36 As Memórias de Marie Verguer

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Aqui começam uma série de relatos dessas poderosas mulheres, muitas dessas memórias explica a existência delas e até onde chegou. Marie era uma encantadora mulher que também tinha conexões inexplicáveis e desde o primeiro momento sem nem conhecer Eva, se apaixonou. Se houver alguma dúvida, me digam ok?

BOA LEITURA!

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A incredulidade e o estarrecimento nem se quer chegavam perto de definir o que Caroline estava sentindo naquele instante com aquele livro em mãos. Não conseguia acreditar que desconhecia algo assim, algo aparentemente tão íntimo e pessoal de seu grande amor. Estava realmente impressionada com o seu desconhecimento daquilo e sentia que precisava entender o porquê de sua ignorância.


Acariciou a capa ainda sob o plástico que o envolvia, com denotada devoção enquanto se perguntava em que momento da vida da Marie ela o havia escrito. Com cuidado e reverência, o retirou de sua capa plástica e verificou que era feito dos mesmos materiais usados nos livros da Ordem e lembrou-se que foi ela quem escolhera cada detalhe, desde o papel e a tinta, até a capa para a produção daquelas importantes obras.


- Foi em Amsterdã... – Suspirou baixinho, lembrando-se do dia exato quando compraram tudo o que precisavam para o registro das memórias da Ordem de Beauvoir, ideia que fora da própria Marie pois ela defendia o fato de algo tão grandioso e antigo merecia os devidos registros, mesmo que tivessem de ficar em segredo e se só pudesse ser acessados por integrantes daquele grupo fechado. E com o livro em mãos, Caroline pode constatar que Marie também tinha outros planos em mente. Riu docemente, pois sabia o quanto sua amada era surpreendente. E ali, mais de 300 anos depois ainda conseguia surpreendê-la.


Hesitou algumas vezes antes de abri-lo, pois estava completamente tomada pela emoção e a expectativa do que poderia encontrar ali dentro. Tinha a certeza de que ele não existia antes de terem se conhecido justamente pelos materiais que era feito, o que lhe dizia que ele fora escrito em algum momento após o envolvimento delas.


- Mas quando? – Questionou-se baixinho enquanto continuava a acariciá-lo com carinho. Olhou em direção ao quarto e viu que o silêncio imperava ali, indicando que Rosamaria estava no mais profundo dos sonos e suspirou enquanto se recostava no sofá, preparando-se para a leitura que faria. Por um segundo, questionou-se se deveria, pois era algo pessoal e que talvez Marie não quisesse que ela soubesse, afinal de contas nunca lhe contou sobre ele nem tão pouco o deixou para ela. Pelo contrário, ele fazia parte do seu legado que foi entregue a Rosamaria.



Foi inevitável experimentar uma pequena pontada de frustração com aquilo, mas resignou-se, pois sabia que deveria confiar no julgamento de Marie. Aprendera aquilo a duras penas e ao longos dos anos em que estiveram juntas. Novamente riu das lembranças que dançaram em sua mente e espreguiçou-se, depositando seus pés sobre a mesa. Foi então que esbarrou sem querer no notebook de Rosamaria que saiu da tela de descanso e evidenciou um arquivo aberto que continha uma data que imediatamente capturou a atenção de Caroline e fez seu sangue gelar.



“Nice, 14 de setembro de 1660.”

Aquela data antecedia o pior dia de toda a longa existência de Caroline! Evitou com todas as suas forças, pensar naquele dia, mas as imagens vieram a sua mente como uma enxurrada, com a clareza e a nitidez de um filme. Os sons, os cheiros... Tudo veio à tona. Seu estômago revirou e foi impossível para ela, segurar as lágrimas. Soltou o livro de lado e levou ambas as mãos ao rosto e como se fosse envolvida pela mais profunda das dores, soluçou tamanha era a violência da dor que as lembranças lhe causaram.

Esforçou-se ao extremo para não fazer muito barulho e acordar Rosamaria, pois sabia que se ela a visse daquela maneira, diante daquele livro, seria impossível de explicar qualquer coisa com um mínimo de sanidade. Respirou fundo várias vezes, buscando controlar seu coração e o latejar de sua cabeça. Só então olhou de lado e viu que o livro havia caído ao seu lado com a capa aberta e então Caroline pode ver que havia uma dedicatória ali e seu nome estava nela.


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