Dois meses haviam se passado desde que a escuridão reivindicou Oton, e Fortaleza Vermelha parecia enredado em sombras que se estendiam além das torres e muralhas. As paredes, que uma vez testemunharam momentos de alegria e esperança, agora refletiam o vazio que tomava conta de nossa morada. Visenya, minha esposa de coração livre, tornara-se uma sombra de si mesma. A dor da perda dançava em seus olhos, obscurecendo o brilho que uma vez iluminou nossos dias.
A presença de Oton era como uma âncora que nos mantinha firmes diante das tempestades, e sua ausência criava um vácuo que nenhum de nós sabia como preencher. Eu, Aemond, buscava paciência, mas minha alma inquieta se debatia contra os grilhões da incerteza. Era como se a própria essência de Rochedo do Dragão tivesse mudado, os corredores da fortaleza ecoando com o vazio de sua risada, e a distância entre nós crescia como uma muralha intransponível.
Havia uma melancolia que pairava sobre Fortaleza Vermelha, uma saudade tangível que permeava os alicerces de nossa morada. Era como se a tristeza tivesse se enraizado nas pedras, sussurrando histórias de perda e saudade. As pessoas ao nosso redor continuavam com suas vidas, mas nós estávamos presos em um ciclo interminável de lembranças e dor.
A corte, que antes era um lugar de encontros e discussões vibrantes, estava agora imersa em um silêncio respeitoso, quebrado apenas pelos sussurros de servos que passavam apressados. Todos sabiam da nossa dor, mas poucos ousavam abordá-la. Era um luto coletivo que permeava o ambiente, uma homenagem silenciosa ao homem que havia tocado tantas vidas.
Numa noite, enquanto as estrelas testemunhavam nosso reino em luto, encontrei Visenya diante da janela, perdida em pensamentos que pareciam flutuar além do alcance das minhas palavras. As cortinas ondulavam suavemente com a brisa noturna, e a lua lançava sua luz pálida sobre seu rosto, destacando as linhas de preocupação que se formaram nos últimos meses.
"Visenya," chamei-a, meu tom carregado de preocupação e, admito, de impaciência contida. Eu queria alcançá-la, mas sentia-me como um estrangeiro em meu próprio lar, incapaz de atravessar as barreiras que ela erguera ao seu redor.
Ela virou-se para mim, e por um momento, os resquícios de luz nos seus olhos foram substituídos por sombras que não pude compreender completamente. A conexão que uma vez compartilhamos parecia distante, obscurecida pelas nuvens de tristeza que pairavam entre nós.
"Estás distante, Visenya. Oton partiu, mas não precisas enfrentar as sombras sozinha," proferi, tentando encontrar palavras que pudessem penetrar o escudo que ela erguera ao redor de si mesma. Eu ansiava por ver o brilho de volta aos seus olhos, mas sabia que a estrada para a cura era longa e árdua.
"Oton...", murmurou ela, as sombras se intensificando em seu olhar. "Ele era mais do que um protetor, Aemond. Era um confidente, um amigo. Agora, as sombras envolvem-me, e não sei como enfrentá-las."
Senti a dor em suas palavras, uma dor que ecoava nas paredes do nosso quarto. Era uma dor que eu não conseguia tocar, mas que estava presente em cada momento, uma lembrança constante do que havíamos perdido. A paciência que cultivara estava à beira do esgotamento, mas lutar contra as sombras que assolavam Visenya requeria mais do que impaciência.
"Não precisas enfrentá-las sozinha, minha esposa. Estou aqui, disposto a caminhar contigo por entre as sombras até que a luz retorne," ofereci, minha voz buscando aliviar o fardo que pesava sobre ela. Eu estava disposto a fazer qualquer coisa para ajudá-la a encontrar paz, mesmo que isso significasse confrontar as minhas próprias inseguranças e medos.
Ela olhou-me, seus olhos procurando algo que eu temia não poder proporcionar. A distância entre nós permanecia, e eu sentia a urgência de dissipar as sombras que ameaçavam engolfá-la por completo. Era como se estivéssemos em lados opostos de um abismo, tentando encontrar um caminho para nos reunirmos.
"Não sei se posso..." murmurou ela, um sussurro perdido na vastidão da noite. Sua voz carregava a incerteza e a vulnerabilidade de alguém que havia perdido uma parte essencial de si mesma. Eu queria dizer que tudo ficaria bem, mas sabia que palavras vazias não seriam suficientes.
A paciência dentro de mim estremeceu, mas resisti ao impulso de expressar minha frustração. A distância entre nós não poderia ser apagada com palavras impetuosas. Era uma batalha interna, onde a compreensão e a compaixão precisavam prevalecer sobre o desejo de apressar o processo de cura.
"Não estás sozinha, Visenya. Juntos, enfrentaremos as sombras, não importa quão densas possam ser," declarei, com a esperança de que minhas palavras alcançassem as partes dela que se perderam nas sombras da tristeza. Eu queria que ela soubesse que, apesar da dor, ainda havia um caminho a seguir.
O silêncio pairou, interrompido apenas pelo suspiro suave do vento noturno. As estrelas testemunharam nosso reino, aguardando pacientemente que as sombras se dissipassem, revelando um horizonte onde a luz da redenção poderia, eventualmente, voltar a brilhar. Era um silêncio cheio de promessas não ditas, um momento de quietude onde a esperança poderia, talvez, começar a florescer novamente.
Enquanto permanecíamos ali, lado a lado, senti uma ligeira mudança na atmosfera. Talvez fosse apenas um desejo desesperado, mas acreditei que, juntos, poderíamos encontrar uma forma de navegar pelas águas turbulentas do luto. A jornada seria longa, mas a esperança de um novo amanhecer começava a surgir no horizonte, uma promessa de que, um dia, poderíamos encontrar a paz que tanto desejávamos.
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Entre Sombras e Dragões- Aemond Targaryen
Fanfic1° Livro da Duologia: "As Crônicas dos Dragões e Sombras" Em um período de crescente tensão e traição, Visenya Baratheon, uma princesa de espírito indomável, e Aemond Targaryen, um príncipe marcado por seu passado tumultuado, enfrentam uma batalha n...