Rio de Janeiro, dezembro de 2022.
Depois de muito tempo morando fora, vim passar uma temporada no Brasil. Não é possível dizer que estou confortável com a decisão, entretanto em algum momento isso precisaria acontecer. Meus pais já não moram no mesmo bairro, assim que eu fui para o intercambio minha mãe fez meu pai vender a nossa cobertura com vista para o mar e mudar para uma casa em condomínio fechado. Meu pai é médico, um renomado neurocirurgião. Ele trabalhava em vários lugares, além de dar aula em duas universidades fora do estado, chegamos a ficar vinte dias corridos sem a presença dele em casa. Minha mãe nunca trabalhou, ela é uma pessoa que sempre teve a necessidade de controlar tudo e todos que viviam a sua volta, isso incluía a mim e o meu futuro. Sou filho único, talvez isso tenha facilitado toda a expectativa depositada sobre minha vida. Quando comecei a namorar ela entrou em crise, não aceitou porque dizia que iria interferir nos planos dela. Quando ela descobriu que era a Amanda, tudo ficou pior. Ela simplesmente não aceitava que eu namorasse com uma bolsista da escola, ali eu vi que tudo era muito maior do que eu imaginava. Eu teria que lidar com o preconceito dela, e não poderia deixar na Amanda perceber.
Eu sempre tive planos de intercambio de férias nos Estados Unidos e pretendia fazer isso junto com a Amanda, falávamos muito sobre isso e já estávamos começando a ver alguns valores, já que ela precisava se organizar financeiramente. A ideia éramos ir juntos nas férias de inverno do Brasil, assim poderíamos aproveitar o verão do hemisfério norte. O problema foi quando a minha mãe descobriu. Quando entramos de férias escolares minha mãe informou que iríamos passar as festas de final de ano em Nova York e eu já não voltaria mais, ficaria direto para o intercâmbio e que estudaria o ano letivo lá, entrei em pânico. Contar para a Amanda foi muito difícil, tentei reverter de todas as formas, mas não teve jeito, eu precisei ir. Não tenho lembrança mais triste do que a conversa que tivemos no aeroporto, enquanto nos despedimos. Amanda foi o meu primeiro amor, com ela descobri algumas coisas que eu não via em casa: parceria, resiliência, companheirismo e um amor livre de medos e preconceitos. Ela sempre foi uma menina forte e determinada, me sentia orgulhoso ao lado dela. Nosso último beijo foi triste e doloroso. Nesse ano muita coisa aconteceu e eu não voltei. Nos falamos no dia que seria a minha volta e ela disse que não me esperaria, nem eu merecia que ela fizesse isso.
Minha vida fora do país foi muito boa, viajei bastante, conheci pessoas, fiz esportes, estudei na melhor faculdade de tecnologia do mundo. Nesse período de MIT conheci o Antônio, eu já era fã dele, acompanhava sua carreira como lutador, eu também lutava então quando descobri que estudaríamos juntos não pensei duas vezes em fazer amizade, logo estávamos morando próximos e treinando juntos todos os dias. Nos tornamos inseparáveis, conversávamos sobre tudo, contei a minha história com a Amanda do jeito certo, sem tirar meus erros e tristezas. Ele sabia o quanto me sentia covarde, mas sempre me acalmou, já que eu era menor de idade e não poderia ter tomado outra decisão que não fosse acatar as vontades da minha mãe. Acompanhei a saga do namoro a distância dele com a Bruna e via como ela se sentia insegura com a relação tão longe fisicamente e o quanto ele se forçava a estar com ela. Quando nos formamos ele optou em voltar para o Brasil e eu continuei por lá. Sei que a primeira coisa que ele fez quando chegou foi dar um ponto final no relacionamento dele, logo ele abriu uma empresa, assim como eu.
Ontem quando eu pisei no Brasil, pensei que gostaria de ter notícias da Amanda, mas seguindo o que aconteceu depois de passado o primeiro ano, tenho quase certeza que não conseguirei ter acesso a ela. A outra pessoa que eu mais tinha saudade era do Antônio, no dia seguinte, assim que me instalei e organizei minha vida, mandei mensagem para ele dizendo que estava no Rio e queria vê-lo, rapidamente ele me respondeu topando e me mandou a localização de onde ele sugeria que fosse. Não pude conter o sorriso quando vi que era na padaria que eu frequentei anos da minha via, hoje ela tem outro nome, mas na minha época era "Padaria da Esquina", do pai do Alface, Amanda vivia dizendo que eles tinham a melhor bomba de chocolate do mundo. Isso era um sinal! Será que ainda é da família? Bom, vou descobrir hoje à tarde. Marcamos às 17hrs.
Chego a padaria que hoje se chama Baguette Bakery e me encanto por ser exatamente onde eu imaginava, mas totalmente diferente. Uma cara mais moderna, parece recém reformada. Sou tomado por um saudosismo, não consigo parar de sorrir. Logo avisto Antônio, ele está de pé me esperando, nos abraçamos saudosamente. Quando sentamos falo que já conhecia o lugar, que frequentava antes de sair do país, inclusive que era do pai de um amigo de escola. Percebo Antônio um pouco confuso, mas pode ser impressão... prefiro não perguntar. Um pouco depois somos interrompidos pelos donos da padaria, reconheço a voz do Alface! O Alface e a Sarah hoje são os donos da padaria, fiquei feliz em vê-los. Continuo conversando com o Antônio até que percebo ele olhando fixo para alguma coisa atrás de mim, quando me viro e me assusto quando vejo a Amanda. Levanto desnorteado, olho para ambos e não consigo entender o que está acontecendo. Se eu pudesse eu saía correndo, mas não posso me acovardar mais. Amanda é tomada por uma raiva acumulada, não sinto amor, só o peso da decisão tomada. Quando ela vai para o lado do Antônio, percebo que ela está segura da sua decisão e então se permite fazer um pedido simples e direto, que eu não volte para a vida dela. Aceito mentalmente, a vejo se despedir do namorado, que está tão atônico quanto eu e sair. Não existe clima para conversas, me despeço do Antônio sem saber o que fazer, na saída Ricardo fala que os BiEd moram em cima da BBB, mesmo sem combinar nada toco lá. Fred se assusta e abre rápido. Bianca me abraça e pela minha cara eles já sabem o que aconteceu, quando sento no sofá olhando pequeno Cris falo – Decisões foram tomadas e a vida andou, mas ainda assim Amanda foi a pessoa que eu mais amei na minha vida. Ela segue linda e reluzente e hoje namora o meu melhor amigo... – Fred põe a mão nos meus ombros enquanto eu aceito o meu futuro.
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EVERY DAY, ONE DAY
FanficUma rotina Um café Uma mesa Várias percepções O quanto alguém pode alterar sua vida apenas sentando em seu lugar favorito? - Uma FIC COLLAB com muita gente legal! Recheada de amor!