Sonho de Sombras

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A noite caiu sobre a Fortaleza Vermelha, envolvendo tudo em um manto de escuridão e silêncio. No entanto, meu sono estava longe de ser tranquilo. Assim que fechei os olhos, fui transportado para um reino de sonhos onde a realidade e a ilusão se mesclavam em uma tapeçaria de sombras e luz.

No sonho, encontrava-me em um vasto campo aberto, desprovido de qualquer marcação de tempo ou lugar. O céu acima era um turbilhão de nuvens escuras, e o vento carregava um murmúrio constante, como se o próprio ar estivesse sussurrando segredos esquecidos.

Visenya estava ali, à minha frente, sua presença etérea irradiando uma luz suave que parecia afastar parte da escuridão ao nosso redor. Seus olhos, de um violeta profundo, me observavam com uma intensidade que me atraía e me desafiava ao mesmo tempo. Eles eram um espelho da minha própria alma, refletindo tanto os anseios quanto os temores que eu mantinha ocultos.

Enquanto eu a observava, o campo começou a mudar. As sombras ao nosso redor se contorciam e se transformavam, tomando a forma de serpentes que rastejavam pela terra, subindo pelas árvores, sibilando de maneira ameaçadora. Visenya parecia não ter medo; ela encarava as sombras com uma calma inabalável, quase como se as estivesse convidando a se revelarem.

"O que isso significa?" perguntei, minha voz ecoando através do campo desolado.

Visenya não respondeu com palavras. Em vez disso, ela estendeu a mão, seus dedos pairando no ar entre nós. Eu hesitei, mas então avancei e toquei sua mão, sentindo uma onda de calor percorrer meu corpo. Imediatamente, o campo se transformou novamente, agora se tornando um mar revolto de águas escuras e turvas.

As ondas se erguiam como montanhas, ameaçando engolir tudo em seu caminho. As sombras tomaram a forma de tentáculos que emergiam das profundezas, contorcendo-se em direção a nós. A tempestade rugia com uma fúria que parecia ecoar as turbulências dentro de mim.

Gritei o nome de Visenya, mas minha voz foi abafada pelo rugido do mar e pelas sombras que se aproximavam. Era como se o mundo estivesse desmoronando ao meu redor, uma manifestação dos medos que eu não ousava enfrentar.

Subitamente, fui arrancado do sonho por um grito que ecoou no quarto, trazendo-me de volta à realidade com um sobressalto. Meu próprio nome ressoava no ar, carregado de urgência e confusão.

Quando abri os olhos, a luz suave das tochas tremulantes iluminava o rosto de Visenya, que estava ao meu lado na cama. Seus olhos refletiam preocupação, e seu toque suave no meu braço tentava dissipar os vestígios do pesadelo que ainda se agarravam à minha mente.

"Aemond, você gritava no seu sono. O que aconteceu?" Sua voz, que tantas vezes fora um desafio, agora estava carregada de uma ternura surpreendente, uma preocupação genuína que me tocou profundamente.

Ainda lutando para emergir completamente das profundezas do sonho, demorei um momento para recobrar a compostura. As sombras do pesadelo ainda pairavam no fundo de minha mente, como fantasmas que se recusavam a ser banidos. "Um sonho... sombras e tempestades. Nada mais," respondi, a minha voz soando distante e incerta, pois eu mesmo ainda tentava entender o significado daquelas visões noturnas.

Visenya não desviou o olhar. Seus olhos permaneciam fixos nos meus, como se tentasse ler nas minhas profundezas aquilo que eu próprio não conseguia compreender. Após um breve momento, ela suspirou suavemente, e murmurou:

"Às vezes, os sonhos revelam mais do que estamos dispostos a admitir. Não tema, Aemond, pois as sombras são apenas o reflexo do que existe nas profundezas de nossas almas."

Suas palavras ecoaram em mim, ressoando com uma verdade que eu não estava pronto para admitir. As sombras do sonho eram mais do que simples pesadelos; elas eram manifestações das dúvidas e dos medos que eu carregava, das incertezas que pairavam sobre minha vida e meu papel no mundo.

Olhei para Visenya, tentando entender como ela conseguia navegar por essas sombras com uma segurança que eu invejava. Havia um enigma em sua presença, uma força silenciosa que parecia desafiar as convenções e as expectativas da corte.

"Como você lida com suas próprias sombras?" perguntei, minha voz carregando uma vulnerabilidade que eu raramente deixava transparecer.

Visenya sorriu suavemente, e seu sorriso era um farol na escuridão. "Eu não as enfrento sozinha. Aprendi a aceitar que as sombras fazem parte de quem somos. Elas não são algo a ser temido, mas sim compreendido."

A simplicidade de sua resposta me deixou perplexo, mas também me trouxe um estranho tipo de consolo. Talvez houvesse um caminho através das sombras, uma maneira de encontrar clareza e equilíbrio em meio ao caos.

Na penumbra da noite, comecei a perceber que estava diante de um novo tipo de jornada, uma que não seria travada com espadas ou dragões, mas nas profundezas do coração e da mente. Visenya e eu éramos dois viajantes em um mar de incertezas, navegando por águas desconhecidas onde nossos destinos estavam entrelaçados.

A dança entre ódio e paixão continuaria, lançando sombras sobre o caminho incerto que compartilhávamos. Mas, agora, havia uma compreensão crescente de que, talvez, juntos, pudéssemos enfrentar as tempestades que se aproximavam.

Assim, enquanto a noite avançava, me permiti um momento de esperança, um vislumbre de luz que começava a romper a escuridão. O amanhã traria novos desafios, mas também a possibilidade de um novo começo, uma chance de forjar uma união que transcenderia as sombras e revelaria a verdadeira força de dois corações entrelaçados.

Entre Sombras e Dragões- Aemond TargaryenOnde histórias criam vida. Descubra agora