Capítulo 26 Parte II

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Ele afastou-se de mim, os seus olhos sérios miravam-me de perto, a sua boca entreaberta soltava pequenas baforadas de ar contra a minha cara. Sei que ele via a minha cara séria e que estava preocupado, as suas mãos apertavam-me as costas mantendo-me contra ele, era impossível fugir do seu agarre, as suas mãos faziam o meu corpo formigar de excitação. Desviei o olhar do dele com medo de perder a coragem de falar, ele depressa notou o meu movimento e com a mão, suavemente obrigou-me a olhar para ele, no seu olhar estava agora a mais pura preocupação.

-O que se passa? Fala comigo.

-Eu... - mordi o lábio, coragem Sophie, coragem – Quando tu me tiraste daquela prisão, eu antes de estar encarcerada lá, eu trabalhava para eles. – Não conseguia olhar para os seus olhos com medo de ver o desgosto estampado neles, ou pior, a sua fúria por mim.

-Trabalhavas para eles? – A sua voz era suave, não o tom que eu estava à espera.

-Sim – Tentei levantar-me mas ele segurava-me as mãos e reteu-me junto do seu corpo, que tortura. Queria andar de um lado para o outro, estar tão perto dele fazia-me sentir as suas recções e eu não queria isso – Sempre quis trabalhar na área da medicina, ajudar pessoas, e quando surgiu a oportunidade de trabalhar para eles, eu não hesitei, pareceu um sonho tornado realidade, percebes? – Ainda não conseguia olhar para ele.

-Continua... – A sua voz era baixa, perigosa, como se tivesse a processar tudo ao mesmo tempo e não gostando do resultado.

-No inicio eu estava tão entusiasmada, parecia que a minha vida finalmente ia mudar, eu iria ter a estabilidade financeira que eu tanto queria e ainda por cima a ajudar pessoas – Continuei sem fazer pausa, teria de dizer logo tudo – Ou assim eu pensava...Quando notei que havia coisas que eles não me contavam eu ficava curiosa e tentava sabê-lo por outros meios, acho que acabei por me intrometer demais e acabei por descobrir o que não devia. Eu descobri-os, as pessoas, os lobos. Senti-me mal comigo mesma, pois pensava que estava a ajudar pessoas, a pôr os meus conhecimentos em prática para salvar vidas, mas afinal era o contrário.

Nesrte momento lágrimas já caiam dos meus olhos, molhando-me as bochechas e rolando para o tecido do sofá, a minha visão estava nublada quando Mika levantou a mão e as limpou com o polegar. No seu rosto podiam-se ver rugas que se tinham formado no meio da sua testa com o franzir das suas sobrancelhas. Mas apesar disso não parecia aborrecido nem enraivecido comigo, neste momento parecia somente cético, o que me deu coragem para acabar com a minha tortura.

-Quando eles descobriram o que eu tinha encontrado, não me deixaram mais trabalhar lá, e com receio que eu falasse alguma coisa para as autoridades prenderam-me lá dentro junto com os lobos.

-Prenderam-te na mesma cela? – O seu tom era urgente, como se a pergunta fosse muito importante para ele.

-Não, sempre estive sozinha, numa cela à parte. Eu tentei ajudá-los, quando eles fechavam o edifício eu ia lá e tentava arranjar uma maneira de entrar, mas havia muita segurança, e quando achei uma maneira de entrar não consegui achar maneira de libertá-los. Eu sei, tens todas as razões possíveis e imaginárias para me odiares para me expulsares daqui e nunca mais me veres, mas eu precisava que tu soubesses o que eu fiz, o que eu sou.

Desta vez olhei para ele, queria ver a sua cara uma última vez antes de ele dizer as palavras que eu tanto estava à espera, ia-me ferir por dentro, iria fazer uma ferida maior do que todas aquelas que eu já tinha, mas eu tinha de ouvir as palavras que iriam sair da boca dele.

-A vida é realista, as coisas nem sempre correm como nós queremos minha pequena, mas temos de aceitar que por vezes coisas más acontecem para que possamos dar valor às coisas boas. – Falava dando-me festas nas mãos, o seu toque quente reconfortava-me.

Estava confusa com o seu discurso, não era o que estava à espera de todo.

-Não entendo o que queres dizer com isso. Eu de certa forma ajudei aquelas pessoas a sofrer, eu também fui causadora de tanta agonia, eu ajudei! Como podes tu simplificar tudo isto? Não dá para simplificar Mika nem dá para usar eufemismos, eu mereci tudo o que me fizeram porque também eu causei a mesma dor a outros. Eu fui a culpada, por ser demasiado intrometida, por tentar ajudar mesmo sabendo que eu sou fraca demais para isso! – Gritava com ele, tentava fazê-lo ver a verdade, mas ele não parecia querer entender.

-Minha tonta, tu não consegues ver as coisas fora da tua perspetiva, porque estás demasiado ocupada a arranjar desculpas para te culpares. – Falava para mim com carinho, a sua calma contrastava com o meu nervosismo, todo o meu corpo tremia enquanto que o seu mantinha-se firme. – Mas por vezes temos de ver que as coisas que acontecem à nossa volta estão fora do nosso controlo, não nos podemos culpar pelo destino, o que é terá de ser. – Deu-me um casto beijo na bochecha, onde o rasto das minhas lágrimas estavam.

Desmoronei-me contra ele, o meu corpo soluçava enquanto eu tirava para fora a gritos todos os meus sentimentos, os quais eu nunca me deixava sentir. Chorei pela minha mãe que me fazia tanta falta, chorei pelo pai que me abandonou, chorei pelos dias de solidão, pela falta de carinho que eu sempre senti. Chorei por achar que não merecia nada disto, chorei principalmente por ter encontrado alguém que me fizesse sentir viva e me tivesse dado razões para continuar a viver. Chorei o mundo para fora, chorei até não ter mais forças. E ele simplesmente ficou aqui, agarrado a mim, a fazer-me festas nas costas e sussurrando-me palavras de conforto que eu nem conseguia ouvir. Tentei levantar-me mas ele impediu-me, mantendo-me contra o seu corpo quente.

-Shhh boneca, toma o teu tempo, eu não vou a lado nenhum. – E assim o fiz.

Passado um tempo em silêncio, ele falou baixinho.

-Não sou um homem perfeito, nem sempre sei ser galante nem engraçado, que é o que todas as mulheres querem. Mas prometo-te que farei o meu melhor para que ultrapasses tudo isso, darei tudo de mim, todos os dias lutarei para te ver sorrir, para me olhares com esses olhos de bonequinha, para seres feliz. Posso não ser perfeito, mas acredita que por ti estou disposto a tentar.

Só fui capaz de dar um pequeno sorriso ante as suas palavras, apesar de estar triste neste momento. Saber que tinha alguém que me apoiava era mais do que eu alguma vez tive, e por isso, neste momento apercebi-me que sem querer, me tinha apaixonado pelo homem das mil palavras, que sem querer o tinha deixado entrar no meu coração à tanto fechado. E neste momento apenas consegui proferir as palavras que me vinham à mente, e que me pareceram as mais indicadas.

-Meu.





Próximo capitulo será dos irmãos e da Kora. Espero que estejam entusiasmados.

Se tiverem alguma questão estejam à vontade para fazê-las eu respondo a tudo!!! *.*

Até ao próximo capitulo.

Divirtam-se =)

A Sombra de KoraOnde histórias criam vida. Descubra agora