Reflexos do Amor

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Ao regressarmos da longa jornada a Derivamarca, os aposentos reais da Fortaleza Vermelha tornaram-se nosso refúgio, um santuário onde as sombras do passado dançavam com a luz incerta do futuro. Em meio àquela atmosfera carregada de emoções, decidi compartilhar com Aemond algo que guardara em meu coração desde a viagem: uma pintura que capturara nossa essência de forma única.

Convidei Aemond a adentrar nosso espaço pessoal, onde a magia da arte esperava para desvendar segredos há muito ocultos. A tela repousava sobre um cavalete, aguardando ser revelada. Antes que ele pudesse perceber completamente o que estava prestes a testemunhar, desvendei o véu que ocultava a obra de arte.

A imagem retratava nós dois, mas com uma diferença notável. Aemond estava ali, com seu olho intacto e a safira cintilando em sua órbita vazia. As pinceladas haviam capturado a essência de sua alma, a força resiliente que transcendia as cicatrizes visíveis. Meu olhar, ao percorrer a pintura, encontrou o dele, e por um breve momento, nossas almas se tocaram no reflexo da arte.

— Visenya, isso é... — Aemond começou, mas suas palavras desvaneceram diante da magnitude do que via.

— Eu queria que você visse a si mesmo através dos meus olhos, sem as sombras que o tempo esconde. Você é mais do que suas cicatrizes, Aemond. É a luz que ilumina as trevas, a chama que persiste mesmo quando tudo parece perdido — compartilhei, meus olhos encontrando os dele com uma ternura que ia além das palavras.

Aemond, aparentemente surpreso e tocado, dirigiu-se até a pintura e observou-a de perto. Pude sentir a hesitação, a vulnerabilidade que ele raramente mostrava. No entanto, quando nossos olhares se cruzaram novamente, percebi que algo dentro dele começava a se transformar.

— Visenya, eu... não sei o que dizer — admitiu ele, e nesse instante, a máscara que ele usava na presença dos outros parecia ter se dissolvido.

Mas a reação que eu esperava não veio. Ao contrário, ao ver a pintura, uma onda de raiva e tristeza tomou conta de mim. Aemond estava ali, retratado com sua beleza e força, mas também com seu olho ainda coberto pelo tapa-olho. A dor da perda de Lucerys e a traição que senti por Aemond vieram à tona com força renovada.

— Como pôde, Aemond? — murmurei, lutando para conter as lágrimas que ameaçavam cair. — Como pôde destruir tudo o que construímos, tudo o que éramos?

Aemond olhou para mim, os olhos cheios de arrependimento e tristeza. Ele tentou falar, mas suas palavras pareciam vazias diante da magnitude do que havia feito.

— Visenya, eu... não queria que as coisas terminassem assim. Eu estava cego pela dor, pelo ódio... Eu nunca quis te magoar.

Eu o encarei, sentindo-me perdida e desolada. A pintura que deveria ser um testemunho de nosso amor agora era um lembrete doloroso de tudo o que havia sido destruído.

— Aemond, não sei se posso perdoá-lo por isso. Por tudo o que aconteceu. — Minha voz vacilou, as emoções me dominando.

Aemond se aproximou de mim, mas hesitou antes de tentar tocar meu rosto. Ele parecia tão perdido quanto eu, incapaz de desfazer o que havia sido feito.

— Por favor, Visenya, dê-me uma chance de fazer as coisas certas. De reparar o irreparável. Eu faria qualquer coisa para mudar o que aconteceu.

A dor em seus olhos era palpável, mas a confiança que havíamos construído agora estava em ruínas. Eu queria acreditar nele, queria que as coisas voltassem a ser como antes, mas sabia que seria uma jornada difícil e incerta.

— Precisamos de tempo, Aemond. Tempo para curar as feridas que você abriu. E talvez, apenas talvez, um dia possamos encontrar o caminho de volta para nós mesmos.

E assim, em silêncio e com corações pesados, permanecemos diante da pintura que deveria ter sido um símbolo de nosso amor, mas agora era uma lembrança dolorosa de nossas falhas e perdas.

Entre Sombras e Dragões- Aemond TargaryenOnde histórias criam vida. Descubra agora