17 - Conversa Franca

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Rio de Janeiro, outubro de 2022.

Impressionante como eu gosto da minha rotina. Ontem tive uma reunião importante bem cedo, não consegui tomar café do jeito que eu gosto. Meu dia foi pesado e arrastado, consequentemente a noite foi péssima, quase não dormi. Preciso que hoje seja melhor e para minha felicidade, minha refeição matinal seria do meu jeito, na minha padaria, na minha mesa, com a minha duplinha Loira Braba, com tranquilidade.

Desço as escadas meio que correndo e entro na padaria com toda expectativa que eu havia criado e já sinto cheiro de café sendo passado na hora e tinha certeza de onde estava vindo, viro para confirmar e estava certo! Amanda já está se servindo. Caminho até ela sorrindo e vejo que ela me retorna dom um sorriso não tão grande. Mas, se tratando dela, alguma coisa eu fiz, ela acha que eu fiz ou eu deveria ter feito! Coço a nuca e acesso a mesa.

- Bom dia, Amanda! – Falo já me sentando e analiso sua reação. – Tá vendo! Já até sentei, já sei que eu não cresço mais. – Pisco com implicância e perspicácia. Ela engole um pouco do líquido preto que está em sua xícara e nessa hora percebo que está usando um utensílio maior do que o de costume. Respira longamente, sorri e responde como quem quer puxar assunto – Bom dia, Antônio! Quanto tempo... sumiu ontem! O que houve? Perdeu a hora? – Me olha nos olhos. Sinto que estou sendo analisado. Resolvo relaxar, não vou entrar nesse jogo, hoje não!

- Nada Amanda, tinha uma reunião bem cedo! Infelizmente não foi possível vir, só passei e levei. Mas devo dizer que senti sua falta, até te deixei um presente. –  Pisco e vejo ela se acertar na cadeira um tanto desconsertada. Foi engraçado.

Pam vem até nós para saber o que eu vou comer e avisar para a Amanda que os pães de queijo que ela está esperando saem em três minutos. Resolvo que hoje quero comer exatamente a mesma coisa que ela.
Ana traz meu duplo coado e informa que os nossos pães chegarão juntos. Acho engraçado a forma que ela fala a palavra JUNTOS. Assim que a garçonete sai Amanda arruma o cabelo, ameaça falar, desiste. Repete o processo e, enfim, fala.

- Ouvi dizer que teve uma moça linda com você aqui esses dias...  Era a moça do telefone? – Bebe outro gole e eu me assusto dela lembrar desse fato. Fico com vontade de rir, ela parece incomodada. E, como não é segredo pra ela, falo sem rodeios:

- Que memória boa! Sim, era ela... Como você perguntou mesmo? – Falo tentando arquear a sobrancelha e falho novamente!

- Pela hora da ligação, ou era amor ou era problema. E para ela vir até aqui... – corto antes dela completar. – Problema! – Falo parecendo mais mal-humorado do que eu imagino.

- Somos amigos a pouco tempo, tem muito sobre mim que você ainda não sabe. – A encaro e continuo. – O nome dela é Bruna e sim! Ela é uma mulher deslumbrante! Nos conhecemos desde que me entendo por gente, namoramos desde cedo e por longos anos. Até noivamos – vejo ela engolindo, mesmo sem ter nada na boca – mas não era o que eu queria pra mim. Não achei justo mantê-la em um relacionamento sem futuro. Não era respeitoso – falo dando de ombros, percebo que expus mais do que ela estava imaginando receber, mas julgo que tomei a melhor decisão em fazê-lo. Na minha cabeça o assunto estava encerrado, mas não para ela! Doce ilusão. Chega nossa comida e eu agradeço por isso! Mas não escapo da sequência.

- E aí? É só isso? Não vai me contar por que ela saiu chorando? Conta a história completa – sorriu e arqueou a sobrancelha ao mesmo tempo. Essa expressão eu ainda não conhecia.

- Curiosa! – Retruco, mas cedo a ela a informação. – Foram muitos anos, naquele dia ela havia me ligado de madrugada, visivelmente alterada.

- Bêbada? – Ela me interrompe pra ter certeza, confirmo com a cabeça. Para ganhar tempo, bebo meu café e a analiso. Resolvo seguir – Então de manhã ela me ligou novamente e marcamos aqui. Ela veio me dizer que foi pedida em casamento e que seguiria a vida – Falo escolhendo as palavras. – Admito que fiquei feliz por ela! E por mim, que não vou mais receber ligação de madrugada. – Falo em paz e feliz!

Do nada ela começa a enumerar o que já sabe sobre mim e me divirto. Ela fala:

- T.I., empresário, rico, já quase casou. O que mais você esconde? – Fala rindo. Não perco a oportunidade – A partir de agora é um pra um. Um meu pra um seu. – Pisco. Entramos em crise de riso e o clima fica leve. Meu telefone toca e eu preciso sair. Dou um beijo na testa da Amanda, percebo ela desconcertada. Saio rapidamente saboreando essa sensação.

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