7 Inquietude

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CAROLINE

Algumas luzes dançavam e iluminavam o teto sobre ela. Vinham de uma das imensas e harmônicas janelas que compunham o charme do lugar, onde as cortinas foram deixadas abertas de propósito. Naquele início de madrugada fria, ela não queria ficar no escuro. Honestamente, não era medo, ela não temia às trevas, mas naquele momento, sua alma ansiava por um pouco de luz. Ela precisava de um traço de claridade em sua vida.

Deitada em sua larga e espaçosa cama, Caroline encarava o teto de seu quarto, tentando decifrar o formato que as sombras adquiriam com as faíscas de luzes projetadas pelos carros que ainda circulavam pela Rue de Grenelle, no Tour Eiffel, onde ficava o seu apartamento. Ela decidiu não voltar para casa naquela noite, optando por passar o final de semana na cidade. Às vezes, o casarão era quieto demais.

Deitou-se relativamente cedo e já tinha decidido dormir há algum tempo, porém naquela noite, sua habitual insônia havia caprichado na dose! - Que ótimo! - Grunhiu, imprimindo todo o deboche que conseguia. A porcaria da falta de sono estava de parabéns daquela vez. Já tinha recorrido a algumas boas - e altas - doses de um Macallan 1926, whisky mais antigo da coleção Fine and Rare de Macallan, destilado na mesma data constituída em seu nome. Era um clássico muito apreciado por ela e naquele momento, tinha sido o escolhido na missão de entorpecer seu corpo e sua mente, que estavam em completo alvoroço desde o misterioso e estranho encontro de horas atrás.

O que tinha sido tudo aquilo? Não, o tempo verbal tem que ser outro! O que vem sendo tudo isso? Caroline pressionou as têmporas no intuito de forçar seu cérebro a compreender aquela maluquice. Já havia repassado o explosivo encontro repetidas vezes e em todas elas, as mesmas - infernais - sensações lhe invadiam. Remexeu-se na cama, incomodada com os perigosos rumos que seus pensamentos queriam tomar. Ok! Toda a sua razão gritava para se afastar e evitar a presença de Rosamaria, ''Fique longe dela''' porém... algo muito mais profundo a impelia em direção a ela.

Caroline atribuía essa confusão toda à curiosidade em saber quais eram os reais objetivos de Rosa e, acima de tudo, quais eram as intenções de quem ela acreditava estar por trás daquilo. - Um sorriso um tanto sádico e melancólico surgiu no rosto pouco iluminado de Carol. Era loucura, ela sabia, mas, fosse o que fosse, há muito ela não se sentia tão viva e tão alerta. Há muito seu corpo e sua mente não reagiam e se estimulavam em relação a nada. Mesmo com o risco e o perigo eminentes, no íntimo, ela apreciava aquela sensação, aquela pontada de vida em sua existência quase vazia.

As palavras de Priscila ecoavam em sua mente: "E diga-se de passagem, uma isca sensacional, não!?" Mordeu seu lábio sem nem se dar conta, passando uma das mãos nos fios dourados. Sem a menor sombra de dúvidas, Rosamaria tinha sido escolhida a dedo de forma minuciosa para se aproximar dela, para atingi-la onde estaria mais vulnerável, mais suscetível a baixar a guardar. Ela não iria permitir! Os danos poderiam ser gravíssimos e irreversíveis.

"Aquele doente, sádico, idiota!" - A angustia de Caroline preenchia todo o quarto. Ele nunca a deixaria em paz?

Com exasperação e puta da vida, chutou as cobertas, afastando-as de si e sentando-se na cama. - Quer saber...? Dane-se... desisto! - Suspirou impaciente enquanto se levantava. Ela não ficaria ali feito idiota procurando aborrecimento, não mesmo. Usava apenas uma longa camisola de seda cinza escuro que vestia seu corpo esplendoroso de forma luxuriosa, lambendo e ressaltando as curvas perfeitas e inexplicavelmente sedutoras. Tinha os pés descalços e os cabelos numa desordem perfeita e harmoniosa.

A visão de Caroline daquele jeito era mais do que suficiente para destruir a razão e bom senso de qualquer mortal. Contemplou sua imagem cansada, mas ainda assim, incrivelmente exuberante diante do imenso espelho de seu banheiro. Seriam olheiras aquilo que pensou estar se formando sob seus olhos? Um meio sorriso se formou nos lábios perfeitos. - Antes fosse... - Sussurrou, baixando o olhar e respirando profundamente.

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