𝟗𝟓 ⌁ 𓈒 ֹ ANGELINA CORVETTI ˳ׄ ⬞

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Angelina absorvia cada palavra que caía dos lábios de Lorenzo, como lâminas embebidas em mágoa. A dor que transbordava de sua voz era como um espelho cruel, refletindo a culpa que ela carregava. Era um tormento íntimo, como se o próprio coração da jovem sangrasse ao compreender que suas escolhas haviam ferido alguém mais profundamente do que ela poderia suportar.

Para Angelina, Lorenzo fora a encarnação de um anseio antigo, um desejo sussurrado ao silêncio: o de um amor tão arrebatador que lhe roubasse o fôlego. Contudo, os caprichos do destino não costumam atender aos anelos mais secretos. Uma única mentira, corrosiva e impiedosa, desmoronara o castelo de sonhos que haviam erguido juntos, dissolvendo-se em ruínas de ilusões partidas.

Ela tentou falar, mas mesmo que Mattioli lhe concedesse o espaço para responder, as palavras lhe faltavam. Era como se sua voz tivesse sido arrancada, um privilégio agora negado. Ainda assim, Angelina permanecia ali, imóvel, escutando. Permitindo que o peso da culpa a sufocasse, deixando que a dor corroesse cada fragmento de sua alma.

Naquele quarto de hospital, duas almas jaziam partidas, fragmentadas de um modo que os olhos não alcançam. Não havia cortes visíveis ou hematomas estampados em suas peles, mas os corações de ambos travavam uma batalha silenciosa, uma luta desesperada para não sucumbirem sob o peso insuportável do amor.

Foi ali, entre os murmúrios da dor e do arrependimento, que Angelina compreendeu a extensão dos caminhos errados que trilhamos, ignorando os sinais, até que seja tarde demais para encontrar a rota de volta. E, para ela, já era tarde. O irrevogável estava consumado.

Angel sabia que poderia ter feito muitas coisas, mas fez apenas o que esteve ao seu alcance. Quem vê do lado de fora acha que ela poderia ter feito mais, ter feito melhor. Contudo, apenas quem carrega o fardo por dentro entende que, às vezes, não saber o que fazer é a única coisa que nos resta.

As lágrimas que deslizavam pelo rosto pálido de Angelina ardiam como fogo, talvez por contraste com o gelo que consumia seu corpo, talvez porque sua alma parecia definhar cada vez que encarava os olhos de Lorenzo, tingidos de uma decepção que a esmagava. Cada olhar era um golpe, um lembrete cruel daquilo que havia sido perdido entre eles.

Sem forças para dizer qualquer palavra, e incapaz de lutar contra o silêncio que os envolvia, Angelina apenas observou Lorenzo atravessar a porta. Havia algo diferente em sua postura, como se cada passo fosse mais pesado, como se o peso do mundo repousasse sobre seus ombros. Ela viu o homem que amava se arrastar para longe, levando consigo uma parte irreparável dela mesma e deixando, cruelmente, um pedaço dele para trás.

Angel sabia que não podia se entregar à dor agora. Precisava, por mais devastada que estivesse, reunir o que restava de suas forças e fingir que estava tudo bem. Não por ela, mas por aqueles pequenos corações que pulsavam dentro de si. Seus bebês dependiam de sua resiliência, de sua coragem. E, por eles, Angelina faria o impossível: carregaria o peso do mundo, se necessário, para protegê-los e mantê-los seguros.

A mulher suspirou, tentando encontrar no ar rarefeito um motivo para sentir-se leve. Fechou os olhos por um instante, como quem afasta a escuridão que insiste em se alojar na mente. Não era por ela que precisava lutar, mas pelos filhos que carregava. Ainda assim, o peso da responsabilidade parecia esmagador, desproporcional à sua pequena figura. Ela se sentia menor do que a própria dor, como se a vida tivesse exigido que enfrentasse tormentas antes de ter aprendido sequer a navegar.

Será que pra crescer precisa doer tanto assim, Angelina?

Ela já começava a entender que sim. Crescer é uma dor que consome, uma chama que queima e cutuca feridas que nunca chegam a cicatrizar. É um processo cruel que nos força a carregar fardos para os quais muitas vezes não nos sentimos preparados. Há dias em que não queremos crescer; queremos apenas retornar à inocência da infância, quando a maior das tragédias era um joelho ralado. Parecia insuportável naquela época, mas agora há dores que perfuram a alma de formas que antes não imaginávamos possíveis.

𝗙𝗜𝗥𝗘 𝗔𝗡𝗗 𝗕𝗟𝗢𝗢𝗗 - @𝗅𝟢𝗌𝗍𝗋𝖾𝗂𝖽Onde histórias criam vida. Descubra agora