73 As Cinzas da Inquisição

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Nenhuma outra palavra reverberava na mente de Rosamaria que não fosse o “sim” dito sem nenhuma hesitação ou dúvida. Alguém poderia lhe dizer que a resposta foi precipitada ou causada pela intensidade do momento que vivia, mas ela estava muito mais do que certa do que desejava. E contradizendo a si mesma, que jurava que casamento não seria algo com o que ela planejava ou sonhava. Porém, tudo que pensava ser o certo para ela, todo o seu mundo foi solapado quando Caroline entrou em sua vida.

E agora, sabendo de tudo que sabia... Mediante as tantas descobertas surreais que fez nos últimos dias e de tudo o que sentia por aquela mulher, teve a certeza de que aquela estranha sensação que a acompanhou toda a sua vida, aquela espécie de falta, como se fosse incompleta fez sentido. Algo nela faltava. A sua outra metade. Aquela que em muitos aspectos diferia dela, mas todas essas diferencias lhe completavam... Preenchiam todos as faltas, todos os espaços em seu ser.

Era a certeza de ter encontrado o que tanto buscava, mesmo não tendo a clareza da busca!

Sempre se considerou uma pessoa de bem com a vida, feliz e plena. Mas nada dessas emoções poderia ser comparada ao que experimentava quando estava perto daquela mulher fantástica, quando a ouvia dizer que a amava, que por ela era capaz dos mais inimagináveis sacrifícios. Que daria sua vida por ela. Era o tipo de entrega que poucos tiveram o privilégio de provar e exatamente por isso, sentia-se a pessoa mais feliz do mundo naquele momento e encontrar no sorriso maravilhado da mulher ajoelhada diante dela. E a emoção que sentia transbordando em seu ser era refletido no choro misturado com sorrisos de Caroline. Aquela mesma emoção reverberava naquela sala e as mulheres presentes ali estavam cientes que testemunhavam um momento muito mais do que especial.

Todas elas tinham a certeza que estavam sendo testemunhas vivas da história da Ordem sendo escrita. Sheila e Priscila, as únicas ali, além das duas noivas, que tiveram acesso aos detalhes assombrosos da Profecia de Emanuelle, estavam em estase por poderem vivenciar aquilo em sua geração. Ambas compartilharam o pensamento acerca de suas antecessoras, as antigas Protetoras que sonharam que aquele evento acontecesse em suas épocas. Então consideraram-se privilegiadas.

- A gente vai ter uma festa de casamento? – Manu, em toda a sua espontaneidade, “quebrou” o encantamento e atraiu a atenção para ela, pois estava de pé em sua cadeira com a expressão curiosa.

- Sim Manu. Eu e Rosamaria vamos nos casar! – Caroline levantou-se sem soltar a mão de sua amada que sorria bobamente.

- Eba!!! – A menina saiu pulando nas cadeiras até alcançar as duas mulheres e sem aviso algum, jogou-se nos braços delas que a receberam num apertado abraço. Reestabelecendo um laço ancestral e que também estava predestinado para acontecer. As três estavam exalando amor em meio aquele abraço apertado e nenhuma delas conseguia mais imaginar sua vida sem as outras. E aquela era a mais perfeita definição de família. - Mas como funciona um casamento? – Manu se afastou com uma expressão curiosa, mais uma vez arrancando risos de todas.

- Bom... – Sheila pigarreou, piscando um dos olhos para Caroline, indicando que ela já sabia de alguma coisa. – Estamos nos referindo a uma cerimônia de união da Ordem. – Anunciou, mas a dúvida na menina só aumentou enquanto Cosina arregalou os olhos e imediatamente lembrou-se do que leu no Diário da Marie e sentiu uma pontada de preocupação.

- Mas... – Tentou se colocar.

- Você está preocupada com o fato de não ser da Ordem ainda, não é? – Caroline a complementou de forma certeira e nem se quer precisou entrar na mente dela para isso. Rosamaria anuiu lentamente fazendo uma cara receosa.

- Isso a gente resolve rapidinho. Basta uma cerimônia e tá tudo certo. – Priscila e sua praticidade falando mais alto e o leve tom embargado em sua voz alertou a todas.

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