EVERY DAY, ONE DAY

13 - Uma boa conversa

Rio de Janeiro, setembro de 2022.

Meu dia estava normal, nada tinha acontecido diferente até aquele momento.

Acordei no mesmo horário de todos os dias. Me exercitei, hoje fiz a opção por pular corda no meu quintal, o tempo estava ótimo para essa atividade aeróbica. Tomei meu banho com calma, me arrumei para trabalhar e já desci de mochila. Fui para padaria.

Aqui começava a esquisitice. Entro na BBB olhando para o balcão de sanduíches prontos, escolhendo o que vou comer. Miro um de queijo minas, com peito de peru no pão sírio. Minha boca enche d’água. Decido por um suco em vez de café, cítrico e natural, de preferência. Quando viro para ir até a minha mesa percebo que a Amanda já está lá! Com cara de cansada, mas são 7:30 a.m., posso contar três xícaras de café, que ao me aproximar percebo que se tratavam de expressos.

- Bom dia! Alguém madrugou aqui... – me dirijo a ela. – O que é esse tanto de café aqui? Três xícaras... mais um pouco é doping – falo rindo. Ela me olha de forma estranha, parece sem entender do que eu tô falando, sorrio de volta, nitidamente me divertindo com a sua expressão.

- Éhhh... vida de proletariado não é fácil, quebrando a cabeça para montar estratégia para o fechamento do mês. Pensa em um mês difícil! Sabe como é, né? Nem todo mundo tem a sorte de ter a própria empresa! – Fala com cara de provocação, com aquela sobrancelha que arqueia como nunca vi e um sorriso no canto da boca.

Não acredito que mal cheguei e ela já está implicando, quando eu ouço – Vai ficar em pé, grandão? Na sua idade não cresce mais não! Senta logo e aproveita e pede mais um café, meu dia aqui vai longe! – Minha vez de tentar mexer com a sobrancelha, e claro, não possuo essa arte. Sento com ela, chamo a Vic que está terminando um atendimento logo ao lado e faço nossos pedidos, meu sanduíche com suco, além do quarto café da Amanda, aproveito e acrescento um croissant, já que é visível que ela ainda não havia comido. Ela me olha com olhos de agradecimento, suspira, pisca e volta seus olhos para o computador.

Aproveito para checar minha agenda no celular, nossos pedidos não demoram. Assim que todos os itens já estão na mesa, falo de forma despretensiosa:

- É sério que agora que a gente divide a nossa mesa, você vai me obrigar a tomar café da manhã sozinho? Fecha esse computador, para 10 minutos, quando você voltar vai ver como tudo estará mais fácil de resolver. Ninguém pensa bem quando está com fome, além de você estar tentando criar uma gastrite de estimação – falo apontando o tanto de café que a Vic levou. Ela pensa em resistir e eu seguro seu croissant, balanço e ela se entrega! E, enfim, faz o que eu pedi.

Aproveito a pausa para puxar assunto sobre o trabalho dela, e entendo o porquê de tanto stress. Descubro que Amanda é executiva de vendas de uma grande multinacional de biscoitos, responsável pela maior conta de varejo nacional, na unidade do Rio de Janeiro. Ela conta com empolgação sobre sua estrutura de trabalho, negociações e o quanto ela gosta do que ela chama de “cachaça” do comercial. Ela fica ainda mais reluzente falando da sua profissão. Só consigo pensar o quanto ela é mais inteligente do que eu pensava.

De repente, durante o nosso papo ela fala: - Já sei! – Fala me assustando e complementa na sequência - Pelo amor de Deus, me dá um minuto! – Abre o computador, faz alguns comandos no Excel e fala: - Vai dar! Acho que assim passa! – Respira longamente de olhos fechados e sorrindo. Quando ela sai do pequeno transe dá de cara comigo já armando uma gargalhada! – Que foi, cara?! Vai ficar rindo de mim? Eu estava com um problema grave com verbas de investimento, mas aparentemente, achei uma solução.

Não perco a oportunidade e retruco na mesma hora - Costumo causar esse efeito nas pessoas, tá vendo, mal tomamos nosso café, já resolvi a sua vida! Você deveria me agradecer e deixar meu café pago! – Falo piscando os olhos e levantando meu suco em direção a ela, fazendo menção a um brinde.

Ela me olha no fundo dos olhos, de uma forma que já me acostumei, fecha um pouco como se fosse brigar e, para minha surpresa, faz uma careta! – Você está um tanto quanto mal-acostumado! Eu hein... presta atenção na vida!

Conversamos mais um pouco e eu saio ainda antes dela, deixando de presente um brigadeiro.