Os corredores sombrios da Fortaleza Vermelha pareciam apertados ao redor de mim enquanto eu buscava Visenya. As paredes, testemunhas silenciosas de tantas histórias de poder e intriga, agora pareciam sufocar, carregando o peso do luto que pairava sobre nós. O eco de nossos passos reverberava como um lamento pelos salões outrora vibrantes. As velas, com suas chamas trêmulas, lançavam sombras que dançavam nos cantos, como se refletissem a inquietação de nossos corações.
Desde a perda de Oton, o fiel guardião de Visenya, a atmosfera havia se tornado ainda mais pesada. As feridas abertas pela tragédia continuavam a sangrar na alma de Rochedo do Dragão, e a dor era palpável, como um espectro que assombrava cada canto da fortaleza. Eu sabia que era hora de oferecer um breve alívio às asas quebradas da minha esposa, um momento de fuga acima das nuvens onde a dor poderia ser temporariamente esquecida.
Encontrei Visenya diante da janela, onde a luz do sol filtrava-se, pintando um mosaico de sombras e esperanças em seu rosto. Ela estava perdida em seus pensamentos, o olhar fixo no horizonte distante. A luz dourada banhava seu perfil, destacando a beleza melancólica de uma princesa cujo mundo havia sido despedaçado.
"Visenya," chamei-a, buscando suavizar minha voz com uma gentileza rara, tentando transmitir o afeto e a compreensão que sentia.
Ela virou-se para mim, os olhos ainda marcados pela tristeza que assolava nossa morada. Contudo, eu vislumbrava além das sombras que obscureciam seus olhos. Reconhecia a necessidade de redenção, a busca por consolo onde os corações poderiam respirar livremente. Em meio à dor, havia uma centelha de esperança, uma faísca que eu ansiava por reacender.
"Vamos voar," propus, minha voz carregada de uma promessa de escape, de libertação temporária do fardo que carregávamos.
Ela me observou com surpresa, como se as palavras fossem um eco distante da realidade. "Voar?" repetiu, a incredulidade misturada com um desejo que ela parecia relutar em aceitar. Voar significava liberdade, um rompimento com a prisão do luto que nos mantinha cativos.
"Sim, voar. Levar-te-ei pelos céus, onde a liberdade é a única soberana," declarei, meus olhos conectados aos dela com uma intensidade que desafiava as barreiras do orgulho e da dor. Eu queria que ela sentisse o mesmo alívio, a mesma liberdade que apenas os céus poderiam proporcionar.
Com um aceno afirmativo, Visenya seguiu-me pelos corredores e torres da fortaleza. O céu aberto aguardava, uma vastidão onde a redenção se desenharia nas asas dos dragões. Era um chamado que não podíamos ignorar, uma promessa de renovação que ansiávamos por cumprir.
Chegamos ao fosso dos dragões onde Vhagar e Cannibal residiam. Os dragões, criaturas magníficas e indomáveis, nos aguardavam, suas presenças imponentes contrastando com o ambiente sombrio da fortaleza.
Vhagar, minha majestosa criatura alada, lançou um olhar de reconhecimento e cumplicidade. Ao lado, Visenya montou Cannibal, cujas cicatrizes eram testemunhas das nossas jornadas incomuns e das batalhas enfrentadas juntos. Os dragões rugiram, como se também sentissem o chamado da liberdade, prontos para nos levar além das fronteiras do mundo conhecido.
Em um instante, as asas se estenderam, cortando o céu como facas afiadas. Rochedo do Dragão diminuiu abaixo de nós, as preocupações da corte desaparecendo em um borrão de cor e movimento. Voávamos, não apenas entre nuvens e ventos, mas em busca de redenção, encontrando um refúgio temporário nas alturas. O vento açoitou nossos rostos, trazendo um frescor que revigorava a alma e clareava os pensamentos.
O silêncio celestial se rompeu quando pronunciei, minha voz carregada pelo vento. "Esta é nossa redenção, Visenya. Nas asas do dragão, deixamos para trás as sombras que nos envolvem."
Ela me encarou, uma faísca de alívio acendendo em seus olhos. As asas quebradas encontraram um renascimento nos céus, e, por um momento, a tristeza parecia uma lembrança distante. Ali, entre as nuvens, onde o mundo parecia simples e as preocupações, insignificantes, encontrei uma conexão renovada com minha esposa.
Voávamos, não apenas para fugir, mas para encontrar algo perdido nas correntes da vida — um vislumbre de redenção nas asas dos dragões que dançavam entre os limites do céu e da terra. A vastidão infinita dos céus refletia a possibilidade de um futuro além da dor, um espaço onde poderíamos reconstruir e recomeçar.
À medida que continuávamos a voar, o horizonte se expandia diante de nós, uma tela infinita onde podíamos pintar novos começos. As correntes de ar nos carregavam, e senti a tensão e a tristeza se dissiparem, substituídas por uma sensação de esperança que eu quase havia esquecido ser possível.
Visenya, ao meu lado, começou a sorrir, um sorriso tímido, mas real, um reflexo de que, apesar de tudo, a vida continuava e havia momentos de beleza a serem encontrados. A presença dos dragões, com sua força e liberdade, lembrava-nos de que, mesmo em tempos sombrios, a resiliência e a coragem poderiam nos guiar.
Enquanto voávamos juntos, lado a lado, percebi que aquele momento de redenção nos céus era um prelúdio para a cura que precisávamos buscar em terra. E, quando finalmente pousássemos, estaríamos prontos para enfrentar as sombras do passado com uma nova determinação, carregando a esperança que encontramos nas alturas em nossos corações.
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Entre Sombras e Dragões- Aemond Targaryen
Fanfic1° Livro da Duologia: "As Crônicas dos Dragões e Sombras" Em um período de crescente tensão e traição, Visenya Baratheon, uma princesa de espírito indomável, e Aemond Targaryen, um príncipe marcado por seu passado tumultuado, enfrentam uma batalha n...