30 Ordinary Love

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Rosamaria pressionava suas unhas contra o couro do banco onde estava, denotando o quão tensa estava. Não era medo nem receio. Era a ansiedade da espera, a expectativa de finalmente ter aquilo que tanto ansiava. Aquilo que mais buscou sem nem mesmo ter a clareza da busca. Ela, aquela pessoa, aquela mulher que tanto permeava suas fantasias e abalava com todas as suas estruturas, estava ali, ao seu lado. Tão próxima que conseguia sentir, claramente o calor emanado por seu corpo.

A despeito do frio do lado de fora, o interior daquele carro estava quente, beirando ao quase insuportável, pois ambas respiravam ofegantes, despejando lufadas de ar quente que insistiam em embaçar os vidros do carro.

Ambas evitavam se olhar diretamente, apenas tendo a ciência de que estavam uma ao lado da outra, da presença quase sufocante e da necessidade gritante que lhes consumiam.

Caroline ainda tinha o sabor da pele de Rosamaria em sua boca após ter, sorrateiramente, lambido o lóbulo da orelha dela. Era doce e provocante na medida certa e enchia sua boca de água, como se a sede por ela só fizesse aumentar. Querer, desejar, ansiar em sorver tudo de Rosamaria, cada gota possível e imaginária. Estremeceu com a imagem que veio em sua mente que parecia fugir a seu controle.

O gemido da mulher a seu lado lhe indicou que ela acabara de ter o mesmo vislumbre. Sem nem se quer ter pensando ou racionalizado, haviam se conectado e ambas tiveram a certeza que estavam prestes a viver a mais surreal das experiências.

Estavam no limiar de suas forças, não sabiam se conseguiriam suportar a presença da outra sem se lançarem em seus braços, pois eram dolorosamente palpáveis as sensações que as arrebatavam. Era como se sentissem estar se tocando sem nem mesmo fazê-lo, pois a energia de uma chocava-se contra a da outra, na medida em que seus acelerados corações pulsavam. Era um verdadeiro duelo de vontades e Caroline sabia que deveria estar sendo ainda mais difícil para Rosamaria, pois havia outra pessoa. Queria não pensar naquilo durante aquela noite, mas era inevitável, pois havia lhe feito uma promessa que estava certa que não cumpriria, pois já não tinha mais forças e só não faria se Rosamaria assim o desejasse, mas as mensagens que o corpo dela lhe passava lhe diziam que ela estava na mais perfeita e completa agonia. Ansiando as mesmas coisas. Sendo dominada por um tesão absurdo e uma necessidade gritante.

E a ansiedade de viver tudo aquilo fez com que Caroline acelerasse o seu potente carro que cortava as ruas de Paris, vencendo a distância que precisavam percorrer em poucos minutos.

Felizmente (?) chegaram ao seu destino no exato instante em que Rosamaria estava com ambas as mãos apertando as próprias coxas e de olhos cerrados, empurrando fortemente o seu corpo contra o encosto do banco.

- Rosamaria? Chegamos! - Caroline a despertou.

- Hã? - Ela abriu os olhos um tanto quanto aturdida e viu o rosto do simpático manobrista que segurava a porta para que ela descesse. Virou-se para Caroline e essa lhe olhava com um misto de solidariedade e provocação nos olhos, pois ela queria deixar claro para Rosamaria que também não estava sendo fácil para ela.

Desceram do carro, que fora levado por um dos rapazes enquanto o outro as guiou pelo caminho de acesso ao singular restaurante que Caroline queria leva-las. Só então Rosamaria balançou a cabeça para tentar focar em outra coisa que não a mulher estupenda ao seu lado e mal acreditou no que seus olhos mostravam e seu estarrecimento não era nem um pouco descabido, pois estavam exatamente sob a Torre Eiffel, mais precisamente diante do pilar sul da torre e lá se via a entrada de um elevador exclusivo para...

- Le Jules Verne! - Rosamaria sussurrou com tom de devoção o nome daquele espetacular lugar. Olhou para Caroline e anuiu negativamente para ela, pois fazia uma breve ideia do quão sofisticado e absurdamente caro seria aquele lugar. - Não Caroline. Isso é demais! - disse se aproximando perigosamente dela.

ALÉM DESSA VIDAOnde histórias criam vida. Descubra agora