Rio de Janeiro, outubro de 2022.
São 9:30 a.m. Esse domingo está diferente, me sinto ansioso. Amanda praticamente me chamou para um encontro, pelo menos foi isso que eu entendi ontem, com todo aquele lance da jaqueta – Tenho quase certeza que ela não esqueceu a jaqueta aqui... ela sabe, não é boba e nem inocente. E nem eu. – Falo sorrindo.
Hoje já corri na praia, já aguei as plantas do meu quintal, já organizei algumas coisas que quem mora sozinho é obrigado a se preocupar. Agora estou eu aqui, olhando da sacada de 10 em 10 minutos pra ver se ela já está lá embaixo. Pela hora, resolvo descer e esperar na BBB, como a padaria é na esquina, fica fácil vê-la chegando. Além de toda ansiedade, tenho um quê de preocupação, já que antes do convite, já tinha combinado de almoçar com a minha mãe, e como isso quase nunca acontece, não posso furar.
Assim que eu desço, encontro Sarah e Ricardo na porta. Ele estava chegando com algumas sacolas de frutas frescas e um buquê de flores do campo. Percebo que são as que eles sempre mantêm em um arranjo, próximo ao caixa. Ouço ele falando com a esposa:
- Sarinha, tudo certo aqui. Já vou buscar o pastel, vai querer de quê? – Ricardo pergunta.
- Todo domingo a mesma pergunta... todo domingo a mesma resposta. Frango, sem queijo cremoso. – Fala meio que sorrindo, meio que bufando. Vejo Ricardo revirar os olhos e seguir para comprar.
Sigo monitorando o cruzamento aguardando ela, até que ouço meu nome vindo do outro lado, com um tom um tanto provocativo, que eu já estava acostumado – Ei Antônio, tá me procurando? – Olho pra trás e percebo que ela estava na feira, já havia feito suas compras. Na mesma hora me sinto um adolescente com problema de interpretação, não era um encontro. Era um café na feira, entre amigos. Mas ainda assim seu tom é diferente, é ainda mais provocativo, pausado. Sua sobrancelha arqueada na medida, um sorriso curto, um olhar dentro do meu. Pronto, novamente acho que é um encontro. Definitivamente a Amanda é um acontecimento por si só. Desisto de lê-la e prefiro aproveitar o que o dia vai nos proporcionar. Por fim, respondo que estava batendo papo com nossos amigos, não quero que ela ache que eu dei toda a importância que eu realmente dei, para esse suposto encontro.
- E agora, o que você vai fazer com esse tanto de sacola? Tá pesada... me dá elas aqui. Seguro pra você. – Digo mudando o foco para as compras. Ela simplesmente me entrega a sacola, pega a chave do carro no bolso da bermuda e aperta, assim que eu ouço o apitar do controle percebo que o carro está logo na esquina, a olho e ela não perde a oportunidade: - Põe na mala pra mim, e vamos logo por que eu tô morrendo de fome – fala quase miando. Penso em responder um monte de coisas, mas por fim só provoco – Abusada! Só vou fazer porque realmente está pesado e, principalmente, porque você vai pagar o pastel. – Sorrio e vou enquanto ouço sua gargalhada e de Sarah.
O carro realmente estava bem próximo, quando volto ela já está se dirigindo para a barraca do pastel, que fica ao lado de uma de flores. A visão é linda! Amanda para e observa as cores e texturas, olha por mais tempo para algumas tulipas amarelas que estavam ali, agora já conheço também seu gosto por flor. Faço essa nota mental: Amanda >>> tulipas amarelas, tenho certeza de que essa informação será útil!
Logo ela vira para mim, me puxa subitamente pela mão e nos dirige até o nosso objetivo.
- Qual pastel você quer? Você é imenso Antônio, imagino que não vai comer só um. Quais sabores você mais gosta? Caldo de cana, correto? – Ela pergunta sem cerimônia. – Hum... já que é por sua conta, pede logo dois: pizza e palmito. – Fico esperando ela retrucar, mas ela não fala nada. Quando vejo que ela voltou com as fichas, percebo 4 para o que vamos comer e duas de beber. QUATRO?! Será que ela pensa que eu vou conseguir comer três? Ela sorri e lança – O pastel daqui é delicioso, sempre como dois! – E pisca.
Rapidamente nossos lanches chegam, realmente eram deliciosos, penso em pedir mais, mas sei que ela vai ficar me zoando. Quando olho pra Amanda, ela tá comento o final de seu segundo pastel, ela está com uma expressão feliz, me sinto feliz por isso! Quando acabamos de comer, ficamos ainda conversando um bom tempo, vejo que algumas barracas começam a desmontar, olho a hora. Merda! Tô atrasado! Ela percebe que eu olho várias vezes para o relógio e pergunta – Você sabe que hoje tem samba na feira, né? Não vai ficar comigo? – Eu gelo! Não sabia! Penso em desmarcar com a minha mãe, mas não posso. Ela vai me matar! Então falo a verdade – Não sabia, tem sempre? Nunca tinha ouvido nenhum barulho que me fizesse pensar nisso, você não comentou nada... acabei marcando de almoçar na minha mãe. Desculpa. – Vejo seu sorriso diminuir, meu coração aperta. – Todo segundo domingo do mês tem e é sempre maravilhoso! Daqui a pouco começa... mas não tem problema, família em primeiro lugar! Curte sua mãe, que eu vou curtir meu Chopp com samba, sozinha. Ou não... nem adianta, daqui a 5 minutos todo mundo chega – ela fala dando de ombros e olhando para o outro lado. Resolvo esperar até algum conhecido chegar, o que realmente não demora.
Quando saio vejo que a barraca das flores ainda está montada, compro uma tulipa amarela e volto até ela.
- Realmente não sabia que teria o evento hoje, não teria marcado nada. Passaríamos o dia todo juntos. – Falo e entrego a flor, sua amiga nos olha e discretamente nos dá espaço. Ela sorri, suspira. E, sem explicação, fica na ponta dos pés e me abraça! Ganhei meu dia neste momento. Quando ela me solta, agradece já com as maçãs do rosto bem ruborizadas. – Estava contando com você, seria um encontro perfeito, duas ou três refeições juntos. Mas você ganhou pontos com a surpresa e com a priorização. Vai lá, nos veremos em breve. – Minha cabeça travou na palavra ENCONTRO! Eu estava certo! Era um encontro! Péra! Duas ou três refeições? Ah, Amanda! Sinto meu coração acelerar, quero sorrir mais do que consigo. Dessa vez eu que a abraço, forte, apertado, quase sem deixar ela sair. Dou um beijo longo na sua testa e vou.
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EVERY DAY, ONE DAY
Fiksi PenggemarUma rotina Um café Uma mesa Várias percepções O quanto alguém pode alterar sua vida apenas sentando em seu lugar favorito? - Uma FIC COLLAB com muita gente legal! Recheada de amor!