Entre Sombras e Taças vazias

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Um crescente abismo separava Visenya e eu, como se sombras misteriosas nos envolvessem, distorcendo cada palavra e gesto. Sua expressão carregava um segredo, um peso que se tornava mais evidente a cada dia. Minha amada, antes tão próxima, agora parecia distante, envolta em mistérios que as sombras não revelavam.
O desconforto crescente alimentava a distância entre nós. No aconchego dos nossos aposentos, senti que algo se quebrava, algo que nem mesmo as sombras podiam consertar. Visenya, por sua vez, tentava esconder a verdade, mas seus olhos traíam a inquietação que lhe consumia. As palavras que uma vez fluíam livremente entre nós agora pareciam estranhas, carregadas de um peso invisível.

Diante dessa desconexão palpável, busquei refúgio na cidade, onde o tumulto e as taças vazias prometiam um breve esquecimento. Em meio a tavernas e becos sombrios, entreguei-me ao líquido âmbar que prometia alívio temporário. Não era a primeira vez que procurava consolo nas taças, mas, dessa vez, o motivo era mais profundo. Uma névoa de frustração pairava sobre mim, obscurecendo meu julgamento e alimentando a amargura que crescia em meu coração. Bebi não para esquecer Visenya, mas para afogar as sombras que nos separavam.

Cada gole era uma tentativa de escapar, não apenas das tensões do presente, mas também das sombras do passado que teimavam em ressurgir. As vozes na taverna, os rostos borrados, tudo se mesclava em um emaranhado de sensações difusas. A única certeza era a dor que ecoava silenciosamente, uma sombra da qual não podia escapar. A embriaguez oferecia um alívio temporário, um breve esquecimento das preocupações que me atormentavam, mas ao amanhecer, as sombras voltavam, mais densas do que nunca.

Mesmo em meio à névoa etílica, mantive a fidelidade que jurara a Visenya. Em cada riso falso, em cada conversa superficial, ela permanecia no meu pensamento, um farol que eu tentava alcançar mesmo quando as ondas da embriaguez me puxavam para o abismo. Sabia que a fuga era temporária e que, mais cedo ou mais tarde, teria que enfrentar a realidade que me aguardava na Fortaleza Vermelha.

O retorno à Fortaleza Vermelha foi solitário, marcado pelo eco vazio das risadas noturnas. No silêncio dos aposentos, percebi que minhas ações não eram apenas uma fuga das sombras, mas também uma tentativa falha de preencher o vazio que crescia entre Visenya e eu. O silêncio que nos envolvia era esmagador, uma barreira invisível que nenhum de nós sabia como romper.

A verdade oculta, a névoa da bebida dissipada e, diante de mim, restavam apenas as sombras que persistiam, testemunhas silenciosas da jornada árdua que se desdobrava em nosso casamento. O desafio agora era enfrentar as sombras, sem recorrer às taças vazias, e buscar a luz que nos guiaria de volta ao caminho que, um dia, juntos escolhemos trilhar.

Sabia que não seria fácil. As sombras tinham raízes profundas, alimentadas por segredos e desentendimentos. Mas, por mais difícil que fosse, estava decidido a lutar. Lutaria pela luz que uma vez iluminou nossos dias, pela esperança que ainda brilhava, mesmo que tenuemente, no coração de Visenya e no meu. E, acima de tudo, lutaria pelo amor que nos uniu, um amor que, apesar das sombras, ainda pulsava forte em nossos corações.

Entre Sombras e Dragões- Aemond TargaryenOnde histórias criam vida. Descubra agora