Estávamos de volta a casa, alguém a tinha arrumado e tirado a mobília partida, alguns móveis faltavam e os sofás, apesar de intactos pendiam num ângulo estranho. Kora olhou para a cena com um olhar triste, como se tivesse a tentar recriar a cena na cabeça dela, queria dizer-lhe que não tinha sido tão mal como ela pensava, mas calei-me com medo de tornar a situação pior.
-Vamos levar-te para a cama - Passou por entre as coisas sem sequer tocar nelas, não olhou para mim, movia-se como em piloto automático, até a sua voz estava diferente.
Fui atrás dela, querendo reconfortá-la, querendo que ela fosse para a cama comigo, só para estarmos os dois juntos, a sofrermos juntos, e não assim...Cada um no seu lado. Entrámos no quarto e tudo permanecia igual, tudo perfeitamente arrumado, imaculado como se nada tivesse acontecido, como se a qualquer momento o Kyle fosse entrar por aquela porta e sorrir para nós. Permaneci no mesmo sitio para ver o que ela iria fazer. Andou pelo quarto, olhando para tudo, tocando os tecidos com as pontas dos dedos, cheirando os perfumes que estavam no ar, os nossos perfumes. Ela não se virou para mim, mas sabia que ela estava a chorar, os seus ombros tremiam ligeiramente, como se não quisesse que eu notasse, mas eu sabia, ela exteriorizava o que eu mantinha cá dentro, ela era o espelho da minha alma, literalmente. Aproximei-me dela e abracei-a por trás, ela lutou contra mim, esperneou-se a tentou sair do meu agarre, mas eu não deixei e apertei-a ainda mais forte contra mim.
-Porquê? Eu sempre fui forte! Eu não quero chorar! Por favor fá-lo parar, faz parar esta dor! - Gritava ela a plenos pulmões.
-Desculpa, desculpa, eu sei que dói - Queria apaziguá-la - Eu prometo que vou fazer a dor desaparecer, eu vou trazê-lo de volta, juro por tudo o que é mais sagrado nesta vida.
Ela acalmou-se, apoiando o seu corpo contra o meu, ainda chorava, o seu pequeno corpo balançando-se contra o meu, a sua respiração pesada. Sem esforço levei-a para a cama, tirei-lhe os sapatos e meti-a debaixo dos cobertores, ela não se mexeu mais. Fiz o mesmo comigo e aninhei-me junto a ela no calor dos cobertores. Era tão bom tê-la perto de mim, sentir o seu corpo alinhar com o meu, puxei-a para mim, de modo a que ela ficasse deitada sobre o meu peito, que sensação tão boa. Ela apertou-me, e puxou-me a camisola para cima tocando na minha pele, a sua mão era fria contra a minha.
-Eu quero sentir o teu calor, saber que estás mesmo aqui, eu preciso de saber que és real. - Falou abafadamente contra a minha roupa.
Fazendo o que ela queria, num instante tirei a minha roupa de cima, deixando a cabeça dela pousar no meu tronco nu, ela suspirou e foi fazendo festas no meu peito, sabia tão bem, dei-lhe caricias nas costas suavemente, ajudando-a a acalmar-se de todo o stress. A sua respiração abrandou e ela adormeceu agarrada a mim. Não poderia dizer que não era agradável tê-la só para mim, só nos meus braços, sem ter de a partilhar, mas as coisas não eram assim. Eu nasci com um gémeo que compartilha do mesmo destino que eu, e não é justo eu estar usufruir dele e ele não, não era justo a Kora ter de estar a passar por isto, não era justo eu estar sem o meu irmão, não era justo ele estar sozinho, ai algures, sem destino e sem ninguém, nada disto era justo.
-Kyle... - Kora sussurrou no sono, mexeu-se contra mim perturbada pelo sonho que estava a ter.
Beijei-lhe o topo da cabeça sossegando-a, tentado acalmá-la mesmo quando ela não estava realmente aqui comigo. Kyle onde estás tu? Foi o meu ultimo pensamento antes de ouvir um uivo que eu tanto reconhecia e de me juntar à minha amada nos sonhos conturbados.
Kyle
Não sei à quanto tempo estava aqui, nem como tinha aqui chegado. Só sei que tinha andado por horas e horas sem destino. A minha mente só revivia todos os momentos desde que tinha saído de casa, desde que tinha abandonado o meu irmão, a minha companheira, o meu pai, as minhas obrigações. Mas não conseguia ficar ali sabendo o que tinha feito, sabendo a dor que eu tinha causado, não iria conseguir olhar para o desapontamento na cara de Kora assim que ela visse o que eu tinha feito. Tinha sido covarde, pode-se dizer, tinha fugido quando deveria ter enfrentado os meus problemas, deveria ter feito muitas coisas e não fiz, deveria ter dito muitas coisas mas mantive-me calado. Eu era fraco e queria ser forte, queria mostrar algo que não era, queria ser um bom alfa, um bom companheiro, um bom irmão e falhei em todas elas. O porquê, eu não sei dizer, estava talvez em mim falhar, em não conseguir concluir as coisas até ao fim, sempre fui assim em criança, quando tinha algo por muito tempo, fartava-me e passava para outra coisa. Mas hoje, as pessoas não são brinquedos, não perdoam assim tão rápido, as pessoas não esquecem, só pedia por tudo para a Kora me perdoar, para ela não me esquecer, para que tentasse entender tudo isto.
Eu queria voltar para ela, mas como uma pessoa melhor, queria encontrar o melhor que há em mim, para eu puder ser o melhor que posso para ela, não a queria magoar jamais, estar longe estava-me a matar, não sabia à quantas horas eu não comia nem parava de andar, os meus pés estavam cansados e arranhados do piso da floresta, mas eu não me importava. Tudo isto me mantinha focado no meu objectivo, fez-me perceber para onde eu ia e o porquê. Transformei-me, não me importando que tivesse rasgado as minhas roupas, deixei o meu lobo apoderar-se de mim, tomar tudo de mim e uivei, uivei alto o suficiente para que Kora ouvisse na aldeia, esperava eu. Eu iria voltar, iria voltar quando tivesse ido onde queria, e encontrado as respostas que procurava, espera só um pouco Kora, só mais um pouco, e eu posso encontrar as respostas que procuro, e talvez ai mereça ser chamado de teu companheiro mais uma vez, se me aceitares, espera só mais um pouco.
Espero que gostem, foram dois capítulos faseados porque não tive tempo para escrever um maior, quando escrevo gosto de publicar um capitulo grande para não terem de estar muito tempo à espera, mas às vezes penso ser melhor ir publicando pequenos capítulos quando posso.
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A Sombra de Kora
Про оборотнейKora é uma loba que fugiu da alcateia com a sua família, obrigada a voltar pelo alfa, descobre que o seu futuro sempre tinha estado naquela aldeia. Rodeada por dois irmãos gémeos que fazem de tudo para a ter, Kora vai ter de lidar com a indecisão e...