimo! Não está em perigo. – Falo baixo. Volto a me dirigir a ela - Bruna, não consigo te entender... faz assim, quando acordar me liga. – Desligo sem me despedir, essa situação me tira um pouco a paciência. Certo de que ela não vai me ligar, pois a vergonha será maior. Respiro com alívio. E volto a deitar, já sem conseguir dormir.

Meus pensamentos foram diretamente para ontem, em como eu e Amanda conseguimos conviver com tranquilidade. Suspiro longamente – Linda e inteligente! Digo já com sorriso.

Vou para a sala, ligo a tv e deixo passar o tempo para que dê a hora de descer para tomar café.

Entro na BBB um tanto cansado, já que acordei antes da hora que estou acostumado. Sento no meu lugar, peço café expresso duplo e um tradicional misto quente. Quando olho pra porta, Amanda tá entrando, sorrio um convite pra que ela sentasse a mesma mesa que eu. Neste momento, para a minha surpresa, Bruna realmente me liga. Sem ter opção, levanto e faço o caminho para fora da padaria, passo por ela e falo:

- Minha mesa, sua mesa! Nossa mesa, senta lá, onde você quiser, só vou atender e já volto para tomarmos café juntos. – Pisco, ela assente e sorri largo.

Olho pra trás e ela já está acomodado no lado que tem a tal tomada, vejo ela pedindo o café e só então me dou conta da voz da Bruna. Ela se desculpa, coloca a culpa na bebida, diz que tá com vergonha. Mas, mesmo com todo esse discurso, diz que quer me ver, pergunta como eu tô e onde moro agora. Ela tem quase todas as respostas, aceito encontra-la na padaria em um horário diferente do que encontro a Amanda e marco para dali a dois dias, já que preciso me organizar até por que não quero que ela saiba que moro aqui.

Desligo o mais rápido que posso. Entro quase correndo, quando vejo que a Amanda ficou com o meu pedido, já que esfriaria. Sinto um certo medo dela querer saber com quem eu tava falando, mas resolvo não pensar sobre isso. Chegando a mesa, faço cara de estranhamento. E ela é mais rápida do que eu.

- Que é? Ia estragar, você estava batendo papo... te fiz um favor! E antes que você reclame, já pedi outro para você. – Diz ela com sorriso vitorioso. Respondo com implicância:

- Não me assustei com isso, foi até gentileza sua. Me assustei de você aceitar mudar seu café, no geral você é bem previsível. – Olho de soslaio, como quem não quer perceber, a vejo bufando e resmungando. – Veja bem! Previsível? Eu?!

Ana traz meu café, na sequência Vic traz o meu misto. E bingo! A pergunta veio...

- Tava falando com a namoradinha, Antônio? Ligação a essa hora ou é problema ou é amor! – Fala com alguma curiosidade. – Um pouco de um e nada do outro – foi o máximo que consegui responder, ela sorriu. Aparentemente foi o suficiente, mesmo que por hora.

Terminamos o café juntos e dividimos a conta.

Saio um pouco depois dela, a tempo de vê-la entrar no carro e seguir.

EVERY DAY, ONE DAYOnde histórias criam vida. Descubra agora