À Beira do Abismo

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Uma semana havia se arrastado desde que Visenya se envolvera nas sombras de sua própria melancolia. O quarto, uma extensão de sua alma ferida, tornara-se um refúgio de silêncio perturbador. As paredes pareciam fechar-se ao seu redor, guardando os sussurros de uma dor que recusava dissipar-se. O perfume das flores murchas pairava no ar, uma lembrança amarga do tempo que passava, enquanto eu, Aemond, observava com crescente preocupação a figura de minha esposa desvanecer-se sob o peso de sua própria dor.

Caminhei pelo quarto como um intruso em sua solidão, tentando desesperadamente romper as correntes invisíveis que a mantinham cativa. As cortinas cerradas roubavam a luz do sol, mergulhando o ambiente em uma penumbra que ecoava a escuridão que aprisionava Visenya. O ar estava denso, carregado com a fragrância de tristeza e desespero que se infiltrava em cada canto.

Ela estava deitada na cama, os olhos fixos no vazio, como se a realidade ao seu redor tivesse se desvanecido em sombras indistintas. O quarto, que antes era um santuário de sonhos compartilhados, agora parecia uma prisão de inércia. Seu corpo, uma concha frágil, repousava como se a energia vital tivesse sido drenada por alguma força oculta, deixando apenas um eco de sua presença vibrante.

"Visenya", chamei, minha voz uma tentativa frágil de romper o silêncio. Mas o silêncio era profundo, um abismo que devorava qualquer som que se aventurasse em sua direção. Ela não respondeu, permanecendo imersa na sua própria quietude desoladora, como uma estátua de tristeza esculpida em mármore.

Ajoelhei-me ao lado da cama, meu olhar buscando o dela, procurando qualquer faísca que pudesse indicar que ainda havia esperança. "Precisas comer, minha esposa. A fraqueza não te ajudará a enfrentar as sombras que te assombram." Minhas palavras eram um apelo desesperado, um esforço para alcançar a mulher que amava e trazê-la de volta à luz.

Seus olhos, antes cheios de vivacidade, agora eram apenas reflexos apagados do que já foram. Eles me encararam por um momento, mas não havia reconhecimento, apenas uma profunda tristeza que parecia impenetrável. O silêncio continuava a ser sua resposta, uma barreira intransponível que separava nossas almas, criando um abismo de solidão que eu temia jamais poder atravessar.

"Não posso perder-te, Visenya. Estás à beira de um abismo, e sinto-me impotente para te impedir de cair", confessei, meu coração apertado por uma angústia que transcendia as palavras. As lembranças dos tempos felizes passavam pela minha mente como um filme distante, contrastando dolorosamente com a realidade presente. Eu estava disposto a lutar, mas precisava que ela também estivesse disposta a se erguer.

Os momentos passaram-se como fantasmas silenciosos, cada segundo estendendo-se como uma eternidade. Até que finalmente, ela quebrou o silêncio com um sussurro fraco, quase perdido no ar estagnado. "Aemond, a escuridão é avassaladora. Sinto-me perdida nela, como se as sombras tivessem se tornado parte de mim."

Levantei-me, sentindo o peso da impotência em meus ombros. Mas dentro de mim, uma chama de determinação ainda ardia. "Não estás sozinha, Visenya. Juntos enfrentaremos as sombras, mesmo que pareçam insuperáveis." Eu sabia que não podia forçá-la a encontrar a luz, mas estava decidido a ser seu pilar, seu apoio nas trevas.

Uma sombra de dúvida passou pelos olhos dela, e, pela primeira vez, vislumbrei um traço de sua vulnerabilidade. "Não sei se há luz suficiente para dissipar esta escuridão." Suas palavras eram uma confissão de desespero, um reconhecimento da batalha interna que enfrentava diariamente.

Num gesto impulsivo, abri as cortinas, permitindo que a luz do sol inundasse o quarto. Os raios solares atravessaram a penumbra como lâminas de esperança, iluminando as sombras que se agarravam teimosamente às paredes. "Há sempre luz, mesmo nos lugares mais sombrios. Precisas acreditar que podemos encontrar uma saída juntos."

Visenya fechou os olhos diante da súbita luminosidade, como se a luz a ferisse. Um gemido escapou de seus lábios, um som que ecoou o desespero que a envolvia. Mas mesmo enquanto se encolhia, eu percebi uma mudança sutil, como se uma pequena parte dela estivesse começando a despertar para a possibilidade de cura.

De pé ao lado da cama, percebi que a batalha contra as sombras que a envolviam seria longa e árdua. Era uma jornada que exigiría paciência e compreensão, mas naquele momento, eu estava determinado a ser sua luz, mesmo que ela não pudesse ver além das sombras que a assombravam. Sabia que precisávamos enfrentar cada dia como um novo desafio, cada pequeno passo como uma vitória em direção à recuperação.

E enquanto o sol brilhava através das janelas abertas, trazendo calor e vida ao quarto que antes estava envolto em escuridão, sussurrei uma promessa silenciosa para Visenya e para mim mesmo. Não importava quão profundas fossem as sombras, juntos lutaríamos para encontrar o caminho de volta à luz.

Entre Sombras e Dragões- Aemond TargaryenOnde histórias criam vida. Descubra agora