Dança dos Dragões

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O salão de banquetes da Fortaleza Vermelha desdobrava-se diante de mim, um cenário de opulência tingido pelas intrigas subjacentes. Candelabros resplandeciam no teto alto, lançando um brilho dourado sobre os rostos dos convidados. A tapeçaria ricamente tecida narrava os feitos de dragões passados, lembrando a todos a glória e a tragédia da casa Targaryen. Meu vestido refletia a luz cintilante das tochas, mas a sombra da discórdia pairava sobre o evento, como uma nuvem negra em um céu claro.

Aemond e eu cruzamos olhares, faíscas de ressentimento dançando entre nós. Eu podia sentir a tensão em seu olhar, uma batalha silenciosa travada entre orgulho e desconfiança. Ele se aproximou com sua típica arrogância, sua postura altiva e olhar desdenhoso.

"Você não consegue resistir à atenção, não é? Como se pudesse obscurecer a sombra que paira sobre você," ele provocou, suas palavras gotejando desdém.

"Ah, Aemond, sempre tão encantador. Não estou aqui para ofuscar nada. A luz busca naturalmente a sua própria fonte," retruquei com um sorriso irônico, mantendo a postura ereta e o olhar fixo em seus olhos frios.

As palavras afiadas ecoavam no salão, e os nobres ao nosso redor fingiam indiferença enquanto seus ouvidos estavam atentos à nossa troca. Era como se todo o salão estivesse suspenso, aguardando o próximo movimento em nossa dança verbal. O clima tenso contrastava com o propósito festivo do banquete real, uma celebração destinada a unir, mas que muitas vezes servia como palco para as rivalidades que nos dividiam.

Lucerys, sobrinho de Aemond e filho de Rhaenyra, aproximou-se com um sorriso que desarmava. Seus olhos castanhos e cabelos da mesma tonalidade expressavam compreensão e uma maturidade surpreendente para alguém tão jovem. "Visenya, permitir-me-ia a honra de uma dança para dissipar as sombras que pairam nesta sala?"

Aemond lançou-me um olhar de canto de olho, seus olhos faiscando com uma mistura de ciúmes e irritação. "Se Lucerys acha que pode lidar com suas sombras, que assim seja. Talvez a dança seja mais eficaz que as palavras."

Aceitei com um sorriso, aliviada por um momento de leveza, e me afastei de Aemond. A música começou a preencher o salão, as notas suaves de harpas e alaúdes criando uma atmosfera mágica. Lucerys e eu nos movíamos em harmonia pela pista de dança, nossas pisadas leves ecoando no mármore polido.

"Os Targaryen parecem destinados a viver em um eterno jogo de sombras," observou Lucerys, seus passos graciosos acompanhando a melodia. "Mas talvez, através da dança, possamos encontrar um raio de luz para iluminar nosso caminho."

Concordei, apreciando a leveza da conversa que contrastava com a tensão anterior. "Nossa linhagem é repleta de segredos, e as histórias que nos envolvem não são fáceis de reconhecer. Às vezes, sinto como se estivéssemos sempre caminhando em um campo de batalhas invisíveis."

"Às vezes, a verdade está na superfície, mas optamos por não enxergá-la. É preciso coragem para enfrentar os próprios medos," comentou Lucerys, conduzindo-me pela pista com maestria.

Enquanto dançávamos, a tensão que pairava sobre mim parecia dissolver-se, substituída pela leveza da música e pela compreensão mútua. Os passos coordenados refletiam uma dança que transcendeu as intrigas e rivalidades da corte, mergulhando no âmago das complexas relações Targaryen. Com cada giro e volta, sentia uma nova liberdade, uma conexão não apenas com Lucerys, mas com o legado que carregávamos.

O banquete, agora permeado por uma harmonia renovada, prosseguiu com uma energia revitalizada. As conversas tornaram-se mais animadas, e a música preenchia o espaço entre as almas reunidas. O tempo parecia fluir suavemente, os risos ecoando pelas paredes da Fortaleza Vermelha como se fossem uma canção de esperança.

No entanto, enquanto observava Lucerys, uma nova compreensão surgiu em meu coração. A dança que compartilhávamos era mais do que uma fuga; era um lembrete de que, mesmo em meio às sombras, havia sempre a possibilidade de encontrar luz. Aemond, ainda observando de longe, parecia uma figura solitária, uma lembrança de que cada um de nós travava suas próprias batalhas internas.

O banquete terminaria, e a rotina do dia seguinte retomaria seu curso, mas naquela noite, ao lado de Lucerys, eu percebia que o futuro ainda podia ser moldado pelas escolhas que fazíamos. As sombras poderiam ser iluminadas, e os laços de sangue que nos uniam, embora complexos, eram também uma fonte de força.

À medida que a noite avançava, a Fortaleza Vermelha, com suas paredes antigas e segredos sussurrados, parecia um pouco menos opressiva. E eu, Visenya, estava determinada a navegar entre luz e sombras, em busca de meu próprio caminho e das verdades que ainda estavam por ser reveladas.


REVISADA E REESCRITA

Entre Sombras e Dragões- Aemond TargaryenOnde histórias criam vida. Descubra agora