A aura de hostilidade envolvia-me como um manto, uma defesa contra o turbilhão de sentimentos que ameaçava escapar. O peso das expectativas, das responsabilidades e das cicatrizes que carregava estavam sempre presentes, e eu tinha aprendido a usar essa armadura como proteção contra qualquer ameaça ao meu equilíbrio. Visenya, por sua vez, parecia imune às barreiras que eu tentava erguer. Ela observava cada movimento meu com um olhar perspicaz, como se visse além das camadas de arrogância e agressividade que eu tentava apresentar.
A luz suave da manhã filtrava-se pelas janelas do ateliê, dançando sobre as tintas e pincéis que Visenya usava como suas ferramentas de verdade. O ambiente era uma mescla de cores e sombras, reflexo das emoções complexas que permeavam nosso relacionamento. Ela me observava com uma serenidade que desafiava a tempestade que rugia dentro de mim.
"Por que se esconde atrás dessa fachada de ferro e gelo, Aemond?" ela questionou, a paciência na voz indicando que minha postura não a afetava. Seu tom era calmo, como se estivesse falando de algo trivial, mas as palavras carregavam um peso que eu não podia ignorar.
Cruzei os braços, mantendo uma expressão inabalável. "Porque é assim que o mundo nos ensina a sobreviver. Mostrar fraqueza é abrir uma brecha para ser atacado." Minhas palavras eram calculadas, uma resposta ensaiada que eu havia repetido tantas vezes que se tornara parte de mim. No entanto, mesmo ao dizê-las, sentia uma fissura crescente em minha convicção.
Ela soltou uma risada, uma risada que ecoou pelos cantos do ateliê como uma melodia desafiadora. "Fraqueza? Não vejo fraqueza em ser verdadeiro consigo mesmo, em reconhecer as próprias emoções. A verdadeira força está em aceitar quem somos." Seu riso não era de zombaria, mas sim de compreensão, como se ela visse uma verdade que eu ainda estava relutante em aceitar.
Minha mandíbula se contraiu, a irritação borbulhando sob a superfície. Visenya desafiava cada defesa que eu erguia, como se pudesse despir as camadas que eu mesmo havia costurado ao longo dos anos. Era como se ela fosse capaz de enxergar através das rachaduras que eu lutava para manter escondidas.
"Você não me conhece, princesa Visenya. Não se atreva a achar que pode compreender o que se passa dentro de mim." Rosnei as palavras, esperando que o tom ameaçador servisse como uma barreira intransponível. Era uma tentativa de reafirmar meu controle, mas a realidade era que sua presença começava a perturbar meu equilíbrio cuidadosamente mantido.
No entanto, ela se aproximou, seus olhos analisando os meus com uma intensidade que fez minha resistência vacilar. "Eu vejo além das sombras que você projeta. Há mais em você do que quer admitir." Sua voz era suave, mas firme, carregando uma certeza que eu não podia ignorar. Havia uma sabedoria em suas palavras, uma percepção que desafiava minha resistência.
Um silêncio tenso pairou entre nós, e por um breve instante, permiti-me questionar as muralhas que construí. As palavras de Visenya sussurravam como uma brisa, questionando se, talvez, a verdadeira fraqueza residisse em negar a própria humanidade. Era uma possibilidade que eu sempre evitara, mas que agora parecia inevitável.
"Talvez seja você quem não compreende, princesa Visenya. As sombras que me cercam não são para os fracos de coração." Murmurei, tentando recuperar a máscara de indiferença. Havia uma dureza em minha voz, mas também uma vulnerabilidade que escapava por entre as fissuras da armadura que eu tanto prezava.
Ela deu de ombros, como se a complexidade de minha alma fosse uma revelação óbvia. "As sombras não me assustam, Aemond. Às vezes, são nelas que encontramos a luz mais profunda." Suas palavras ressoaram dentro de mim, como uma melodia desconhecida que, no entanto, parecia estranhamente familiar. Era um desafio, uma promessa de que havia mais para ser descoberto, se eu tivesse a coragem de encarar.
Com um último olhar penetrante, ela voltou sua atenção para a tela, deixando-me sozinho com as dúvidas que suas palavras plantaram. As máscaras que eu usava começavam a rachar, revelando uma vulnerabilidade que, por tanto tempo, tentei ocultar. Em meio às tintas e verdades do ateliê, percebi que o jogo de esconder e revelar estava apenas começando, e que talvez a busca por verdade fosse um caminho que eu precisava percorrer, não apenas por ela, mas por mim mesmo.
Visenya, com sua presença desafiadora e compreensão silenciosa, era uma adversária formidável, mas também uma aliada inesperada na busca por autenticidade. Enquanto ela pintava, eu começava a perceber que as sombras que tanto temia poderiam, de fato, ser a chave para encontrar uma força que transcende a aparência, uma luz que poderia finalmente iluminar as profundezas de minha alma.
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Entre Sombras e Dragões- Aemond Targaryen
Fanfic1° Livro da Duologia: "As Crônicas dos Dragões e Sombras" Em um período de crescente tensão e traição, Visenya Baratheon, uma princesa de espírito indomável, e Aemond Targaryen, um príncipe marcado por seu passado tumultuado, enfrentam uma batalha n...