8 - Pós visita Lorenzo e Rosa

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Rio de Janeiro, agosto de 2022.

Acordo mais cedo que o normal. Meu dia de ontem foi dominado por uma sensação de bem-estar com “quero isso pra mim”, meus olhos presenciaram um amor desses que todos sonham em ter. Já tive algumas tentativas, todas frustradas... já cheguei a ser noivo de uma menina linda, mas um tanto quanto fútil. Não dormi direito pensando na cena que vi ontem no meu café da manhã.

- Realmente, eu e Bruna nunca seríamos assim – falo entre goles de água do meu primeiro copo do dia.

O perfil da minha ex-noiva era o oposto do que eu espero pra minha vida, por sermos amigos de infância, tudo foi fluindo sem eu perceber. Nossas famílias eram próximas e participavam do mesmo ciclo chato de amizade, onde só era permitido proximidade a quem tinha o mesmo alto poder aquisitivo. Onde predominava um misto de prepotência com falta de conhecimento real do mundo. Definitivamente, mesmo sendo fruto deste lugar, eu não me encaixava ali. Bruna é uma menina linda, com os olhos mais azuis que eu já tive oportunidade de ver, mas no final... era só isso!

Sinto minha barriga roncar, lembro que não jantei. Na mesma hora que eu sinto o cheiro de uma fornada de broa saindo... hora de descer. Na hora que eu abro o meu portão, vejo Amanda estacionando o carro do outro lado da rua. Como a implicância não pode parar, espero que ela me veja e entro satisfatoriamente. Logo avisto Ricardo e falo já rindo:

- Espera pra vê... alguém vai entrar bufando! – Me viro para o balcão e falo com a Vic – Lá de casa senti o cheiro da broa, quero ela quentinha, do jeito que está. Traz manteiga extra e um café coado, por favor. – Vou direto para a minha mesa e fico esperando.

Amanda entra na sequência, passa direto por todo mundo e senta ne mesa em frente. Me olha de forma direta e sem piscar, nessa hora senti minha espinha gelar. Se ela pudesse tenho certeza que pulava em mim.

Na hora lembro do bilhete que ela me deixou outro dia e tenho uma ideia. Chamo a Vic e peço pra colocar meu café pra viagem, já passo a manteiga na minha broa, me levanto deixando a mesa vazia. Percebo o olhar da minha divisora de mesa em mim, acompanhando cada posso que eu dou. Evito olhar, mas certamente está franzindo a testa, com aquele rosto lindo e tão expressivo.

Me dirijo ao caixa e falo pra Sarah:

- Acordei inspirado pelo casal de idosos de ontem, acho que vou ser gentil hoje, vou deixar a mesa livre pra Brabinha. Inclusive, vê quanto dá o dela e acrescenta um brigadeiro, vou deixar pago junto com o meu. Tem papel e caneta aí? Vou devolver o bilhete, mas pede pra meninas entregarem pra ela assim que eu sair... pode ser?

A dona da padaria abre um sorriso imenso e me entrega um guardanapo. Escrevo o bilhete:

“Nem todos os dias são ruins, espero fazer o seu hoje melhor!
Vai lá, nossa mesa hoje é só sua”

Saio e aguardo de forma discreta para saber sua reação. Quando Pam leva o bilhete, junto com o brigadeiro, ela lê e olha em volta. Acredito que esteja me procurando. Como não me encontra, abre o seu sorriso mais bonito, levanta já comendo o brigadeiro e senta na mesa que ela tanto ama. Realmente aquele lugar combina com ela.

Me veio um pensamento... qual seria a história daquele lugar específico? Faço uma anotação mental de perguntar sobre a mesa ao Ricardo.

Subo para me arrumar e seguir o meu dia.

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