33 - Rosinha

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Rio de Janeiro, dezembro de 2022.


É terça-feira, está perto das dezoito horas quando ouço do quarto a campainha tocando. Peço para o Fred abrir, já que está mais perto da porta. Estamos esperando visita, então imagino quem é e acerto quando ouço a voz da Amanda falando com o Cris, que estava brincando no chão da sala. Ela entra de mãos dadas com o nosso vizinho, e o Fred dá uma gargalhada alta seguido de uma comemoração.

– Eu sabia! Que bom que vocês se entenderam! – Dá um abraço forte no Antônio e despenteia o cabelo da Amanda.

- Sai garoto! Ô Bianca, olha seu marido aqui bagunçando o meu cabelo. – Ouço ela rindo, com a intimidade que temos por tanto tempo de convívio. Até que ouvimos um – Xiiiiiuuuuuu, neném tá dormindo! – Com uma vozinha infantil. Ouço eles rindo até que o casal vem para o quarto onde eu estou com a Rosinha.

Assim que entram no quarto Amanda me dá um longo abraço. Ela se vira para o pequeno moisés onde está a bebê, e a observa dormindo.

– Ai! Quero segurar, pode? – Pergunta sem nenhuma vergonha e continua – Antônio cadê o presente que compramos para trazer?

– Não trouxe, deve ter ficado lá em casa ou no seu carro. – Percebo o sorriso assustado dele. Antes que Antônio pudesse responder ela já resolve o que vai fazer

– Vou até o seu apartamento ver, se não estiver vou lá vou direto no carro. Minha última tentativa vai ser ir lá em casa. – Eu e Antônio até tentamos fazer ela ficar, mas Amanda manteve que queria o presente, que ela reforçava a todo tempo que havia comprado com muito amor. Quando ela sai do cômodo, percebo que meu vizinho fica desconfortável, mas sei que é a oportunidade que tenho para conversar com ele sobre a minha amiga. Quando Antônio ameaça sair eu peço para que ele pegue a cadeira que está em minha penteadeira e sente – Aproveitando que a Amandinha saiu, senta aí. Quero conversar com você. – Falo com tom sereno e percebo que ele está levemente assustado. – Aproveita e chama o Fred, daí da porta ele consegue participar – E assim ele fez. Logo estávamos os três.

Sou conhecida por levar minha vida de forma leve e ter falas diretas. Decido não fugir dessa linha. Olho para o Fred pisco e então me viro para Antônio e começo a falar – Sabe vizinho, eu e Fred estamos juntos há bastante tempo, nos conhecemos aqui do bairro ainda adolescentes. Eu estudei com a Amanda quando éramos pequenas e meu marido morou no mesmo prédio que ela a vida toda, antes deles comprarem o apartamento da praia. – Antônio ouve com atenção, parece interessado e neste momento percebo que ele gosta muito da minha amiga. – Tô te contando isso por que acho importante você saber o quanto ela é especial para nós. Antes de você ela namorou um cara bem babaca, um calvo esquisito, ninguém gostava dele, se apegou nele para esquecer uma desilusão importante. – Fred me interrompe e começa a falar – Mano, Amandex é da hora. Quando o Rei precisou ir para o intercambio e a família disse que ele não voltaria, ela ficou mal, se ligou no primeiro idiota que apareceu. Mas ela é uma fênix e se refez. Desde que você apareceu a gente percebe que ela está reluzindo. – Eu completo – Todo mundo percebeu que ela curtiu você e hoje a gente vê o quanto ela tá feliz. Nos falamos todos os dias pelo whats. Não perde isso! – Ouço minha filha choramingar, a pego no cestinho e a ponho em meu colo a acalentando. Antônio, assim como Amanda, era muito transparente e percebo que ele está com um sorriso largo, até que ele fala: - A verdade é que eu me apaixonei por ela logo que a vi. Me mantive respeitando seu espaço e tô muito feliz de a gente estar junto oficialmente. Meu propósito é a felicidade dela e acho que estou no caminho certo. – Fred diz que é nítido o quanto estão fazendo bem um ao outro e que era pra ser. Cris me chama na sala, aproveito que Rosinha voltou a dormir e vamos os três dar atenção ao meu primogênito. O papo mudou totalmente de rumo e estamos todos nos divertindo com as histórias que o Cris tenta contar. Pela demora, Amanda foi em casa. Santa teimosia!

Repentinamente a porta da minha casa abre, vejo Amanda com algumas sacolas na mão. Sempre foi exagerada, mas uma coisa me chamou atenção. Se estamos todos aqui em casa e ela não interfonou... mais ninguém tem a chave, como ela entrou? Faço a opção por perguntar em outro momento. Ela está com a expressão feliz e logo puxa uma sacola e entrega para o Cris, que faz uma festa em receber o presente. Só depois ela me chama e vamos juntas até o quarto para deixar as sacolas que trouxe, se dirige ao banheiro para lavar as mãos, pega um cueiro e aí sim segura a Rosa. Percebo o olhar de encantamento dela para a minha mocinha. Ficamos ali conversando sobre essa fase de adaptações familiares, quando novamente ouço o interfone tocar – Fred, vê aí por favor, você tá esperando mais alguém? – Quando me viro para a minha amiga ela sorri e pisca, já sei que isso é coisa dela. Fred aparece na porta e fala que a Vic está subindo com um bolo. Antônio sugere um café, Fred topa, Amanda me acompanha em um chá. A visita foi incrível. Eu estava precisando dessa pílula de felicidade.

Pouco antes deles saírem Rosinha chora com força, choro de fome. Olho para o meu marido e percebo que é um bom momento para falarmos – Amandinha, me dá uma ajuda por favor. Consegue trazer a chorona da sua afilhada pra mim? – Ela levanta, para, olha pra mim já chorando, dá uma corrindinha beija a minha testa e agradece, dá um soquinho com o Fred, que também está emocionado, um selinho no Antônio e corre pro quarto. Quase uma meia maratona pela sala. De lá ela vem com a Rosinha em seu colo, ainda muito emocionada e me entrega. Explico para o Antônio que o padrinho é o JV, irmão do Fred. Amanda diz – Ah! O JV é legal, era chato quando a gente era criança. Mas todos os irmãos mais velhos eram – Antônio não se importa e está genuinamente feliz por ela. Eles têm sorte, assim como eu tenho, não é todo mundo que encontra um amor tão entregue. Quando nos despedimos aproveito para perguntar como ela entrou no prédio se todos os moradores estavam juntos aqui. Ela sorri, me abraça e fala baixinho no meu ouvido. – Agora eu tenho as chaves da casa do Antônio. – Me dá um beijo estalado, fala com os meus meninos, vai novamente ver a afilhada e atravessa o corredor de mãos dadas com o namorado.

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