66 Descobertas pt 2

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A HISTORIA TA SE ENCAIXANDO POR AÍ? ESPERO QUE SIM, LOGO MAIS CAPITULOS

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As batidas de seu coração podiam ser sentidas dentro de sua cabeça, deixando-a completamente atordoada com a constatação que estava tendo naquele exato instante. No intimo de sua mente aquela absurda ideia já havia pairado por mais vezes do que ela gostaria de assumir, pois orgulhava-se de sua racionalidade analítica que a havia levado até os lugares onde desejou acadêmica e profissionalmente. Porém, todas as suas certezas começaram a ser solapadas quando entrou em contato com o universo que permeia a Ordem de Beauvoir, e mais especificamente à Caroline Gattaz.

- Ela não está linda nesse quadro? – A alegre voz de Manu pareceu vir de muito mais distante do que ao seu lado e quando se virou para encarar a menina, viu um lindíssimo sorriso de alegria e admiração diante daquela impressionante tela de corpo inteiro. Rosamaria não se sentia mais capaz de construir qualquer fala coerente naquele instante e passou a apenas admirar aquela impressionante tela que era assinada por Nicolas Poussin. Esforçou-se um pouco e lembrou-se daquele nome proeminente do movimento barroco do século XVII o que tornava a figura estampada nele algo absurdo de ser compreendido racionalmente, pois os tempos históricos não coincidiam. Como um pintor que viveu há mais de trezentos anos poderia ter pintado um quadro de sua amada Caroline.

Ela, inconscientemente possuía aquela resposta. E essa ideia que estava guardada num recanto de sua mente vinha atingindo a superfície da sua consciência com cada vez mais força. Tratou de focar sua atenção às minucias daquela verdadeira obra-de-arte.

Tendo o corpo completamente trêmulo ergueu seu braço, como se aquele movimento fosse o mais difícil de ser realizado e com a gentileza de quem temia tocar uma fina neblina com medo de dispersá-la, encostou as pontas dos dedos na tela que era sustentada por uma moldura grossa e com muitos detalhes em dourado, mas o que mais lhe interessava estava no centro dela.

A perfeição e o capricho com os detalhes e cuidado com as cores no trabalho de Poussin permitiam que aquela mulher ali retratada parecesse ter vida. Era quase possível perceber sutis movimentos, ou até mesmo quase sentir o perfume que ela emanava. Estranhamente nada daquilo lhe pareceu esquisito, pelo contrário, poderia até ser bem plausível. Rosamaria respirou fundo, preparando-se para aquela contemplação e contornou desenhando a extensão daquela pintura.

Nela estava uma imponente figura feminina de pé. Atentou-se às curvas e a minucia de cada pincelada, que lhe permitia ver até mesmo a quase imperceptível penugem dourada que cobriam as coxas dela, pois o vestido que lembrava uma toga branca, deixava-as a mostra, assim como os ombros e parte do colo dos seios dela. O movimento do vento estava lindamente presente na forma como os longos cabelos louros presos em uma trança frouxa pareciam ser sacudidos pelo vento, assim como na parte de baixo da toga, que estava afastada, revelando boa parte das vigorosas e longilíneas pernas dela.

Em plena devoção e tomada por uma vontade incontrolável, Rosamaria acariciou a tela contornando e subindo pelos joelhos e coxas. “Tão parecidas...” Permitiu-se pensar, dar uma voz secreta ao que estava ganhando uma força avassaladora em sua mente, dando vazão a toda loucura que fazia sua mente girar.

Completando aquela surreal imagem, desceu seus olhos pelo braço direito daquela figura e prendeu a respiração quando vislumbrou o que ela trazia em mãos. Em total reverência, Rosamaria acariciou a extensão daquela peça firmemente segurada pela mulher e de imediato reconheceu aquele artefato. O cabo de madeira era longo e perfeitamente adornado com detalhes em couro, o que tornava a empunhadura daquela arma agradável e firme ao toque. Pouco antes de o metal ter inicio, havia uma longa fita lilás amarrada àquela arma, atribuindo-lhe um paradoxal ar de leveza e força ao mesmo tempo. Finalmente contemplou aquelas peculiares lâminas que foram registradas com as imperfeições e falhas que provavelmente indicavam que aquela poderosa arma já havia sido utilizada muitas vezes. Tratava-se do mesmo Machado que ilustrava tudo o que dizia respeito à Ordem. Suspirou cambaleante com aquela visão.

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