25 - Brigadeiro

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Rio de Janeiro, novembro de 2022.

Acordo e penso, hoje eu quero mais cinco minutinhos. Coloco o despertador no modo soneca e tento voltar a dormir. Nada feito. Na mesma hora eu penso que desde que eu tive nesta cama com o Antônio, não nos falamos. Ontem não nos despedimos, lembro que queria ter feito uma surpresa ontem à noite, já que não conseguiria passar para tomar café com ele. Acabou que mandei whats e as meninas me entregaram no carro mesmo. Levanto, faço toda minha rotina matinal e logo estou pronta para seguir para o meu café. O relógio me diz que está mais cedo do que eu estou acostumada a chegar lá.

Dirijo de forma tranquila, tentando postergar minha chegada. Sinto que tem uma revoada de borboletas no meu estômago. Estaciono, respiro fundo, olho para a varanda do apartamento que fica localizado exatamente em cima da BBB, percebo que a porta de correr está fechada. Fico mais tempo do que devo observando o lugar, até que faço a única opção viável, entro na padaria. Sou recebida com um sorriso lindo da Sarah, nos cumprimentamos aproveito e peço meu café de sempre e sigo até minha/nossa mesa. Pelo vidro observo a rua, aproveito e volto à minha rotina pré-Antônio, ligo o computador e dali mesmo começo a trabalhar. Como em um silêncio ensurdecedor. Não quero me adaptar a isso novamente. Fato!

Quando vou pagar Ricardo vem até o caixa falar comigo. – Amanda, vendo seu café hoje, tive déjà vu, ontem o Antônio tomou café aqui tão incomodado quanto você hoje... AA, já se completam! – Quando eu pensei em perguntar ele emendou em outro assunto – Alguém te falou que o Cristian veio aqui ontem? Mudou nada, segue a mesma pessoa! Acredita? – Nessa hora só sei agradecer por não ter conseguido estar aqui. Olho para o Ricardo, reviro os olhos e bufo – Jura? Ninguém merece! Ele é inconveniente nível ninja! – Me despeço e saio. Nessa hora me dá um estalo mental, eu estive com essa praga na feira, será que ele falou alguma coisa? Péssima possibilidade!

Meu dia foi muito agitado, alguns problemas surgem durante o dia, não consigo me ocupar com mais nada. Mas na volta para casa o transito estava maior que o normal e eu mais estressada do que um final de mês ruim. Como que em uma resolução de vida, resolvo não ir para casa. Passo em um mercadinho próximo a padaria, compro leite condensado, chocolate em pó meio amargo e dois vinhos. Quando saio de lá parto direto para a padaria, no intuito de encontrar a Vic com a única finalidade de conseguir a receita do brigadeiro dela. Ainda bem que ela não mostrou dificuldade, inclusive me deu um pouco do item que faltava à minha sacola de compras: canela.

Assim que eu me viro para sair, sinto meu telefone vibrar, sinto vontade de sorrir antes mesmo de olhar. E eu não erro, é uma mensagem do Antônio:
“FAZ DOIS DIAS QUE NÃO TOMO CAFÉ COM VOCÊ.
DEVO DIZER QUE TÔ COM SAUDADE DE TUDO.
TÁ OCUPADA? QUERO TE VER”
Não respondo, só saio e olho para cima. Ele está na varanda, de moletom, cabelo molhado e sem camisa, ainda com o telefone na mão. Ainda não me viu, só aí eu respondo:

“Ótimo! Então abre a portaria!”

Estou olhando para ele enquanto ele lê minha resposta, vejo a hora que sua respiração aumenta e ele sorri lindamente. Quando ele olha para baixo sorrio e mostro as sacolas. – Achei que você pudesse querer um brigadeiro! – Falo com um sorriso pequeno e levemente envergonhada.

Quando chego a sua porta ele está me esperando. Eis a questão, como eu o cumprimento... cheguei perto, com uma mão ele pegou as sacolas, com a outra ele me abraçou forte, como quem está genuinamente com saudade, retribuo já que me sinto igual a ele. Quando nos afastamos ele me olha como quem vê minha alma e me dá um beijo. É isso! Beijo na boca de cumprimento... gosto disso!

Ele coloca pra gelar os vinhos que eu trouxe e abre um, da mesma marca, que já tem em sua adega. Pega panela, entrego a receita da Vic e ele mesmo faz o brigadeiro, enquanto isso vamos conversando. Ele conta que achou que fosse me encontrar na padaria. Falo que queria ter feito uma surpresa, mas não consegui. Ele segue falando... conta de um cara sem noção que esteve lá que falava sobre uma menina... – O cara parecia conhecer o Ricardo a muito tempo, já chegou falando alto deixando todo mundo constrangido com as suas histórias... falava muito de uma tal de Mandy. – Do nada ele para de falar, me olha e eu gelo... o que será que o filho da puta do Cristian tinha falado? Não sei se eu quero saber... nesse momento ele mata a charada – Por acaso a Mandy em questão é você, Amanda? – Eu olho para ele e dou a minha melhor resposta – Talvez! Depende do que ele disse. – Falo com um sorriso amarelo.

O silêncio toma o lugar, não consigo ler a mente do Antônio, que é sempre tão transparente. Minha opção é por não pesar o ambiente, então enquanto ele termina o nosso brigadeiro, resolvo nos servir de mais vinho. Sua taça está do outro lado, quando passo por trás dele aproveito e dou uma sequência de três beijos em suas costas, percebo os músculos mexerem e um sorriso discreto em seu rosto. Quando ele acaba, coloca em um prato para esfriar, pega sua taça e vem em minha direção, a essa hora já estou sentada em seu sofá só o olhando. Ele estende a mão, me puxa, me dá um beijo delicioso e urgente, no qual eu faço questão de facilitar a sua vida. Quando nos separa, ele fala – Esse cara é realmente um babaca, foi grosseiro ao extremo! Mas não mentiu, você é muito gostosa! – Sorri como quem confirma e ele continuou falando – E eu não te dei um bolo, só não sabia quais eram os seus planos. – E ele pisca pra mim, agora eu quero matar o Cristian, ao mesmo tempo que quero aproveitar o Antônio. Foda-se o Cristian, pelo menos por hora.        

Acabo dormindo no sofá do Antônio. Só percebo quando ele me pega no colo e me leva pra cama, finjo que tô dormindo, mesmo sabendo que ele percebeu que não estou. Assim que ele me deita, sai, apaga as luzes e volta para o meu lado. Me dá um beijo na testa e eu abro os olhos e sorrio. – Posso me acostumar com isso. – Digo já me recostando em seu peito. Ele sorri e responde – Espero que sim! Tô contando com isso.

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