Ruptura da cores

84 3 0
                                    

A celebração do casamento ainda ecoava pelos corredores da Fortaleza Vermelha, quando as sombras da discórdia começaram a se insinuar entre Aemond e eu, Visenya. O ânimo festivo se desfez, dando lugar a uma tempestade de palavras amargas que pairava no ar.

Os olhos de Aemond, normalmente imperturbáveis, agora ardiam com desconfiança enquanto ele acusava traição. O salão que outrora testemunhara votos de amor eterno tornou-se palco de uma dança caótica, onde acusações e lágrimas se entrelaçavam em uma coreografia desesperada.

Adentrei meu ateliê, esperando que o refúgio familiar pudesse dissipar a tensão crescente. As paredes eram adornadas com telas que capturavam vislumbres do mundo como eu o via, cada pintura uma janela para minha alma. A luz suave que entrava pelas janelas criava padrões delicados no chão, um contraste com a tempestade que rugia dentro de mim.

Aemond, impulsionado pela fúria, seguiu-me. Seus passos eram pesados, ecoando como trovões no silêncio do ateliê. "Ao nūmāzma daor qopsa naejot jāre jemēla iā daor?"(Você acha que pode simplesmente me enganar?) Ele gritou, sua voz repleta de acusações.

Eu me virei para encará-lo, tentando manter a compostura. "Jemēla iksis iā bantis, ao daor jorrāelagon."(Eu sou uma artista, não uma mentirosa,) respondi, tentando fazer com que ele visse a verdade que eu carregava no coração.

Entretanto, as sombras que se estendiam sobre nós não podiam ser dissipadas por telas coloridas ou pincéis delicados. Em sua raiva, Aemond avançou em direção às minhas obras, que representavam não apenas minha arte, mas pedaços de minha alma. Uma após outra, as pinturas que haviam testemunhado minha jornada foram lançadas ao chão, suas molduras estilhaçando-se como promessas quebradas.

"Skoriot jāhor sagon jemēle!"(O que essas pinturas realmente significam?) Ele vociferou, sua frustração e desconfiança transbordando em cada movimento.

Ao invés de confrontar a tempestade, optei pelo silêncio, observando impotente enquanto as cores que antes dançavam harmoniosamente agora se dispersavam em caos. Cada pincelada despedaçada era como uma parte de mim sendo dilacerada.

Lágrimas, traiçoeiras e silenciosas, traçavam caminhos solitários em minhas faces. A dor não vinha apenas das obras destruídas, mas do entendimento de que algo mais profundo se despedaçava entre nós.

Enquanto Aemond rugia sua raiva para o mundo, Oton, silencioso e vigilante como sempre, aproximou-se. Seus olhos encontraram os meus em um gesto de compreensão mútua, como se soubesse que palavras não poderiam reparar o estrago que fora feito.

Acompanhei-o para fora do ateliê, deixando Aemond entregue à sua tempestade interna. Na quietude dos corredores vazios, Oton explicou com a calma de um sábio mentor que minhas pinturas, cada uma delas, eram uma extensão do meu ser, um testemunho de minha jornada e das pessoas que moldaram quem eu era.

"Não deixe que as ações de um momento obscureçam o verdadeiro significado por trás de suas obras, Lady Visenya," disse ele, suas palavras como um bálsamo suave em meio à tempestade emocional. "Você é mais do que suas pinturas, assim como sua história vai além deste turbilhão momentâneo."

Aemond, um prisioneiro de suas próprias dúvidas, permanecia distante, incapaz de compreender completamente a razão por trás de minha conexão com a arte. Enquanto as cores do ateliê desbotavam na memória, eu sabia que o verdadeiro desafio residia não apenas em restaurar as pinturas, mas em tecer novamente os fios de compreensão e confiança que ameaçavam se romper.

Sabia que o caminho à frente seria repleto de desafios, mas estava determinada a não permitir que a desconfiança destruísse o que havíamos construído. As sombras que nos envolviam eram espessas, mas eu estava resoluta em encontrar a luz que pudesse nos guiar através da escuridão.

À medida que caminhávamos pelos corredores da Fortaleza Vermelha, cada passo um lembrete da jornada que ainda precisávamos trilhar, prometi a mim mesma que lutaria para reestabelecer a harmonia que um dia compartilhamos. Não seria fácil, mas o amor, como a arte, requer esforço, paciência e uma crença inabalável de que mesmo as sombras mais escuras podem ser iluminadas.

Entre Sombras e Dragões- Aemond TargaryenOnde histórias criam vida. Descubra agora