49 Somos Nós

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OTIMA LEITURA!

“São memórias...”

Aquele atordoante pensamento ficava martelando em sua mente, lhe lançando em um verdadeiro caos de ideias e questionamentos. Não queria aceitar! Lutava contra ele, pois aceita-lo significava ir contra tudo o que pensava, tudo o que acreditava ser certo e verdadeiro. Toda a razão na qual construiu as suas bases ideológicas seria solapada pelo que estava ousando cogitar.

- NÃO! É impossível! – Disse para si mesma em meio ao vazio e ao silêncio da sala onde estava. A pouca luz provinda de um abajur ajudava a tecer o clima sufocante que a comprimia. O frio lhe doía as juntas, já que a lareira já havia queimado sua última chama. – Não pode ser! Ela é outra pessoa completamente diferente... Outra época! Recomponha-se Rosamaria Montibeller! – Repreendeu-se empertigando sua postura. – Mas é tão real... – Voltou a arriar os ombros, discutindo consigo mesma.

A aflição lhe comprimia as entranhas, lhe causando uma real sensação de náusea e um mal-estar que fizeram com que sua cabeça girasse de forma a lhe obrigar a apoiar-se no birô que havia ali. Percebeu que os primeiros raios da manhã incidiam pelas frestas das pesadas cortinas cor de telha. Correu até elas e as afastou, para em seguida escancarar uma das janelas e deixar uma lufada de ar frio lhe acertar o rosto. Precisava de ar puro. Olhou para o lindíssimo jardim dianteiro daquele castelo e contemplou a perfeição daquela construção tão antiga e que continha tantas histórias.

Algo passou por sua mente!

Correu até onde havia deixado o diário largado e o pegou, em seguida saiu em disparada passando pelo amplo salão principal. Ainda olhou para o topo da escada e pensou em sua amada. Cogitou a possibilidade de acorda-la sob uma enxurrada de questionamentos aflitos, mas achou melhor não incomodá-la (ainda), pois certamente ela estava precisando daquele descanso. Sabia que ela tinha algo muito sério para lhe contar, e a cada instante tinha a certeza de que essa conversa tinha a ver com as descobertas que estava fazendo.

Girou sobre o próprio eixo, como se tentasse se localizar. Focou no diário em mãos e o folheou freneticamente relendo passagens que acabara de ler e que descreviam aquele mesmo lugar. Lembrou-se que Caroline lhe disse que muitas reformas foram feitas naquela antiga edificação, a fim de adequá-la aos dias atuais, mas mesmo assim começou a perambular e tentar localizar os lugares descritos.

A cozinha atual era bem menor, embora ainda fosse bastante ampla, do que a do passado e ficava em outra posição, outro cômodo. Mas onde a antiga deveria estar havia agora uma grande garagem, que naquele instante continha apenas três veículos, sendo um deles o sedan negro de sua professora, o outro era um utilitário que certamente deveria ser de uso das governantas e o terceiro era uma motocicleta antiga. Achou estranho aquele veículo estar ali, mas o ignorou. Parou diante das portas automáticas procurando algum tipo de dispositivo para abri-las. Avistou uma caixa metálica na parede direita e testou vários interruptores, fazendo as luzes piscarem e exaustores serem ligados e desligados, até que dois deles acionaram uma das portas.

- Isso! – Postou-se diante dela que ia sendo automaticamente erguida e à medida que a luz incidia lá dentro Rosamaria se viu diante do lindíssimo jardim sob paredes de vidro, com muitas plantas dependuradas em suportes que iam de uma extremidade a outra. Bancadas em perfeita organização também continha jarros e canteiros com flores, ervas e todo o tipo de plantas que ela poderia imaginar. – Os Jardins Suspensos da Emanuelle Shermont! – Suspirou embevecida enquanto caminhava pelos corredores, permitindo que os cheiros lhe invadissem as narinas.

Caroline havia mantido aquele jardim todos aqueles anos. Cogitou ser uma espécie de homenagem para aquela mulher incrível, mas também lembrou-se da estufa na cobertura do apartamento de sua amada e pensou que aquele ali também era um hobby daquela surpreendente mulher.

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