Capítulo 21

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O dia estava solarengo, o sol brilhava intensamente no céu aquecendo a pele das pessoas paradas na floresta. O ambiente estava decorado com mesas brancas, que estavam espalhadas por toda a parte, as toalhas em cima destas chegavam até ao chão dando um aspecto mágico. Em cima destas, pratos brilhantes estavam estrategicamente dispostos com buquês de flores como centro de mesa, a loiça brilhava devido ás luzes dispostas por todas as partes, maioritariamente enroladas em volta de árvores e por cima delas também, incluindo a natureza no ambiente. Era um ambiente mágico, misterioso ao mesmo tempo, mas definitivamente lindo. Uma tenda alta fora montada para abrigar a comida, o seu tecido alto elevando-se no céu parecendo não ter fim, o cheiro que provinha de lá de dentro dava vontade de atacar a comida que lá estava mesmo antes de começar o casamento, a variedade era diversa, o convidado poderia escolher entre vários pratos de carne e de peixe todos confeccionados de maneiras diferente, muitos dos pratos tinham ar de terem vindo de um palácio de tão bem dispostos nas travessas. As bebidas estavam divididas entre alcoólicas e não alcoólicas, fazendo parte dessa lista martinis, whiskys , sumos de vitaminas, águas, e claro espumantes e champanhes. Resumidamente tudo estava preparado para um grande evento, não sabia muito sobre os costumes dos lobos mas sabia que a ascensão de um novo líder, ou de dois neste caso, era algo muito importante e que juntava a alcateia em peso, afinal qual era o casamento que não juntava muita gente.

Tinha estado com a futura Luna no dia anterior, para de facto a ajudar com o vestido. Ela tinha-me explicado alguns dos costumes dos lobos, incluindo tudo sobre o emparelhamento, facto um pouco estranho para mim, o facto de se morderem e de não se importarem de andar nus por ai, algo a que tenho de me habituar, julgo eu, ainda não sei se vou ficar, ou se sequer tenho essa hipótese, não me pareceu correcto importunar a Kora sobre esses assuntos na véspera do seu casamento, mas terei de falar com ela eventualmente. O encontro fora muito casual, pelo menos da minha parte, limitava-me a acenar com a cabeça e a concordar na maioria das coisas que a médica chamada Jane dizia. Eu não sou a melhor conselheira sobre roupas, até porque não é algo a que eu dou importância, limito-me a escolher algo ao calhas todos os dias do armário. E devido a essa falta de parte feminina, a Kora acabou por me emprestar um dos seus vestidos, que eu estava a vestir agora, não me sentia bem com ele acho que me fica demasiado pequeno, mostrando demasiada pele, o pequeno tecido branco colava-se a todo o corpo quase nem me deixando respirar como deve ser, porque concordei eu em trazer isto?

Fez-se silencio e uma musica começou a tocar, a multidão juntou-se e eu fui atrás. De um lado, num altar branco podia-se ver os dois irmãos, futuros alfas em pé. Estavam claramente nervosos, os seus corpos moviam-se para a frente e para trás e os seus olhos estavam fixos num sitio que eu não conseguia ver. Vestiam calças de fato pretas, os pés descalços e um blazer sem nada por baixo, deixando à mostra os seus músculos abdominais. Por trás deles estava o seu pai, o seu cabelo comprido apanhado num rabo de cabelo, a sua roupa mais formal, vestindo um smoking preto por inteiro que lhe assentava muito bem, sorria ao ver o estado dos seus filhos, talvez já tendo passado por algo parecido. Kora apareceu no lado oposto de onde eles estavam. Com apenas um vislumbre seu o silencio reinou. Ela estava linda mesmo. Trazia um vestido com um corpete preto com um pouco de decote e ornamentado com brilhantes, com uma saia rodada comprida que chegava ao chão, não trazia um buquê, afinal não nos podíamos esquecer que isto não é um casamento no sentido literal da palavra. Andava a passos lentos para os dois irmãos como se se quisesse lembrar de cada momento, como se quisesse decorar as caras de quem mais amava. Quando chegou perto deles, ambos lhe deram um beijo em cada lado da bochecha e sussurram-lhe algo ao ouvido, que a fez sorrir e viraram-se para o seu pai. Este falou alto para que todos ouvissem.

-Para se roubar um coração, é preciso que seja com muita habilidade, tem de ser vagarosamente, disfarçadamente, não se chega com ímpeto, não se alcança o coração de alguém com pressa. Tem de se aproximar com meias palavras, suavemente, apoderar-se dele aos poucos, com cuidado. Não se pode deixar que percebam que ele será roubado, na verdade, teremos de furtá-lo docemente. Conquistar um coração de verdade dá trabalho, requer paciência, é como se fosse tecer uma colcha de retalhos, tratar de um jardim ou cuidar de uma criança. É necessário que seja com destreza, com vontade, com encanto, carinho e sinceridade. Para se conquistar um coração definitivamente tem que se ter garra e esperteza, mas não falo dessa esperteza que todos conhecem, falo da esperteza de sentimentos, daquela que existe guardada na alma em todos os momentos. E quando esse coração for conquistado, o nosso passará a bater por conta desse mesmo coração. Eles sofrerão altos e baixos sim, mas com certeza haverá instantes, milhares de instantes de alegria. - Pessoas choravam com as suas palavras, e ele próprio já não falava tão decididamente como no inicio do discurso.

Beijou ambas as mãos da sua futura nora e acenou para os seus filhos, ambos de ajoelharam de cada lado dela, agarrando cada um uma mão, e falaram em sintonia.

-Se os teus sentimentos por nós continuam a ser os mesmos, diz-me. O meu afecto e os meus desejos não mudaram, mas uma simples palavra tua me silenciará para sempre. Se os teus sentimentos por mim mudaram, deixa-me apenas dizer-te que amarras-te o meu corpo e a minha alma a ti e que te amo, e que nada me fará separar de ti. Eu sei o que quero porque te tenho nas minhas mãos neste momento. E tu, sabes o que queres? Diz-me agora se sim ou se não. -As suas palavras eram faladas com firmeza, os seus olhos sempre fixos nos da sua amada. Quando as ultimas palavras foram proferidas, até eu sustive a respiração, era algo lindo de se ouvir, algo de aquecer o coração.

Kora falou com a mesma determinação que a dos irmãos, a sua voz a tremer um pouco.

-Prometo amar-vos, apaixonadamente e de todas as formas, agora e para sempre, prometo nunca duvidar que este é um amor para toda a vida, e prometo do fundo da minha alma, que se a vida nos separar, encontraremos um modo de nos encontrar, nesta vida ou na próxima.

Os irmão levantara-se e puseram-se ao lado da sua amada, encarando o seu pai, e disseram os três em uníssono.

-E se um dia eu hei-de ser pó, cinza e nada, que seja a minha última noite uma alvorada, em que eu me saiba perder, para me encontrar em ti.

O publico bateu palmas, assobiou e muitos estavam a chorar. Mas ainda não tinha acabado, os irmãos ajoelharam-se novamente ainda de frente para o seu pai e retiraram os seus blazeres, este com uma adaga escreveu Kora nos seus peitos, no lado do coração, era definitivo, o acasalamento era para a vida, e esta era a prova. Os irmão não tremeram enquanto a adaga trabalhava nas suas peles, pelo contrario, olhavam com orgulho a sua companheira, e quando acabou, levantaram-se e beijaram-na, um de cada vez, os seus sorriso mostravam a sua felicidade. E juntos, saíram do altar para receber as felicitações dos seus agora, protegidos, era uma nova etapa para eles, e para toda a alcateia que tem agora dois alfas.

Virei-me para ir embora, conviver com muita gente não estava nos meus planos para esta noite, e já tinha visto a parte mais importante da noite, ninguém iria dar pela minha falta por um par de horas. Encaminhei-me para o caminho que me levaria de novo à aldeia, quando senti uma presença atrás de mim, virei-me e, como não estava á espera de ter um corpo gigante à minha frente, desequilibrei-me e agarrei-me a algo sólido.Olhei para cima e dei de caras com o homem que tem aparecido nos meus sonhos, Mika. Os seus olhos penetrantes olhavam-me com suavidade e o seu agarre nos meus braços era gentil, quase imperceptível. Só dei conta de que o estava a tocar passado um momento, quando a surpresa passou, mas o mais estranho foi que não senti nada, nenhuma imagem me passou em frente aos olhos, nenhum calor, nada, simplesmente nada. Deixei os meus olhos fecharem-se por um momento, apreciando o contacto, a sensação de pele com pele. Quando abri os olhos, Mika estava a sorrir, a luz fazendo o seu cabelo brilhar, afagava-me os braços devagar, com medo da minha reacção, mas o seu olhar nunca abandonando a minha cara.

-Gostaria de te dizer alguma coisa bonita, mas neste momento só consigo pensar em comida. - O seu descaramento tirou-me uma gargalhada alta, que me trouxe lágrimas aos olhos.

Apertei-lhe os braços suavemente e afastei-me.

-Não era para onde eu ia, mas posso fazer um pequeno desvio. - Dei-lhe um pequeno sorriso e andei em frente, passando por ele.

Não precisei de olhar para trás para ver que ele me seguia, sentia o seu sorriso nas minhas costas e o seu olhar fixo. Enquanto andava para a tenda da comida, só conseguia pensar no seu toque em mim, no calor da sua pele contra a minha, e no quanto isso me tinha agradado, talvez ainda houvesse uma hipótese depois de tudo, mas bem, melhor não pensar demasiado.


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