Cair de Máscaras

16 1 0
                                    

A Fortaleza Vermelha ressoava com o murmúrio das velas acesas e o roçar suave das vestes que se moviam pelos corredores. O ar carregava o cheiro da cera derretida e dos pratos requintados que estavam sendo preparados na cozinha. Era uma noite de jantar em família, uma tentativa de reunir aqueles cujos laços eram ameaçados pelas sombras recentes que pairavam sobre Rochedo do Dragão. Apesar de tudo, os servos se movimentavam com a mesma eficiência de sempre, mas havia uma tensão no ar, uma hesitação em seus passos que refletia o clima da casa.

Mesmo a contragosto, Visenya permitiu-se ser guiada para a sala de jantar, onde uma atmosfera tensa antecipava o banquete. Ela sentia o peso das expectativas em seus ombros, uma mistura de ansiedade e resignação. Cada passo em direção à sala parecia aumentar o nó em seu estômago, e ela teve que respirar fundo para se preparar para o que estava por vir. A madeira polida da mesa refletia as luzes das velas, criando um jogo de sombras que parecia dançar ao ritmo das emoções contidas dos presentes.

Sentados em torno da longa mesa, Aemond ao lado de Visenya, e Aegon do lado oposto, a tensão era quase palpável. Era como se as paredes do salão estivessem impregnadas das palavras não ditas e dos sentimentos reprimidos. Aegon, talvez sentindo o peso de suas ações, tentava dissipar a atmosfera sombria com um sorriso confiante, embora seus olhos traíssem uma leve hesitação. Seus movimentos, normalmente cheios de segurança, estavam ligeiramente calculados demais, como se ele soubesse que havia cruzado uma linha que não deveria.

"Queridos, hoje temos a presença ilustre da bela Visenya", anunciou Aegon, erguendo sua taça como se celebrasse uma vitória. Sua voz ecoava na sala, preenchendo o espaço vazio com um entusiasmo que parecia fora de lugar. "Um brinde à graça e à beleza que ilumina até mesmo os recantos mais sombrios de nossa fortaleza!"

Visenya, forçando um sorriso, tentou ignorar a provocação de Aegon. Sentia-se como uma peça de um jogo que ela não escolhera jogar, cada palavra dele provocando um ressentimento que ela lutava para conter. No entanto, à medida que ele continuava a se vangloriar de sua brincadeira cruel, o fio da paciência dela começava a se desgastar. O som de sua voz, uma constante lembrança do que ele havia feito, fazia com que a indignação dentro dela crescesse, quase sufocante.

"Vejo que todos se divertiram com meu pequeno jogo", disse Aegon, com um olhar malicioso na direção de Visenya. Seus olhos brilhavam com uma malícia que ele tentava disfarçar como brincadeira, mas que era clara como o dia para todos ao redor. "Foi apenas uma brincadeira, algo para descontrair, e..."

Antes que pudesse terminar, Visenya se levantou abruptamente, a cadeira rangendo contra o chão de pedra. O som cortante ecoou pela sala, chamando a atenção de todos. Seus olhos faiscavam com uma intensidade que não passou despercebida por ninguém na sala. Era como se toda a raiva e dor acumuladas finalmente encontrassem uma saída, e Visenya não estava disposta a deixar que Aegon escapasse sem consequências.

"Brincadeira, Aegon? Não chame de brincadeira algo que é uma traição vil", disparou Visenya, sua voz cortante como uma lâmina. A força de suas palavras parecia quase física, uma verdade inescapável que perfurava o silêncio tenso. "Você se orgulha de sua malícia, mas não percebe as consequências de suas ações."

Aegon, inicialmente confiante, engoliu em seco ao encarar a expressão decidida de Visenya. Ele, que sempre fora mestre em controlar as emoções alheias, agora se via diante de uma força que não esperava enfrentar. Aemond, ao seu lado, sentiu a tensão crescer e tentou intervir, percebendo que a situação estava rapidamente fugindo do controle.

"Visenya, por favor, vamos manter a calma", sugeriu Aemond, estendendo a mão em um gesto conciliatório. Havia um apelo em seus olhos, um desejo sincero de apaziguar o conflito antes que se intensificasse ainda mais.

"Calma?" exclamou Visenya, a raiva fervendo em seu interior. Ela sentia como se sua paciência tivesse finalmente se esgotado, e a injustiça do que acontecera era algo que não podia mais ignorar. "Ele tentou destruir nosso casamento, Aemond! Isso não é algo que se resolva com calma." Suas palavras eram como trovões em uma tempestade, carregadas de uma verdade que ninguém podia negar.

Aegon, percebendo o rastro de destruição que sua brincadeira havia deixado, tentou articular um pedido de desculpas, mas Visenya não estava disposta a ouvir. O tempo para desculpas havia passado, e ela estava determinada a fazer com que ele entendesse a gravidade do que fizera. Com um movimento rápido, ela avançou em direção a Aegon, pronta para desferir palavras afiadas que cortariam mais fundo do que qualquer lâmina.

Aemond, agindo instintivamente, interveio, segurando Visenya antes que ela pudesse atacar Aegon. Ele a puxou suavemente, mas com firmeza, para longe do conflito iminente. "Visenya, pare. Ele não vale a pena." Sua voz era calma, mas firme, uma âncora em meio ao tumulto.

O olhar de Visenya, ao encontrar o de Aemond, refletia não apenas a raiva, mas a compreensão recém-adquirida. Havia um brilho de tristeza e entendimento em seus olhos, como se ela finalmente visse a situação por aquilo que realmente era. As sombras que obscureciam a verdade começavam a se dissipar, revelando uma clareza dolorosa que ela não podia mais ignorar.

"Você tem razão", murmurou Visenya, permitindo-se ser conduzida de volta à sua cadeira. Ela respirou fundo, tentando acalmar o turbilhão de emoções dentro dela. A sala de jantar, agora envolta em um silêncio desconfortável, testemunhava não apenas um confronto entre irmãos, mas o despertar de Visenya para a verdade que ela tanto temia enfrentar. As velas continuavam a queimar, lançando sombras trêmulas nas paredes, mas a tensão no ar havia mudado, transformada por uma nova compreensão.

Aegon, ainda sentindo o impacto das palavras de Visenya, permaneceu em silêncio, percebendo que o jogo que ele iniciara havia se voltado contra ele de maneiras que ele nunca previra. Ele fitou o vinho em sua taça, as bolhas subindo lentamente à superfície, um símbolo silencioso de suas ações e suas consequências inevitáveis. Enquanto isso, Visenya e Aemond, sentados lado a lado, encaravam o futuro incerto que se estendia à frente, mas agora com uma determinação renovada para enfrentar as sombras que os cercavam.

O jantar continuou em um silêncio tenso, mas havia um novo entendimento entre Visenya e Aemond, um fio de esperança que começava a se entrelaçar em meio à escuridão. E embora as feridas ainda estivessem frescas, havia a promessa de que, juntos, poderiam encontrar uma forma de curá-las, de reconstruir o que fora quebrado e de forjar um caminho adiante, iluminado pela luz da verdade e do amor que, apesar de tudo, ainda pulsava entre eles.

Entre Sombras e Dragões- Aemond TargaryenOnde histórias criam vida. Descubra agora