20 - A Jaqueta

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Rio de Janeiro, de 2022.

De sexta para sábado acabei dormindo no apartamento dos BiEd com o Cris. Ficamos até tarde no Antônio, mas aproveitei quando ele acordou para irmos para casa, Criszito já estava enjoadinho, achei melhor. Decidi estrategicamente esquecer minha jaqueta na casa do anfitrião, com a certeza que vai ser útil.

O pequeno ficou comigo até ontem. No meio da tarde Larissa, sua madrinha, chegou. Eu e a Lari também nos conhecemos há algum bom tempo, mas nunca fomos melhores amigas, sempre a vi como pouco confiável com relação aos namorados. Sempre tive a impressão de que ela era afim do Fred, mas quem sou eu... ficarei feliz em estar errada. Achei estranho quando ela bateu diretamente na porta do apartamento – Oi Lari! Nem interfonou... como você subiu? – Já abri a porta perguntando e não gostei do que ouvi – O vizinho gostoso estava subindo, me apresentei e ele abriu para mim. Inclusive, ele é gato mesmo! – Ela fala já olhando para mim. Não consigo sorrir, minha sobrancelha subiu no automático. Vejo em seu rosto que ela percebeu minha insatisfação. Ela não tem medo e continua... – Ele me disse que você estaria aqui. Isso eu já sabia, né? Ele pediu para você passar lá antes de ir embora. Qual é a de vocês, Amandex? – Perguntou me olhando nos olhos. Sem pestanejar, eu minto – Então, Larilinda – falo debochando – Gostoso, gato e meu! Então é isso... Cris já tomou banho, e café... almoço é com você. Vou no vizinho delícia, ver o que ele precisa. – Me despeço do menino, dou tchau pra ela e vou para o apartamento em frente rezando para que o Antônio seja simpático, já que tenho certeza de que ela estará olhando.

Toco a campainha e não demora para ele abrir a porta, quando isso acontece vejo um sorriso imenso e lindo feito só para mim, minha reação foi apoiar minha mão em seu peito e empurrá-lo para dentro de seu próprio apartamento. Ele estranha, mas aceita. Quando entro, encosto a porta e já me justifico – Larissa é muito chata, ia ficar puxando assunto e querendo saber da sua vida, você me deve um favor – falo um tanto apreensiva e pedindo em silêncio para não precisar aprofundar o assunto. Percebo que ele não acredita, mas aceita quando ele resolve comentar – Sei Amanda, sei! Alguma coisa tem! Mas me fala... como foi o resto da sua noite, só com Cris e sem mim? – Percebo seu tom de provocação, respondo com um leve soquinho no braço e sigo – Tá se sentindo, hein garotinho! – Ele somente ri. Ele anda pela casa ao mesmo tempo que fala – Amanda, tô aqui pensando o que eu vou pedir de resgate no sequestro disso – ele surge novamente na sala, agora com a minha jaqueta na mão. Eu automaticamente abro um sorriso maior do que deveria e neste instante percebo que ele percebeu que o casaco não foi esquecido e sim deixado.

A descrição deste momento está no Antônio com o sorriso encontrando com os olhos, segurando a jaqueta, nitidamente pensando qual vai ser seu próximo passo; eu e meu sorriso dedo-duro aguardando ele para pensar no meu, até que resolvo quebrar o silencio... – Pensa bem, essa é minha jaqueta preferida, ela vale muito! Acho que posso fazer uma proposta... dois cafés! Um agora... a gente desce, aproveita e divide uma bela fatia de bolo de chocolate e um amanhã, na feira de domingo. Aqui na sua rua. O que acha? Gente rica come pastel com caldo de cana? – Falo debochando e o encarando. Ele fecha a cara abruptamente, eu estranho, mas logo percebo que trata-se de um teatro quando ele complementa a cena – Você acha mesmo que vai pegar sua jaqueta com dois cafés? Baratinho assim? Ela vale pouco pra você? – Sorri de canto de boca ao final da frase. Percebo que ele se assusta quando vê que estou indo vagarosamente em sua direção – Visão errada dos fatos! Estou te propondo mais tempo comigo! Isso vale ouro! E de quebra, te pago os cafés! A proposta é ótima, você sabe disso... –Minha autoestima me ajuda neste momento. Já estou perto o suficiente para pegar meu casaco de suas mãos e ele permite sem esboçar qualquer movimento, visivelmente espantado. Olho dentro de seus olhos e pergunto se pra ele tudo bem, por fim ele aceita minha proposta, pede dois minutos e volta com outra camisa, para já descermos.

O bolo de chocolate está ótimo! O clima entre nós um tanto estranho, deliciosamente estranho.

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