42 Sacrificios pt.2

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"Guardo comigo as palavras de Nanuk e das anciãs... Aquelas que alimentam meu coração:

"O amor de vocês é extraordinário e ancestral e está escrito que vocês sempre estarão juntas!”

Por isso meu amor, que hoje, já sob os primeiros raios de sol do último de meus dias, eu não tenho medo, porque sei que irei reencontrá-la e saber que estás viva e bem, me conforta.

Não temas! Não sofras! A dor que experimentarei será só física, pois minha alma está em plena alegria pois sei que fui e sempre serei amada por você.

Com amor,

Sua Marie.

Nice, 14 de setembro de 1661"

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Com o coração em pedaços, Caroline leu as últimas palavras do diário de Marie. Estava devastada e ao mesmo tempo encantada com tudo o que pode experimentar com aquela leitura e reviver aqueles dias, meses e anos pelos olhos de seu grande amor foi a mais surreal das sensações.

Os últimos dias passaram voando e ela mal parou para comer ou dormir. Necessitava terminar aquela leitura como se dependesse daquilo para viver e, indiretamente, sabia que aquilo poderia ser bem a verdade. E assim que pôs o ponto final na transcrição que fizera para Rosamaria, sentiu como se um enorme peso lhe fosse tirado dos ombros. Pois agora poderia entregá-lo para sua amada e deixar que ela pudesse tirar suas próprias conclusões antes que pudesse lhe contar tudo o que precisava.

- Com licença Srta. Gattaz! – Uma jovem mulher negra lhe chamava a atenção. – O seu voo foi liberado. – Era a funcionária da área para voos privados do aeroporto Charles De Gaulle.

- Muito obrigada. – Agradeceu educadamente enquanto fechava o caderno com capa de couro marrom escuro e folhas de linho e seda finíssimas. Havia escolhido aquele caderno com todo o carinho, para transcrever as memórias de seu amor. O fez a próprio punho, com a clara esperança de que Rosamaria reconhecesse a sua caligrafia, juntamente com a de Marie. As mesmas usadas na escrita do livro da Ordem, cuja cópia ela havia recebido.

- Também pensei que atrasaria muito mais. – Priscila, que estava sentada na poltrona a sua frente fez o mesmo gesto de conferir seu relógio. – Aqui estão as confirmações de reserva do hotel.

- Ainda chateada porque não irá à Índia comigo? – Brincou enquanto caminhavam para a saída do hangar.  

- A palavra que melhor me definiria nesse momento em relação a você é preocupada Caroline. – Desvencilhou-se dos braços dela em sua cintura. – Sinto que algo ruim está por acontecer.

- E desde quando acredita nessas coisas de sensações? Tem andado muito com a Fabiana. – Brincou.

- Sabia que há dois dias não temos notícias da Susan? – Parou com ambas as mãos na cintura enquanto Caroline continuou andando até parar e se virar para ela.

- Essa não é a primeira vez não é mesmo? – Caminhou de volta a ela. – Mas não se preocupe a repreenderei novamente por isso. O farei assim que voltar, prometo! – Brincou cruzando os dedos e os beijando. Fez o mesmo na bochecha de sua amiga. – Mas agradeço a sua preocupação e tudo que está fazendo para manter a Rosamaria segura. – Lhe olhou profundamente nos olhos e não disseram mais nada.

Priscila ficou atrás da porta automática, apenas assistindo Caroline seguir em direção ao seu jatinho que estava bem próximo. Ela cumprimentou o comandante e a comissária que seguiriam com ela. Sua segurança ainda esperou que a pequena aeronave taxiasse e saísse de seu campo de visão. Detestava quando não tinha Caroline ao seu alcance, pois parecia que perdia o controle sobre qualquer ameaça que poderia estar iminente. Mesmo tendo se certificado que seu pessoal estaria de olho nela a todo o instante, sabia que ela era imprevisível e que não teria problemas em mudar a sua agenda por puro capricho e sem avisá-la.

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