22 Deusa e Mortal

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(...) Ela disse, hoje à noite
Venha, venha
Vamos colidir
Me quebre em pedaRosa
Eu acho que você é como o céu
Por que
Venha, venha
Vamos colidir
Vamos ver como é sentir o fogo
Aposto que é como o céu"
(Como o céu) (...)

        O som do último acorde ainda vibrava nas cordas do violão, exatamente como a poderosa energia que parecia fluir de uma para a outra. Caroline fechou os olhos por um breve, porém intenso segundo, tão somente para potencializar tudo que aquele inesperado momento à proporcionava. As últimas estrofes daquela canção ainda ecoavam por cada célula dela e absolutamente tudo naquele cenário a fazia flutuar... A letra, a melodia, a energia e, principalmente, a paixão na voz impossivelmente incrível de quem havia cantado... Cantado para ela. Toda a beleza e significado que aquela música carregava, tinha sido dedicada inteiramente a ela e, a isso, ela não seria capaz de resistir.

Presas naquele vigoroso magnetismo que as envolvia, Rosamaria sentia seu corpo inteiro acender e ansiar por aquela mulher, sendo imediatamente capturada pela força que emanava dela. Caroline finalmente abriu os místicos olhos e sentiu como se uma paz há muito esquecida pudesse ser novamente vislumbrada por ela, reacendendo a chama de uma esperança já perdida. Chegou a cogitar a possibilidade de voltar a verdadeiramente sentir qualquer outra coisa além de dor e vazio, como se um raio de luz, poderoso e singular, acabasse de invadir a escuridão em que sua alma se encontrava há tanto tempo.

  “Tempo demais” Suspirou, sendo arrancada do transe em estava assim que as débeis palmas dos rapazes da mesa ao lado irromperam no ambiente, aplaudindo a última performance de Rosamaria com desajeitado entusiasmo e num ritmo etilicamente descoordenado! Rosa os agradeceu com um sorriso tímido e cativante, porém, e um único pulsar de coração, seus olhos já estavam sobre ela, queimando em expectativa e alguma coisa mais...

‘’Caroline...’’ Mordeu o lábio inferior com a visão de sua orientadora. A Deusa também a aplaudia, porém, o fazia com uma cadência e sensualidade surreais, completamente abobalhada.

        De um jeito inexplicável, Carol parecia brilhar e resplandecer naquela cadeira, fazendo Rosamaria desejar com todas as suas forças que aquele momento congelasse no tempo... Que a imagem da mulher mais absurdamente incrível e extraordinária que já havia conhecido em toda a sua vida, fosse tatuada em cada nuance de seu íntimo, capturando todos os mínimos detalhes daquele instante em que pôde não somente ver, mas sentir o quão desarmada e entregue Caroline estava. Não havia muralhas, não havia barreiras... Era apenas ela, despida daquela armadura dourada e reluzente.

A intensidade do que experimentavam era vívida demais, fazendo com que as poucas pessoas que ainda perambulavam pelo local mal fossem percebidas. O mundo resumia-se em uma Rosamaria ainda paralisada e completamente enfeitiçada por Caroline Gattaz, a Deusa igualmente encantada por sua orientanda. Impulsionada pela vontade excruciante de estar mais perto dela, Rosa deixou o pequeno palco e, assim que aproximou-se da mesa, foi recebida pelo brilho quente e cintilante do sorriso mais surreal e maravilhoso que poderia ser possível. Ali, no breve infinito em que se perdeu naquele sorriso, ela soube... Sentiu em seu mais profundo íntimo que jamais se cansaria de olhar para ela... de observá-la e desvendá-la... de ser acolhida e aquecida por sorrisos como aquele.

        Mergulhada em expectativa, parou a insignificantes centímetros diante dela, dominada por todo o fervor emanado pela galáxia misteriosa e perdida que morava nos olhos daquela mulher, sentindo-se consumir por tudo que eles revelavam. Aniquilando a distância irrisória que existia entre elas, Rosa fez questão de tocar uma das pernas de Caroline com a sua, numa tentativa quase infantil de certificar-se que tudo aquilo era real, e não mais um torturante sonho ou perigoso delírio, como os que teve e continuava tendo com ela. Sentia-se tão maravilhosamente bem, que novamente desejou que aquele instante durasse para sempre... Porém, o tempo é impiedoso! E a energia das donas daquele mágico lugar, também!

ALÉM DESSA VIDAOnde histórias criam vida. Descubra agora