47 - Larissa

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Rio de Janeiro, janeiro de 2023.


O primeiro dia do ano foi quase perfeito, não fosse a Larissa tentando chamar atenção do Antônio metade do dia. Ele já estava constrangido e toda a casa já havia percebido. Resolvi não me estressar, mas tudo tem limite e o meu é o toque.

Depois que saímos do quarto com a notícia de dois casamentos, com o primeiro já definido a data, local e tendo que resolver mil e uma coisas em quinze dias, começam as possibilidades. Bianca, que estava na piscina com o Cris, a Rosinha, Fred e Larissa, saiu em busca do seu telefone e trouxe até mim e Antônio enquanto falava alto: – Vestidos! Amiga, antes de qual coisa você precisa escolher! – Me chama para sentar longe do meu noivo com a máxima de que ele não poderia ver minha roupa. Neste momento Larissa sai da piscina rapidamente e vai para perto de onde Antônio está sentado, apoia no ombro dele e pergunta – Você também acha que eu ficaria linda em um vestido sereia? – Ele me olha, ela me olha, a casa me olha e eu sorrio e respondo – Vulgar! De tudo! – E percebo o ódio dela subindo enquanto ela tira a mão dele. Ela olha em volta e entra em direção a escada. – Precisava disso? – Bia perguntou e ela mesma respondeu – Eu sei que ela pegou pesado, mas ela é destrambelhada. E você sempre gosto de vestido sereia, que eu sei. – Falou já com expressão engraçada. – Vou conversar com ela depois, mas não vai passar essa tentativa de furar meu olho. E sobre o vestido: Amo! Mas não acho que vá funcionar muito bem pro que eu quero agora. – E solto uma gargalhada alta.

Continuamos na beira da piscina entre dinks e risadas, vendo coisas sobre casamentos até que Fred pergunta onde vamos morar e automaticamente respondemos em uníssono: – Lá em casa! – Todos riram e nós nos olhamos. Percebi ali que não havíamos conversado sobre o assunto. Antônio é mais rápido e logo fala – A meu favor tenho a Rosinha como vizinha e a BBB. O apartamento está recém reformado, mas se você quiser o Chay pode mexer em toda e qualquer coisa! – Ouço aplausos e Fred continua no clima e brinca – Vai Mandy, sua vez. Defende seu apt. – E eu sigo – Em meu favor eu tenho a praia, estar a 5 minutos da padaria e principalmente, mais espaço. Mas, um dia a família pode crescer e então penso em, com calma, ver outras possibilidades. – Fred e Bia falam que uma casa é o sonho de qualquer casal que pretende ter filhos. Me assusto quando vejo Antônio correndo até mim e me dando uma sequência de beijos. – Aumentar a família? Foi isso que eu ouvi? – Perguntou um tanto emocionado. Disse a ele, na frente de todos que minha opção por estar com ele não mudará, que todos os meus desejos e anseios são com ele. Hoje precisamos resolver o nosso primeiro casamento. – Acho que por hora podemos ficar na sua casa, não vejo problemas. Depois resolvo com meus pais o que faremos com o apartamento. Mas já podemos começar a ver algumas casas, o que acha? – Ele concorda e sugere o Joá. Posso concordar em começar por lá.

Vejo Larissa descendo e indo direto para a cozinha. Disfarço e vou até ela, sei que precisamos de uma conversa. Ando com bastante calma, pois ainda não tenho certeza de como puxar assunto, mas o fato é que essa situação precisa mudar. Quando chego na cozinha a encontro mexendo no celular, passo direto e vou pegar água, quando ensaio puxar assunto, ela apoia se de costas na pia ficando ao meu lado e começa a falar: – Desculpa, Amanda! Subi muito chateada com o que você falou, mas acho que passei do ponto nos comentários – Fala com o olhar focado no nada enquanto bebo minha água, ela segue falando – Tô aqui tomando coragem para admitir que isso tudo, até hoje – respira longamente e segue – foi um pouco de querer o que eu não tenho. Demorei para entender que não adianta eu agir diferente e querer os resultados iguais, entende? – Ela se vira e olha diretamente para mim. – Quando o Cauã teve no Brasil, passamos a última noite dele aqui, juntos. E ele me disse uma coisa que foi dentro do meu coração: Você não é ela! – Me assusto com a informação que eu recebo pela força de cada palavra dita, mas fico feliz em perceber que não me incomoda saber. Entretanto, nossa conversa está indo para um caminho muito mais profundo do que eu imaginava, então resolvo leva-la para o meu quarto. Lá não seremos incomodados. – Larissa, aqui não é lugar para esse papo. Vamos lá pra cima, ficaremos mais tranquilas. Acho que temos muito pra conversar. Quando passamos pela parte aberta, percebo os olhares de estranhamento, mas a única atitude que tomo é piscar para o meu noivo, para que saiba que está tudo bem.

O caminho entre a cozinha e meu quarto foi o suficiente para entender que se trata mais de uma menina que não recebeu a vida com leveza do que uma pessoa ruim, percebo que talvez baixar minha guarda e acolhê-la pode ser muito melhor e mais eficaz do que continuar com essa picuinha vinda da adolescência. A vida anda, a minha andou e se depender de mim, a dela também andará.

No quarto fiz questão de dizer o que eu não concordo, mas na mesma proporção que disse o quanto ela é linda e que escolhas melhores podem a fazer muito feliz. E, principalmente, que se ela estivesse disposta a mudar a postura de forma positiva, estaria ao lado dela. Encerramos a nossa conversa com ela chorando abraçada a mim. Quando nos juntamos a todos, novamente, o clima entre nós era leve. 

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