Capítulo 38

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 Ela era louca, foi o único pensamento que me ocorria sempre que me relembrava das palavras dela, nada disto fazia sentido. Pressentia que algo estava correcto, que este não era o caminho a seguir, havia uma história naquela mulher, eu podia senti-lo, e ela não era pequena, isto vinha com segundas intenções.

-Então? Temos um acordo ou não? - Ela perguntou, a sua voz era calma e perfeita demais para a situação.

-Isso depende, vais-nos dizer quem és, e como soubeste deste lugar? - Daniel inquiriu-a, perscrutava-a com o olhar, tentado percebe-la. 

-Nada disso é relevante, o que é importante é que eu tenho informações que vos podem ajudar.

-Acho muito improvável, não é por vestires preto que te tornas um soldado - Joshua rosnou para ela.

-Talvez não, mas eu consegui muito mais do que vocês - Apontou para o caderno - Eu até vos trouxe um presente.

-Foste tu que puseste isto aqui? - Perguntei-lhe.

Ela olhou para mim sem dizer nada por um momento, sorriu largamente e cruzou os braços fazendo o seu peito subir, não que eu estivesse a notar - Eu pensei que precisassem de uma prova de que eu vos podia ser útil, eu não vos vou dizer aquilo que sei se vocês não me ajudarem, estamos todos aqui para o mesmo, certo?

-Talvez eu te possa fazer falar - Ameaçou o Daniel, expirando o fumo do cigarro que tinha acendido.

Ela não disse nada, limitando-se a olhar para todos nós, estes momentos de silêncio da parte dela estavam a deixar-me incomodado, eu não lidava bem com o silêncio, especialmente de estranhos, deixavam-me com vontade de gritar, de...

-O vosso amigo ali está muito calado, talvez ele tenha uma ideia diferente da vossa - Ela apontou para o Patrick.

Ele de facto não tinha falado desde que ela tinha chegado, o que era estranho normalmente uma presença feminina levava-o a falar e demais, se é que ele falava sequer, antes preferia usar o seu charme como ele o chamava. Tinha-se encostado à parede atrás de nós, oculto pelas sombras, não conseguia ver a cara dele, só conseguia perceber que tinha as pernas cruzadas e o corpo tão quieto que parecia petrificado. 

-Eu acho que talvez devêssemos ouvir o que ela tem para oferecer - A sua voz que veio daquele corpo soava diferente do habitual, ele não estava a fazer piadas nem a rir-se, soava séria pela primeira vez.

-O vosso amigo parece mais razoável.

-Espera até o conheceres melhor - Joshua cuspiu-lhe.

Olhei para ele inquirindo-o com o olhar, ele estava mesmo a considerar isto? Uma coisa era ficar a saber o que ela sabia, outra era ela ficar connosco e ajudar-nos, nós não precisávamos de ajuda, ela podia ficar ferida ou pior morrer, e a culpa seria toda nossa, não sei se conseguiria viver com isso. Ela já tinha tomado um grande risco em vir aqui ter connosco, e o facto de ela nos ter dado aquele caderno significava que ela sabia o que estávamos à procura, ela era obviamente um lobo o cheiro característico delatava-a, assim como os seus olhos brilhantes, mas de onde ela tinha vindo? E o que ela queria de nós? Olhei para os três na tentativa de saber o que eles achavam de tudo isto, o Joshua e o Daniel acenaram a cabeça em concordância, mas o Patrick ainda continuava oculto nas sombras, devia estar com os seus humores negros mais uma vez, ele às vezes parecia uma mulher naquela altura do mês, homem temperamental. Não recebi nenhuma resposta da parte dele, ou se ele deu alguma eu não consegui entender, mas não me importei, virei-me para ela que continuava no mesmo sitio, como uma estátua de carne e osso, os seus olhos penetrantes.

-Tudo bem, podes ficar connosco e ajudar-nos, mas primeiro o teu nome - Ela suspirou, o seu corpo instantaneamente relaxando, ela estava nervosa, notava-se, o que significava que ela era inteligente. 

A Sombra de KoraOnde histórias criam vida. Descubra agora