Entre Vestes Bordadas e Palavras Afiadas: No Banquete dos Dragões

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Os longos dias em Porto Real persistiam, marcados pela solidão que se entrelaçava aos ecos silenciosos dos livros e às lembranças vívidas de Oton. Desde que tomei a difícil decisão de liberá-lo para treinar com a guarda real, um vazio persistente se instalou. Eu sabia que sua presença ao meu lado havia sido um pilar de força e amizade. Agora, como noiva secreta do príncipe, uma trama mais intrigante e emocionante parecia se desenrolar diante de mim, ainda que já pressentisse que o desfecho não seria auspicioso.

A luz do sol penetrava suavemente pelas cortinas entreabertas do meu quarto, aquecendo o ambiente e criando uma atmosfera aconchegante, que contrastava com a minha inquietação. Senti falta do som da chuva e dos trovões que ecoavam pela Ponta da Tempestade, conferindo ao lugar seu nome peculiar e preenchendo o ar com um sentido de poder e mistério. Tentei, em vão, me esconder sob as cobertas na esperança de recuperar o sono fugidio, mas a insônia persistia, e eu me arrastei para fora da cama, uma visão despenteada e sonolenta que talvez só um encontro com um urso explicasse.

A solidão se tornava mais tangível a cada momento, acompanhada pela mesa posta ao lado da cama, as cortinas fechadas que mantinham o mundo exterior à distância, e a presença constante de uma escolta que impedia qualquer espreita indiscreta. Os dias se sucediam monotonamente, e os livros que folheava contavam histórias que pareciam se repetir. As palavras, embora reconfortantes, eram um lembrete da rotina imutável em que me encontrava. O céu permanecia sem nuvens, um azul constante que fazia a saudade do clima tempestuoso da minha terra natal parecer ainda mais intensa.

Uma vontade crescente de voar, de escapar desse confinamento silencioso, começou a ganhar força dentro de mim. Mas Cannibal, meu dragão que cobria os céus com sua presença majestosa, estava longe, e a preocupação com seu bem-estar me consumia. Cannibal, apesar de seu nome assustador e da fama tenebrosa que o precedia, havia se revelado para mim como o dragão mais amável de Westeros. As histórias do passado o descreviam como um monstro sanguinário, mas eu o conhecera e desafiara esses preconceitos, encontrando nele um amigo fiel e protetor.

À medida que a noite se aproximava, as cortinas se abriram para revelar duas criadas curiosas. Elas traziam consigo o frescor da noite e um banho preparado com cuidado, acompanhado de perguntas sobre minha origem e idade que confirmavam meu status de estranha naquele lugar desconhecido. As comparações inevitáveis com Rhaenys, embora com uma doçura e juventude próprias, indicavam que eu era uma novidade, uma presença capaz de derreter corações gelados e despertar curiosidade entre os habitantes do castelo.

Após o banho, vesti-me com um deslumbrante vestido preto adornado com pedrarias douradas e rosas bordadas à mão. O tecido fluía ao meu redor como um riacho de seda, e ao me olhar no espelho, vi a imagem de uma jovem que estava prestes a entrar em um mundo de intrigas e jogos políticos. Ao sair do quarto, encontrei Oton me aguardando. Seu estado machucado indicava que ele cumprira seu dever com bravura, enquanto meu outro protetor, invisível naquele momento, estava provavelmente em situação ainda mais crítica, cumprindo missões das quais eu mal tinha conhecimento.

Caminhamos juntos pelo corredor iluminado por tochas, dirigindo-nos ao salão de jantar. A atmosfera era carregada de expectativas e sussurros, e ao entrar, todos os olhares se voltaram para mim. Daemon Targaryen, um cavalheiro de maneiras impecáveis, ofereceu-me uma cadeira na ponta da grande mesa, seu sorriso uma mescla de curiosidade e respeito.

O jantar transcorreu entre conversas corteses e perguntas sutis sobre mim, enquanto relatos gloriosos do rei eram compartilhados com entusiasmo pelos presentes. Meu noivo, Aemond, manteve-se em silêncio por grande parte do tempo, sua expressão pensativa e distante. No entanto, após algum tempo, ele se levantou para um brinde, sua voz firme quebrando a conversa ao redor.

"Um brinde à minha noiva, Visenya," ele declarou, sua taça erguida. "Sko no te marrio shut veti la merri isa ruban" (Esse casamento é apenas um arranjo político). As palavras dele pairaram no ar, provocando uma reação imediata. Todos ao redor da mesa olhavam para ele, alguns com reprovação, outros com surpresa, enquanto sua mãe e seu avô observavam a situação com expressões de confusão.

Antes que seu pai pudesse repreendê-lo, pedi a palavra, erguendo minha taça com um gesto confiante. A tensão no salão era palpável, e todos os olhares se voltaram para mim, aguardando minha resposta.

"Byka taobi dovodedha," comecei, minha voz clara e decidida. "Nyke ābrazȳrys dārilaros zōbrie, marrio ruban kostagon tha mizozliwash prūmia ropagon vējes" (Pequeno garoto ignorante, eu serei a esposa de um príncipe sombrio; o casamento pode ser político, mas não protegerá seu coração de cair em perdição).

Minhas palavras ressoaram como um desafio, um lembrete de que, embora nossa união fosse um jogo de poder, havia muito mais em jogo do que alianças políticas. Com isso, instaurou-se um jogo de sombras e deslumbramentos, enquanto meu destino se desenhava entre intrigas e compromissos reais. O caminho à frente prometia revelações imprevisíveis, e eu estava pronta para enfrentá-lo com coragem e determinação.


REVISADA E REESCRITA

Entre Sombras e Dragões- Aemond TargaryenOnde histórias criam vida. Descubra agora