A planície estendia-se diante de nós, um cenário sombrio prestes a ser iluminado pelo clarão da batalha iminente. O vento soprava em rajadas, levantando a poeira que flutuava como espectros no ar, e o silêncio tenso precedia o tumulto da guerra. O som distante de tambores de guerra e o grito das aves de rapina sobrevoando o campo de batalha anunciavam o confronto que se aproximava. Ao meu lado, Oton, o leal guardião de Visenya, erguia a lâmina com a determinação de um guerreiro experiente. Seu rosto, marcado pelo tempo e por incontáveis batalhas, refletia uma coragem indomável, uma chama que queimava intensamente e que nunca parecia se apagar.
Olhei para ele, admirando sua determinação silenciosa. "Hoje será uma vitória, Oton. Não podemos falhar," disse, tentando infundir confiança nas minhas palavras, mesmo que meu coração estivesse inquieto.
Oton apenas assentiu, seu olhar firme e inabalável. "Lutamos pelo que é justo, meu príncipe. Essa é a verdadeira vitória." Ele era um homem de poucas palavras, mas as que proferia carregavam um peso de experiência e verdade que muitos não conseguiam compreender.
Quando a batalha finalmente rugiu ao nosso redor, o som do aço colidindo e os gritos dos homens criaram uma sinfonia caótica de destruição e bravura. Estávamos no olho da tempestade, uma dança caótica de aço e sangue que desenrolava-se como um pesadelo febril. Oton destacava-se, sua perícia em combate era uma sinfonia mortal que fazia nossos inimigos hesitarem. Cada movimento seu era calculado e preciso, como se ele dançasse entre os atacantes, uma sombra imbatível que devastava tudo em seu caminho. Seus golpes eram precisos, sua presença inspiradora para aqueles que lutavam ao nosso lado. Em meio ao caos, compartilhamos olhares determinados, uma comunicação silenciosa que ultrapassava as barreiras do discurso. Ele era um pilar de força que me ajudava a manter a sanidade em meio à loucura.
A batalha parecia se estender por uma eternidade, mas, em um momento fugaz de descuido, a cruel realidade da guerra não tardou a se manifestar. Uma sombra fugaz, uma lança habilmente lançada, e Oton caiu. Eu vi tudo em câmera lenta, como se o tempo tivesse congelado no momento em que a ponta da lança penetrou sua armadura.
O arrebatamento da morte consumiu o campo de batalha, mas meus olhos permaneceram fixos em meu fiel protetor, agora imóvel no solo. O mundo ao meu redor continuava a girar em um frenesi de violência, mas tudo que eu conseguia focar era o corpo de Oton, a vida escapando dele como um rio que se esvai.
Corri para ele, ignorando o perigo ao meu redor, ajoelhando-me ao seu lado. "Oton," chamei, minha voz embargada de emoção. Mas ele não respondeu. Seus olhos, antes tão vivos e cheios de determinação, agora fitavam o vazio, e a dor do luto envolveu meu coração como uma maré avassaladora. Ele tinha caído para proteger aqueles que jurara defender. Ele havia sido mais do que um guardião; era um amigo, um mentor, uma figura paternal para Visenya. Sua perda era uma ferida que transcendia as cicatrizes da guerra, um buraco no tecido da vida que eu não sabia como remendar.
Eu, Príncipe de Westeros, não sabia como trazer a notícia devastadora para Visenya. Como poderia revelar que o guardião que ela considerava um pai não retornaria? Como poderia confrontar a dor que sabia que veria em seus olhos?
Entre os suspiros da batalha, a morte de Oton pairava como uma sombra indelével. Minha visão desviou-se da carnificina para o horizonte distante, onde a Fortaleza Vermelha erguia-se como uma testemunha silenciosa de nossa tragédia. O caminho de volta parecia interminável, cada passo pesado como chumbo, o lamento de um coração partido ecoando em meus ouvidos. Eu carregava não apenas o peso de minha armadura, mas o fardo da notícia que precisava entregar.
Ao retornar à Fortaleza, os passos pesados ecoavam pelos corredores como o lamento de um coração partido. As paredes, testemunhas mudas de muitas histórias, pareciam sussurrar os ecos da perda que eu carregava. A porta que levava aos aposentos de Visenya permanecia imponente diante de mim, exigindo que eu enfrentasse a dolorosa tarefa de entregar notícias que nenhum guerreiro deveria ouvir.
Ao adentrar o recinto, fui recebido por um espaço que exalava a presença dela – as cortinas ondulando suavemente com a brisa, o aroma sutil de flores frescas no ar. O olhar de Visenya encontrou o meu, esperançoso e cheio de vida, um contraste doloroso com a escuridão que eu trazia. Ela estava no meio de suas atividades cotidianas, talvez revisando documentos ou cuidando de seus próprios assuntos, mas sua expressão era de expectativa.
Eu, porém, carregava o peso da tragédia que se desenrolara no campo de batalha. As palavras fugiam de mim, como se a brutalidade da realidade tivesse roubado minha capacidade de expressão. Como poderia eu, que havia enfrentado dragões e conquistado inimigos, ser derrotado por palavras que se recusavam a ser ditas?
A expressão jubilosa de Visenya desvaneceu-se à medida que as sombras da tristeza e compreensão tomavam conta de seus olhos. Ela sabia, mesmo antes que eu pronunciasse as palavras que pesavam em minha língua. Oton, seu guardião, o homem que havia estado ao seu lado desde a infância, agora residia nas sombras da memória.
Eu me aproximei, tentando encontrar as palavras que pudessem aliviar o peso da dor que ela estava prestes a sentir. "Visenya," comecei, minha voz embargada. "Oton... ele se foi. Ele caiu em batalha, protegendo-nos até o último momento."
A dor que se refletiu no rosto de Visenya foi como uma faca atravessando meu coração. Seus olhos, antes tão brilhantes, escureceram com a perda, e vi as lágrimas acumularem-se em suas pálpebras. Ela não disse nada, mas o silêncio que nos envolveu falou mais do que qualquer palavra poderia.
Ajoelhei-me diante dela, segurando suas mãos trêmulas nas minhas. "Sinto muito, Visenya. Ele foi um herói até o fim. Seu sacrifício não será esquecido."
Ela assentiu lentamente, as lágrimas finalmente caindo em cascata silenciosa por seu rosto. Não havia raiva, apenas uma tristeza profunda que parecia consumir tudo ao nosso redor. Ela encostou a cabeça em meu ombro, e naquele momento, partilhamos o fardo da perda que a guerra insensível impôs sobre nós. Oton, o guerreiro incansável, agora viveria nas histórias e nos corações daqueles que ele tocou.
Naquela noite, sob o céu estrelado que observava nossa dor, prometi a mim mesmo que honraria seu sacrifício. Que lutaria não apenas como príncipe, mas como homem, para proteger aqueles que amava e para garantir que a morte de Oton não fosse em vão. A Fortaleza Vermelha, com suas sombras e segredos, guardaria a memória de um herói cujo sacrifício ecoaria pelos corredores, lembrando-nos do custo da guerra e da força do verdadeiro amor e lealdade
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Entre Sombras e Dragões- Aemond Targaryen
Fanfiction1° Livro da Duologia: "As Crônicas dos Dragões e Sombras" Em um período de crescente tensão e traição, Visenya Baratheon, uma princesa de espírito indomável, e Aemond Targaryen, um príncipe marcado por seu passado tumultuado, enfrentam uma batalha n...