18 Caminho sem Volta

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ROSAMARIA

Na tela do computador, o cursor piscava no topo de uma página em branco, aberta no intuito de que um artigo tomasse vida, porém, lá estava ele... prestes a ser iniciado há mais de uma hora.

Sobre a mesa de centro da pequena sala do loft, um prato com um croissant quase inteiro repousava ao lado de uma caneca de café gelado, evidenciando que tal refeição mal havia sido degustada.

No quarto, os lençóis em perfeito caos em cima da cama, denunciavam o palco de um sono conturbado ou que talvez nem mesmo tenha existido. Ela não poderia realmente saber.

Por fim, a penumbra da pouca luz do dia que passava pelas frestas das cortinas por todo o lugar, completava aquele cenário de agonia e de uma latente angústia, definindo com exata perfeição o estado de espírito daquela mulher. Rosa estava deitada no chão sobre o pequeno tapete; o olhar vagava perdido, contemplando o vazio. O silêncio daquele ambiente nada tinha a ver com a ensurdecedora confusão que compunha seus pensamentos e sentimentos. Ela não conseguia calá-los.

Já fazia algum - muito - tempo que Rosamaria se via tentando compreender tudo que havia vivido nessa última semana... Todos os eventos inusitados, as emoções desconhecidas e muito perturbadoras, seu destempero e todo aquele impetuoso caos, atingindo o seu ápice na noite anterior, potencializado por tudo que a presença dela desencadeava.

Estava perdendo o senso de realidade? A noção de quem era? Não conseguia atribuir nenhuma lógica ao que experimentara, não por uma, mas por duas vezes na noite anterior. Aquilo não podia ter acontecido, mas aconteceu... Ela sentiu. Repassava todo o ocorrido desde o momento em que seus olhos encontraram os olhos de sua Professora ainda na boate, até o inexplicável - e surreal - orgasm* vivido em seu banheiro.

Rosa suspirou com força, fechando os olhos com evidente frustração pela milésima vez, desde o momento em que se deu conta do aconteceu em seu box.

"Você só pode estar enlouquecendo, Montibeller!"

Mas, então, como explicar a inconcebível certeza de ter estado com ela? De ter sido acolhida em seus firmes braços? Tocada por sua suave pele? Beijada por sua deliciosa boca? Hipnotizada pela doçura de sua voz?

Como explicar, ter e não ter estado com alguém ao mesmo tempo?

Foi real demais! Porém, impossível na mesma proporção.

Rosamaria cruzou os braços, fechando no peito o seu casaco marrom tão adorado, tentando se abraçar, se proporcionar algum conforto e segurança, buscando alguma lógica em meio a total desordem que a dominava e a corroía por dentro. Inconscientemente, se apertava e se abraçava com ainda mais força, na tentativa de constatar que ela era real, que ela estava mesmo ali, em seu apartamento.

A muito que já havia assumido para si mesma a intensa - e um tanto enlouquecedora - atração sexu*l* que sentia por sua orientadora, entoando como um poderoso mantra que, apesar das implicações éticas e de todo o contexto que as cercava, aquele tipo de situação ou de um possível envolvimento não era nada demais, não merecendo aquela agonia desmedida. Porém, a cada instante e cada novo momento em que pensava sobre seus sentimentos, assustava-se ainda mais com suas conclusões, tentando afastá-las de sua cabeça a todo custo, porém, sem muito sucesso.

Considerava-se uma pessoa racional e com inteligência acima da média para se deixar levar por devaneios apaixonados e impossíveis, então, como explicar a maneira surreal como se sentia sempre que estava na presença de Caroline? Ou pior, como explicar essa vontade quase insuportável de estar com ela?

Ainda assim, o que a estava assustando assombrosamente, era o fato de ter a clareza e total certeza em sentir Caroline não apenas diante dela, mas dentro dela, como se ela mergulhasse nas profundezas de seu íntimo e ocupasse cada mínimo pedacinho, desnudando-a por inteiro.

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