37 - Arraial

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Rio de Janeiro, dezembro de 2022.


Cheguei ontem à noite em Arraial do Cabo, foram as três horas mais demoradas dos últimos tempos. Assim que saí da BBB liguei para a minha mãe contando o que tinha acabado de acontecer e avisei que iria somente passar em casa e estava indo para lá. Fui recebida com um abraço gigante, desses que tem poder de cura, que só mãe pode dar. Deixei minha mala em um dos quartos vagos e a encontrei na cozinha da pousada. Meu pai estava recebendo novos hóspedes e assim que terminou veio ao nosso encontro. Tomamos chá, os três juntos, na mesa da cozinha era uma das lembranças recorrentes mais gostosas, tem cara de problema resolvido. Minha família não é invasiva e por isso ninguém perguntou nada, só me receberam.

Para ocupar minha mente resolvi ajudar no jantar dos hóspedes, trabalhar é sempre um santo remédio. Meu telefone estava no mute desde que saí do Rio e aproveitei para me desprender de tudo que estava acontecendo. Somente quando fui para o quarto que peguei o celular, tinham muitas ligações e milhares de mensagens. Fui por partes, respondi primeiro as do trabalho e já informando que amanhã eu ficaria off. Depois peguei os particulares, mas a verdade é que eu precisava mesmo responder só as do Antônio. E falar o que? Que eu fugi? Porque no final das contas foi isso que eu fiz, fugi igual ao Cauã e me sinto péssima. Mas ainda estou me sentindo uma idiota e não tô pronta para nada. Resolvo tomar banho e colocar um pijama para me jogar na cama. Pouco depois que saio do chuveiro ouço batidas na porta do meu quarto, era minha mãe. Ela pede para entrar eu já sei que os planos de descansar estão indo pelo ralo. Ela pede para pentear meus cabelos, quando sento a sua frente ela começa a conversa que eu já estava esperando.

Minha mãe é uma pessoa que fez a opção por uma vida calma, mesmo na época em que ainda atuava na sala de aula, era vista como a professora que melhor acolhia os alunos, os recebia com amor e sempre tinha uma palavra de carinho e incentivo. Ela começa colocando meus cabelos para trás com uma leveza imensa, pega a escova, põe a mão nos meus ombros e me olha pelo espelho que está a nossa frente, sorri de forma meiga, abaixa e me dá um beijo no topo da cabeça.

– Como você está se sentindo, minha filha? Para você estar aqui é porque realmente foi muito difícil?

Ela pergunta enquanto dá a primeira escovada. Minha reação foi automática, chorei! Chorei como criança, chorei por ter explodido na frente do Antônio, chorei por ter fugido igual ao Cauã, chorei por depois de tanto tempo, ter tido dificuldade de lidar com uma situação e por fim, chorei por ter me sentido vulnerável. Nessa hora só sinto o abraço da minha mãe, forte, firme, me dizendo que não é fim do mundo. Ali ficamos por algum tempo, até que ela me deu a mão e me levou até a cama e se sentou ao meu lado.

– Tá, Amanda! E agora? Me fala como você sentiu quando o viu depois de tanto tempo? – Fez a pergunta com algum receio, mas essa eu sabia responder

– Senti que a Amanda de anos atrás tinha necessidade de falar tudo que queria. Mas foi só isso! Agora só consigo pensar no Antônio, mãe! Tô com tanta vergonha que não tive coragem de atende-lo ou de mandar mensagem. – Ela me olha e diz que é visível o tamanho do meu amor por ele e eu reforço que é imenso e que meu coração está doendo por não estar deitada com ele, como todos os dias nos últimos tempos.

– Amanda, não esquece o que te falei sua vida inteira. Segue o seu coração, ele é o caminho. Você tá aqui e eu estou muito feliz por isso, mas você sabe o que fazer. Liga para ele, seu namorado merece uma explicação. Pensa que ele também está preocupado com você. – Minha mãe está certa, mas preciso de um pouco mais para me sentir forte o suficiente. Como se fosse um sinal, ouço uma batida na porta do meu quarto, era o meu pai, trazendo uma bomba de chocolate, receita da época da "Padaria da Esquina". Eu amo os meus pais! Carinho, chá, conversa, acolhimento, amor e bomba de chocolate! Eu tenho muita sorte.

Quando os dois saíram do meu quarto, peguei o telefone e olhei, ainda não tive coragem. Rolei para um lado, depois para o outro e não consegui dormir. Minha cabeça está no Rio, no apartamento que fica exatamente em cima da melhor padaria do meu bairro. Fecho os olhos e o vejo. Abro e penso nele. É definitivo, não sei mais dormir sem ele. Levanto, troco de roupa, vou até o quarto dos meus pais e aviso que estou voltando para casa. Eles tentam me fazer ficar até de manhã, mas não posso ficar mais. Então minha mãe me abraça, me abençoa e diz:

– Amanda, digna de ser amada! Não esquece! – E me beija na testa. D. Regiane sabe das coisas, já estou mais calma e confiante. Meu pai me fez prometer que avisava assim que eu chegasse. Em duas horas e meia eu estava estacionada novamente, no mesmo lugar que o carro estava a tarde. Mas agora, ainda sem avisar, venho dizer que ninguém vai estar entre nós. Pego as minhas chaves e subo, me enrolo um pouco com a chave de papaiz e faço mais barulho do que imaginava, vou direto para o quarto dele. E foi aí que tudo desandou, ele não estava lá. Cama arrumada, sem sinal de ninguém. Quando estou fechando o apartamento ouço movimento na porta em frente.

– Amanda! – Diz Fred. Sorrio com vergonha, tenho certeza que ele sabe, até porque também tinha mensagem dele e da Bianca, que eu também não respondi. – Ele não tá. – É a única coisa que eu consigo falar e ele me fala que o Antônio não quis ficar sozinho e foi para a mãe. Dou uma meia corrida, abraço meu amigo e agradeço.

Atravesso a Cidade em vinte minutos, já que de madrugada quase não tem transito. Chego na porta da mansão e toco o interfone. Sou atendida pela senhora que trabalha para a família, depois de me explicar, me deixou entrar. Quando estaciono vejo a imensa porta se abrir e D. Wilma está na porta. Entro receosa e falo

– Preciso ver o Antônio, ele está aqui? – Ela está séria, mas abre um sorriso curto

– Não sei o que houve, mas eu nunca vi meu filho assim. Ele te ama e pelo que eu tô vendo, você também o ama! Ele tá no quarto dele! Vai lá! – Eu subo correndo até olhar para a porta... entro no quarto escuro, na ponta dos pés já tirando a minha roupa. Antônio não está dormindo e se assusta com o movimento, quando ele acende a luz da luminária que fica ao lado da cama, eu já estava engatinhando na cama chegando perto dele. Vejo o celular em suas mãos, tiro o aparelho e apoio no travesseiro que estava ao seu lado. Ele não se mexe, um olhar confuso, com um mix de alívio e tristeza. Sei que é culpa minha e estou disposta a resolver isso agora. Ele sustenta o olhar nos meus olhos e não penso, tiro meu sutiã e subo em seu colo.

– Desculpa ter fugido! Tive vergonha do que eu fiz. Fui pior do que uma criança mimada. – Eu o beijo e ele se afasta enquanto fala o meu nome. Eu insisto, pego as suas mãos, uma eu coloco em minha cintura e a outra sobre o meu peito e continuo

– Eu te amo! Isso em momento nenhum foi dúvida! Eu fui para a casa dos meus pais, até tentei dormir lá, mas não durmo mais longe dos seus braços – O beijo e ele me beija de volta, enfim! Sinto sua mão pressionando o meu seio e vindo para mim. Repito a todo tempo que o amo! Amo como nunca amei ninguém! Amo de sofrer de ter feito um papelão na frende dele! Amo de ter medo dele não me querer mais! Essa madrugada, diferente de tudo que fizemos até hoje, fizemos amor de forma lenta, com carinho e declarações. Ele também disse que me ama! E implorou para que eu nunca mais o deixasse sem notícias. Que ele teve medo pelo sumiço, preocupado com o que poderia ter acontecido, até que sinto meu corpo reagir ao seu e chego ao meu ápice ouvindo ele dizer mais uma vez que me ama! Logo depois sinto o peso do seu corpo sobre o meu e percebo que ele também gozou. Não deixo ele se afastar, o abraço com força e aperto sua cintura com as minhas pernas, ouço ele rindo da força que eu tô fazendo, até que ele se atenta a uma coisa e diz nos separando e sentando na cama:

- Amanda, você disse que tava aonde? – Eu rio envergonhada, e digo que viajei por quase seis horas para estar com ele novamente. Ele ri e diz

– Foi tão longe pra ter certeza de que não dormiria sem mim? – Respondo sem nenhuma vergonha

– Fui tão longe porque lá é meu porto seguro, assim como nos seus braços. – Ele me puxa, me pega no colo e me leva para o chuveiro. Pela janela vejo a luz do dia. Ainda bem que pedi dispensa pra hoje.

EVERY DAY, ONE DAYOnde histórias criam vida. Descubra agora